Antero
A luz do entardecer tingia de dourado os cômodos recém-preparados. Antero ajustava os últimos detalhes no quarto dos filhotes — o berço central, de madeira talhada com símbolos lunares, era ladeado por dois bercinhos menores. Cada um com seu próprio encanto: um coberto por tecido lilás com flores prateadas, outro com bordados de luas e lobos protetores. O do menino exibia um bordado firme e elegante de uma montanha cercada por lobos. Tudo escolhido por ele com a mesma reverência de quem prepara um santuário.
Ele alisou uma manta com dedos trêmulos.
A dor vinha em ondas silenciosas. A culpa, então, era um oceano que ele mal conseguia nadar.
— Você ainda acha que isso vai consertar algo? — a voz de Amiel veio firme da porta.
Antero não se virou. — Não. Mas talvez amenize. Um pouco. Pra ela... e pra mim.
Amiel entrou, encostando-se à parede. Os olhos verdes percorriam o quarto com cautela, como se temesse se desfazer com um único gesto.
— Eu devia ter sentido. Devia ter ar