POV EMILLY
O sítio da Tia Celeste era o oposto do morro. Em vez de concreto e funk, havia terra vermelha, cheiro de mato e um silêncio esmagador. Duas semanas tinham se passado desde a fuga. Duas semanas de ar puro, galinhas e café forte, sem medo de ouvir o ronco da moto de Léo.
A Tia Celeste era a cara da Dona Andreia, mas sem a tensão nos olhos. Ela nos acolheu sem perguntas, sabendo que éramos foragidas por tabela.
Nossa rotina era simples: ajudar a Tia no quintal, lavar a louça, e tentar não pensar em quem havíamos deixado para trás. Eu me adaptava melhor do que Amanda. O jeito dela era de festa, de rolê na rua. O silêncio a estava consumindo.
— Não aguento mais ver galinha, Emy. — Ela reclamou uma manhã, enquanto eu colhia quiabo. — Essa vida é caô. Parece que a gente tá moscando no tempo.
— Pelo menos aqui a gente tá viva, Amanda. E ele não vai nos achar.
— Por enquanto. — Ela nunca tirava Léo da cabeça.
Eu sabia que ela sentia falta do Victor. E eu sentia o medo na garg