O hotel era barato, com paredes descascadas e um cheiro de mofo entranhado nos tapetes. Daniel, Clara e Carlos ocupavam dois quartos interligados, as cortinas fechadas, a televisão ligada em volume baixo para abafar qualquer conversa.
Carlos jogou as chaves do carro na cama.
— "O tio José sumiu. Disse que 'ajudou demais' e agora a gente se vira."
Daniel não se surpreendeu.
— "Já assinei os papéis da casa. Ele tem a posse. Não vai voltar atrás."
Clara, sentada no canto da cama com os braços em torno das pernas, levantou os olhos.
— "E meus pais?"
Daniel respirou fundo.
— "Mandei dinheiro para eles fugirem. Estão a caminho do Uruguai."
Ela fechou os olhos, aliviada.
Carlos se levantou, esticando as costas.
— "Eu preciso ficar na cidade."
Daniel olhou para ele, confuso.
— "Por quê?"
— "Processo, irmão. Se o Eduardo acionar a justiça, alguém tem que responder. José não vai se entregar, então..." Ele encolheu os ombros. "Melhor eu do que vocês dois."
Daniel engoliu seco. Sabia que Carlos e