Vingança A Luz Do Luar
Vingança A Luz Do Luar
Por: J. Landim
Prólogo

Camille Larsen

Ainda consigo me lembrar vividamente do dia em que tudo começou, do momento em que pisei naquele palacete, no início da minha ruína.

As mãos delicadas de Helen Wills apertavam as minhas, e eu sentia o medo pulsando em minhas veias. Helen, a irmã mais velha de minha falecida mãe, era uma das últimas pessoas vivas de minha família, de nossa linhagem.

— Eu estou com medo, tia Helen… — sussurrei, a voz trêmula.  E ela me lançou um olhar severo.

— Deixe de frescuras, Camille — retrucou ela, com firmeza. — Não temos escolhas. Não há mais lugar para você em nossa casa. Seus pais morreram, e você sabe qual é o seu dever como ômega, como a última herdeira dos Larsen.

Eu era apenas uma criança, mas compreendia as palavras que saíam da boca de Helen, era como se fossem um feitiço, ela as repetia todas as noites, antes de eu dormir, como se quisesse gravá-las em minha mente. A sobrevivência de nossa linhagem dependia de procriação, mas não com qualquer pessoa. Apenas com aquele que detivesse mais poder: um Alfa da família Imperial Yanes.

— A partir de hoje, você viverá com a família dos condes Ingraf — anunciou Helen, praticamente me arrastando pelo jardim. — Crescerá junto a suas filhas e aprenderá seus costumes até que chegue a hora de seu casamento. Como a última jovem dos Larsen, você precisa nos honrar.

Ela parou abruptamente, segurando meus pequenos e frágeis braços com força. Seus olhos me encararam de forma impiedosa.

— O futuro de nossa família depende de você — sussurrou. — Você tem noção de como isso é importante? De como sua mãe ficaria orgulhosa?

Não havia um dia sequer em que eu não lembrasse daquelas palavras.

Mamãe… será mesmo? Você realmente ficaria orgulhosa de mim agora?

— Por favor, vossa majestade, fique acordada… continue fazendo força, logo o bebê irá nascer… — A voz aflita da parteira arrastou minha consciência de volta ao presente, e eu continuei, gritei e agarrei forte a cabeceira da cama enquanto fazia força, meu corpo tremia como se fosse sucumbir, era doloroso demais, sofrido demais, e mesmo já conhecendo aquela dor, tendo passado por aquele inferno outras vezes, eu sabia que podia piorar, que não tinha dor pior no mundo do que pegar seu filho falecido nos braços.

Eu rezava todas as noites por eles, para estarem bem junto a Deusa. 

Eu orava todos os dias antes de dormir, clamava a lua para que me abençoasse, que me permitisse ouvir o choro vivido de cada filho que eu carregava em meu ventre, era tudo que eu queria, pois eu sabia que só seria realmente feliz quando isso acontecesse.

— Força! Já estou conseguindo ver a cabeça! — Estava tudo enlaçado à minha volta, minha força parecia querer desaparecer, e a única coisa que me mantinha consciente era ele, meu filho, a vontade de tê-lo em meus braços. 

Minhas unhas cravavam cada vez mais na madeira a medida que as contrações vinham, e quando eu pensei que não daria conta, quando eu imaginei que fosse tarde demais, pude ouvir o som que tanto sonhei, era como se a dor sumisse junto ao peso que martelava meu peito, eu sorri, e aquelas lágrimas que escorriam em meu rosto não eram mais de dor.

— Meu filho… Meu pequeno filhote… — Eu sussurrei fraca, quase implorando, esticando meus braços para segurá- lo, e quando ele foi posto sobre mim, entendi que aquilo que eu sentia, era amor de verdade. 

Seu choro era cheio de vida, assim como sua pele era rosada e viçosa, meu bebe estava vivo, e era saudável, um belo garoto cheio de saúde, e o próximo herdeiro na linha de sucessão.

Assim que meus olhos repousaram sobre ele, eu senti paz, seus pequenos olhos se abriram e então se encontraram com os meus, e naquele instante ele parou de chorar, foi como se ele me reconhecesse, como se ele soubesse quem eu era. 

Eu queria sorrir, gargalhar, levantar daquela cama ensanguentada e dançar de felicidade, mas havia algo errado, algo que eu não havia reparado antes, talvez por conta da euforia, mas olhando novamente ao redor, com atenção, eu podia ver expressão de espanto no rosto de todos que estavam ao redor, das parteiras, dos sacerdotes e dos serviçais. 

Diferente de mim, eles não pareciam felizes, e no lugar de um sorriso, era possivel ver preocupação estampado em seus rostos.

— Chame sua majestade Imperial rápido… diga a ele que seu filho nasceu… — O sacerdote do templo de Oblyo falou com a voz trêmula, como se as palavras tivessem arranhado sua garganta, ele se virou para mim, e eu então pude sentir, a dor… Ela não havia passado, e apenas de olhar para a face apreensiva dele, me fazia ter mais certeza ainda, que algo estava muito errado.

Eu fechei meus olhos, apertando forte meu filho contra meu corpo, sentindo seu calor, sua respiração, e rezei novamente, clamei a Deusa com todas minhas forças para que tudo ficasse bem, que ela me curasse e permitisse que eu pudesse ter o prazer de viver com aquele pequeno ser abençoado, mas diferente do que pedi, não foi ela que veio até mim, e sim aquele maldito sacerdote, que arrancou meu pequeno filho de meus braços, como se ele nunca tivesse pertencido a mim.

— O Império agradece, vossa majestade imperial, somos todos gratos pelo seu sacrifício. — Ele falou cabisbaixo, fazendo uma reverência, assim como todos os outros que estavam presentes naquele imenso quarto decorado, e minha cabeça rodopiou.

— Por favor… Devolva meu filho.. — Eu falei indignada, ainda sem entender o'que tudo aquilo significava.

Gratos? Sacrifício? Aquilo só podia ser uma piada, uma brincadeira de muito mal gosto.

Somente quando ele recusou a entregar o meu bebe, e eu insisti em levantar, que eu soube.

— Minha Lady.. Não faça muito esforço… dessa forma seu tempo irá encurtar.. — Uma das parteiras me segurou, me impedindo de cair no chão por conta da fraqueza, e ao olhar sobre a cama pude ver que ela estava mais molhada que antes, mais tingida de vermelho. 

O sangue não parava de escorrer.

— Eu.. Vou ficar bem… — Eu gritei ferozmente, com o resto das forças que me restavam — Agora, me entregue meu filho! — Eu estendi meus braços, aguardando meu filhote, mas tudo ficou silencioso, era como se eu não tivesse mais voz ali, eles apenas me olhavam como se eu simplesmente não tivesse mais nenhum poder, o único que parecia se importar, era meu bebê, meu filho… Alexandre… Esse seria seu nome.

Desde que ele havia sido tirado de meus braços não parava de chorar.

— Querida Camille, oque está fazendo? Você precisa descansar.. — Uma voz familiar soou através da porta, o'que fez meus olhos seguiram quase que automaticamente, e eu pude ver Lindsey Ingraf, uma das filhas do Conde do palacete em que cresci, ela estava bem vestida, com um caro e luxuoso vestido incrustado de pedras preciosas, era como se ela estivesse pronta para um baile da nobreza, e a seu lado, estava Adiel Viegas, o Imperador do reino de Lyra, meu marido.

Os dois estavam lado a lado, de uma forma que se eu não os conhecesse bem, diria até mesmo que eram amantes.

Eu me recusei a acreditar há muito tempo, me mantive cega, pensando que talvez tudo não passasse de delírios da minha mente fértil, mas eu estava enganada, tudo aquilo era tão real quanto o sol e a luz do dia.

— Sua majestade Imperial.. — O velho sacerdote se virou em direção à porta, tão surpreso quanto eu, e reverenciou, estendendo seus braços segurando meu pequeno Alexandre, mostrando ele a seu pai.

Adiel sequer me olhou, apenas seguiu até o velho, pegando o bebe nos braços, já eu, era como se eu fosse invisível, como se não passasse de um dos demais objetos e moveis daquele belo aposento, ele sequer olhou para mim.

— Querido… ele é sua cara…—  Lindsey falou, agarrada ao braço de Adiel. Ela olhou diretamente para mim, com um sorriso no rosto, um sorriso que eu conhecia bem o significado.

— Adiel?! Oque isso significa? — Eu gritei ainda ofegante, sentindo minhas forças se esgotando, minhas pernas ficando cada vez mais bambas e minha visão turva. — Oque Lady Lindsey está fazendo no palácio? — Eu usei o resto de minhas forças para questionar.

Não podia ser verdade, tudo aquilo, todas aquelas vezes que desconfiei dos dois, só podia ser invenção de minha mente… Não podia ser real…

— Camille… Não faça alarde… — ele me olhou de forma fria, com aquele mesmo ar arrogante de sempre, — Já fui informado sobre sua situação… Infelizmente.. Não há nada que possamos fazer… — Ele continuou, mudando seu olhar para o bebê, que agora parecia ter se acalmado. — Pelo menos dessa vez, você fez seu trabalho direito.

Quando ele disse aquelas palavras, foi como se uma lança me atravessasse, e minha alma fosse jogada no mais profundo e frio oceano.

— Eu fiz? Meu trabalho direito? — Eu repeti aquelas palavras com receio de ouvir uma resposta.

Meu corpo já não suportava se manter de pé, e então eu caí na cama novamente, na mesma poça carmesim a qual estava deitada antes.

— Esse era o único motivo de você estar aqui.. Sua única função, e sendo sincero.. Eu quase pensei que você não conseguiria.. Já estava cansado de esperar, cansado de ouvir seus lamentos, suas desculpas, pelo menos dessa vez você conseguiu. — Meu corpo congelou, e ouvi-lo soltar aquelas dolorosas palavras só fazia meu corpo gelar ainda mais. 

— Você disse que me amav.. — Antes mesmo que eu pudesse terminar a frase, Adiel me interrompeu, e um nó tampou minha garganta.

— Nunca se tratou de amor… você sempre soube de sua função — Adiel falou, com toda autoridade que tinha, como se não quisesse me ouvir, como se não quisesse que os outros ouvissem.

— Você disse que me AMAVA! Nas noites que passamos juntos, nos jantares e nos bailes… você disse.. — Senti a raiva sobre minha pele, minha respiração ficar pesada.

Não podia ser real, minha vida inteira servindo a um império e imperador que achei que me amasse, que se importava comigo. 

Agora eu enxergava, ele não me amava, ele nunca me amou. 

Meu mundo parecia estar sendo engolido pela escuridão, e tudo que eu achava saber, se tornou em um enorme ponto de interrogação.

Antes que tudo ficasse escuro, antes que o som do choro do amado filho sumisse da minha mente, pude ver Camille se aproximar de mim, e com o pretexto de se despedir, de me dar um beijo de despedida, ela falou em ouvido. — Se não fosse sua linhagem… se não fosse seu maldito sangue dourado, seria eu a mãe dessa criança.. Agora, morra! E veja, independente de onde sua alma esteja, enquanto seu corpo apodrece esquecido debaixo da terra, eu criá-lo como se fosse meu. 

Eu queria gritar, queria avançar naquela desgraçada que se dizia ser minha irmã e rasgar sua garganta. Eu deveria ter percebido, todos aqueles conselhos amaldiçoados, todas aquelas opiniões que só me faziam sofrer, ela tinha feito tudo aquilo de propósito, desde o início.

Se eu pudesse voltar

, se a Deusa me permitisse mais uma chance, eu faria de tudo para ter meu filho de volta.

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