CAPÍTULO 5

Após o trabalho, eu sempre voltava pela mesma rua para chegar até o meu apartamento. Eu observava a loja de conveniência que ficava aberta vinte e quatro horas por dia para alimentar os jovens famintos que ainda procuravam por diversão. Era estranho como eles viam diversão até em comer.

Todavia algo fez com que eu aumentasse a velocidade dos passos ao entrar na trilha pela floresta - ela cortava a grande estrada até o condomínio. Chequei rapidamente a arma que carregava comigo na cintura e confirmei se meu celular ainda continuava no bolso da frente.

Os passos de quem me seguia ficavam tão rápidos quanto os meus, quando movimentei minha arma em direção a pessoa, pude ouvir uma voz familiar:

— Por que tão rápido? — perguntou, mas agora já estava com o meu corpo e minha arma apontada em direção a Erick que arregalou os olhos assustado com minha reação. — Sou eu... — sussurrou.

— Poderia ter se apresentado mais cedo — falei guardando a arma.

— Peço desculpas, não imaginei que você se assustaria — falou.

— Assustaria qualquer um que estivesse indo para casa sozinho.

Aproximou-se com passos apressados, e perto de mim, colocou suas mãos dentro de uma sacola que segurava, então estendeu para mim um picolé.

— Está se desculpando por não me dar carona?

— Na verdade, como estamos indo juntos, não poderia pegar um para mim e deixá-la desejando o meu.

Sorri e voltei a caminhar.

— Sempre tão cheio de respostas.

— Para melhorar tenho outras respostas — Erick abriu seu pacote do picolé, ofereceu a mim e pegou de minhas mãos o que ainda estava fechado. Esse homem ainda faria eu surtar com sua mudança de humor e educação. — Ou melhor, informação — corrigiu.

— Quais? — perguntei, fingindo não ter me abalado com sua repentina mudança.

— Fui procurar a respeito da vítima do caso que reabrimos e para minha surpresa houve uma solicitação referente ao DNA, foi feito o recolhimento e o teste. Mas, segundo o senhor Frederick, quem cuida agora desse departamento, todo documento desse caso desapareceu.

— Desapareceu? Como alguém conseguiria sumir com esse tipo de informação? Não foi seguido o mesmo protocolo que os demais?

— Essa é a questão — paramos em frente ao meu bloco. — Todo o protocolo foi feito corretamente, mas os arquivos a respeito não foram encontrados. Simplesmente desapareceu.

— Devo perguntar ao Queiroz? Ou melhor, como algo simplesmente desaparece? — perguntei, e Erick balançou a cabeça em negativo enquanto acabava de comer o último pedaço de seu picolé. — Qual sua ideia?

— Por enquanto, procurar mais alguém que estava nesse caso além de Queiroz.

— Eu conheço alguém de confiança na delegacia da outra cidade, posso ver se ela consegue algo a respeito — falei pensando em Helena.

Erick assentiu.

— Às sete — falou se afastando de mim.

— Hm... às sete? — perguntei mais alto para que ele me ouvisse.

Erick virou-se para olhar para mim e continuou andando de costas.

— Esteja aqui fora às sete, passarei pelo caminho da delegacia amanhã! — virou-se novamente e seguiu em silêncio sem esperar que eu falasse algo.

De fato, ele tem problema - pensei comigo mesma.

Como uma pessoa que adora aproveitar as caronas que a vida lhe dá, acordei mais cedo e me arrumei rapidamente, não tomei nenhum gole de café.

Esperei por Erick em frente ao meu bloco.

— Catarina?! — uma senhora, minha vizinha de apartamento, estava trazendo seu lixo para fora quando me chamou.

— Diga, senhora Miranda — incentivei sorrindo para a mesma. — Como a senhora está?

— Eu estou bem, estou preocupada com você.

— Comigo?

— Você sabe que meu filho a conhece, correto? – assenti. — E você sempre pega aquele caminho que corta por uma floresta — concordei novamente para que ela prosseguisse. — Meu filho estava fazendo uma caminhada pelo lugar e percebeu que alguém a seguia.

— Ah, era o detetive Erick, já briguei com ele por ter me assustado — expliquei, mas Miranda balançou a cabeça em negativo.

— Meu filho conhece esse detetive, ele comentou que esse homem que te perseguia saiu do caminho quando o detetive começou a seguir você.

— A senhora tem certeza disso? Pois foi muito rápido.

— Foi o que meu filho disse. Tenha cuidado, amada. Por mais que você seja uma policial, não ande a noite por essas trilhas e ainda mais sozinha.

Ouvi o barulho de buzina, dentro do carro se encontrava Erick que me fitava já impaciente.

— Obrigada por se preocupar. Tomarei mais cuidado.

Despedi–me da senhora e entrei no carro.

— Erick — falei seu nome e ele me olhou de canto de olho. — Você viu alguém me perseguindo ontem?

— Como soube disso? — perguntou. Suas respostas na maioria das vezes vinham como perguntas.

— Há momentos em que pessoas cuidam uma das outras.

— Eu não queria te preocupar com isso, mas de fato havia um suspeito com capuz que a perseguia. Na verdade, tentarei procurar por algumas câmeras de segurança para ver se consigo ver o rosto dele.

— Por isso essa carona repentina?

— Faremos assim até termos a certeza que você não corre nenhum perigo.

Eu sorri.

— Erick, eu sou uma policial.

— E corre perigo como qualquer outro cidadão — Erick parou em frente à delegacia e agora olhando para mim, disse: — Essa pessoa pode ser alguém comum, ou um ladrão qualquer, porém se ele sabia que você é uma policial e ainda assim te perseguiu, você de fato corre perigo. Ninguém vai perseguir uma policial por achar legal.

— Agradeço, mas não precisa se preocupar comigo — tirei o cinto para sair do carro, mas Erick segurou meu braço.

— Que horas você termina?

— Erick. Não. Se. Preocupe — falei cada palavra pausadamente o que o fez revirar os olhos e me soltar. Continuei sentada o encarando por alguns segundos até que o mesmo falou olhando para a estrada em sua frente.

— Não vai sair do carro?

Suspirei.

— Você precisa de um psicólogo, deve ter algum tipo de transtorno — saí do carro e bati a porta, Erick acelerou fazendo com que os pneus fizessem barulho no asfalto. — Onde encontro pessoas normais? — falei alto.

— Você não é normal, como quer andar com pessoas normais? — Henrique, meu colega de trabalho, falou se aproximando.

— E você está aqui comigo, então isso o faz anormal também — acusei.

— Oh, isso é verdade. Acho que devo parar de andar com você.

— Arrá! — gritei dando um soco em seu braço.

Se alguém estava atrás de mim, deveria ir atrás dessa pessoa? Quem se surpreenderia primeiro: eu ou esse suspeito?

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados