Vermelho - Um Amor de Sangue
Vermelho - Um Amor de Sangue
Por: Juck Olegário
Prólogo - Canção da Morte

Um dia, peguei-me fazendo uma pergunta. Será que os vilões poderiam ter um final feliz? Mas, outra pergunta me surgiu. Qual seria o final feliz de um vilão? Vencer finalmente aqueles que atrapalham seus planos? Contos, livros e filmes determinam que eles, (os malfeitores) precisam morrer ou serem humilhados, para pagarem por tudo de ruim que fizeram. Interessante, muitos não pararam para pensar se os vilões já nasceram assim, domados pelo ódio.

Sempre vão existi aqueles mocinhos heroicos (irritantes) que transformam uma simples e linda borboleta em um feroz e brutal dragão que simplesmente estava adormecido. Perdoe-me se meus pensamentos estão errados, e perdoe-me também se o que escrevo aqui lhe mostra que sou um admirador de vilões - não deixa de ser verdade -, mas creio que se você parar e pensar em todos os livros que leu, filmes e series que assistiu, vai reparar que os famosos malfeitores, tiranos, bruxos e feiticeiros, tem bastante classe.

A história que contarei aqui não é um “era uma vez”, muito menos sobre algum mocinho, um bravo e corajoso Príncipe ou alguma Princesa indefesa, mas sobre uma criança, uma jovem, uma mulher, que nasceu, cresceu e sobreviveu em uma situação caótica. Porém, essa pessoa não se tornou uma fraca tola e sim uma temida mulher determinada a encontrar seu verdadeiro final feliz para sempre.

Contudo, para que tenham um maior entendimento de todo o desenrolar dessa mágica trama, preciso retroceder e dar um novo inicio a ela. Não voltaremos muito no tempo, apenas alguns meses antes do primeiro capitulo, em um lugar distante, desconhecido pelas mentes fechadas e cobiçadas pelas abertas. Eram terras frias com tonalidades marcantes, o marrom lamacento se estendia por toda parte, recebendo visitas de folhas secas de árvores que morriam lentamente, agonizando e cantando seu lamento com a brisa gélida e fedida que bailava sem medo.

Esse lugar era apenas uma parte do Vestra Mundo, uma dimensão diferente da nossa, - paralela -, em que a magia era real.

E em busca dessa realidade, ela caminhava tremula de frio e de medo, com seus grandes olhos correndo para todos os lados, imaginando monstros, ouvindo vozes não ouvidas e vendo seu fim distante. Usava um longo vestido verde já sujo de lama e estava coberta por uma capa preta, com furos, florescendo o seu estado deplorável.

Seus pés queriam parar e sua voz gritar, mas seu coração palpitava freneticamente rezando por uma solução. Então ela prosseguiu, aprofundou-se mais e mais naquela floresta morta, enquanto as estrelas brilhavam para outra direção. O que lhe salvara da profunda escuridão, fora o lampião que carregava em uma de suas mãos, iluminando vestígios de caminhos.

A mulher talvez estivesse arrependida, mas chegou tão longe e saber disso a motivava a lutar pelos seus sonhos..., mas ela não sabia que ali seria o fim de todos eles... ou realmente uma porta para um início... um novo início.

Pensou com lágrimas nas guerras que os Reinos estavam enfrentando e que breve poderia ser o seu. Pensou em como queria mudar a sua vida e de sua família... sim, era por eles. Era por amor.

Suspirou aliviada quando avistou uma luz de fogueira dançar um pouco distante. A medida que acelerava seus passos cansados, ela ouvia vozes, as vozes que queria ouvir, mas que muito temia. Ela não compreendia o que as vozes diziam, mas sabiam que elas cantavam.

Mais próxima, conseguiu acertar que eram três distintas. Uma rouca, uma esganiçada e outra áspera. Era uma conversa cantada e não muito rimada, mas era de arrepiar. As vozes pertenciam às lendas que a mulher procurava para tecer linhas para seu destino, conhecidas como Bruxas Sororibus, que significa, irmãs.

Para alguns entendidos, elas se assemelhavam as Moiras na mitologia grega e as Parcas na mitologia romana, não pela aparência, mas pela história. Eram as três irmãs, filhas da noite, que determinavam o destino, tanto dos deuses, quanto dos seres humanos.

Elas dançavam ao redor de uma fogueira que “nequíciava” suas aparências. Eram seres indefiníveis, esquálidas e estranhas, com cabelos grisalhos.

Havia sons de tambores, que acompanhavam o ritmo da dança das irmãs, mas não havia sinal algum de instrumento no local. Então, para obscurecer mais ainda a performance das Sororibus, raios e trovões se faziam presentes, anunciando uma chuva que nunca chegou.

– Quando estenderemos a mão e parar a chuva, raio e trovão? – A bruxa de voz rouca cantarolou.

– Depois que queimar a palha e vencerem essa batalha. – A bruxa de voz esganiçada respondeu saltando.

– Brevemente então, irmãs, sem falha. – A bruxa da voz áspera afirmou.

– A gente esperou e a visita chegou. – A primeira bruxa, rodopiou e olhou para a mulher que acabou de chegar.

– Onde? Onde? Onde? – As outras duas se agitaram perguntando, olhando de um lado para outro, até que seus olharam pararam na mulher que nada entendia.

– Aqui na morta charneca, bisbilhotando nossa discoteca. – A primeira bruxa de voz rouca sussurrou inclinando seu corpo ficando um pouco corcunda.

– Que desprazer a ter aqui, nem pude arrumar meu cabelo de Mapuxiqui. – A segunda bruxa acariciou seu cabelo grisalho.

– Deixe de maldizer, irmã, temos a mocinha a nosso bel-prazer. – A terceira áspera, se aproximou e as outras duas a seguiram.

O arrependimento que a mulher exausta sentia, estava maior e evidente. Seus olhos ardiam de lágrimas presas e tudo que ela mais queria fazer, era mover seus pés e correr para longe das bruxas esquálidas que lhe encaravam e se aproximavam.

– Diga! – As três bruxas bradaram em sintonia.

– Diga! – Repetiram mais violentas, respondidas pelo trovão que urrou no escuro céu.

– DIGA! – Se esgoelaram enfurecidas, fazendo o chão tremer e a mulher amedrontada saltar e chorar.

Ao perceberem a cena molhada, as bruxas pararam, observaram e gargalharam. Elas se divertiam, riam, choravam, se esperneavam, dançavam e paravam para fitarem mais uma vez a visita que aos poucos se afastava.

– Não vá, só queremos aproveitar. – A primeira bruxa segurou os braços de suas irmãs, controlando-as.

– Só preciso de ajuda! – A mulher finalmente conseguiu dizer algo, mesmo em meios aos prantos desesperados.

As bruxas controlavam os risos e fingiam se compadecer com a súplica da visita. Abafavam suas piadas e pensavam em como prosseguir sem fazerem gracinhas. Então elas giravam ao redor da mulher, analisando-a, olhando-a de cima a baixo, verificando seu destino.

– Eu sou Fulana! – A bruxa de voz rouca apresentou-se.

– Eu sou Siclana! – A bruxa de voz esganiçada fez o mesmo.

– Eu sou Beltrana! – A última bruxa, de voz áspera, também.

E então pararam, cada uma em uma posição teatral, e assim permaneceram, até a mulher olhar para cada uma delas.

– Como deseja nossa ajuda, coração que braveja? – Fulana questionou em um sussurro quase inaudível. Ela estava engasgada, mas era muito orgulhosa para tossir na frente de visitas.

– Diga! – Siclana e Beltrana sussurravam em sincronia.

Aquele era o momento em que a mulher tanto esperava. As lendas estavam ao seu redor, esperando um pedido, esperando palavras para tornarem realidade. Ela tinha receio de proferir as erradas e tudo dar errado, então enquanto olhava para cada uma bruxa que constantemente trocava de posições performáticas, ponderava.

– Tempo podemos até ter tempo, mas pode haver contratempo. – Beltrana apressou a mulher e em seguida cuspiu no chão. Suas irmãs riram. – Eu quero que minha família tenha uma vida melhor. – A mulher desejou com todas as forças, com toda fé que ainda lhe restava.

Os raios e trovões, assim como os tambores se silenciaram. As 3 Bruxas Sororibus se ergueram, consertando suas posturas e já não estavam mais brincalhonas e sim sérias. Mais assustadoras.

– Mulher de sofrimento sem igual, fez um pedido genial. – Fulana murmurou.

– Veio silenciar uma dor, mas fará um favor.  – Siclana anunciou.

– Sua vida entregará, em troca do que veio buscar. – Beltrana finalizou.

– Preciso morrer para que minha família seja feliz? – A mulher questionou perplexa. – Sim! – As Sororibus afirmaram juntas.

Ela chegou até ali, não queria voltar de mãos vazias, não queria jogar fora um proposito e um sonho, mesmo que custasse a sua miserável vida.

– E que garantia eu tenho? – A mulher indagou perdendo seu medo, convicta que finalmente daria um final feliz para sua família, mesmo que sem ela.

– Sua filha, a menininha, ela será um dia rainha! – As Sororibus em uma bizarra concomitância, fizeram suas vozes ecoarem pela floresta morta.

A mulher que estava prestes a entregar sua vida para as irmãs bruxas, sentiu seu corpo se arrepiar e estranhamente, sabia que elas estavam dizendo a verdade. Não sentia medo e sim alegria, por saber que um dia sua menina se tornaria o que ela não foi um dia. A mulher abriu um sorriso que carregava lágrimas, que deslizavam cristalizando em sua face pálida já não mais assustada.

As bruxas salivavam, esfregavam suas mãos, estavam nervosas, ansiosas, desejosas.

– Tudo bem, eu aceito! – A mulher então decidiu entregar-se. – Um beijo darás em cada uma nós, para selar o quem vem após. – Beltrana declarou com alegria.

Como pedia o ritual, a mulher que se entregou a morte para realizar um sonho, beijou cada uma das bruxas. Não havia nojo e nem repulsa, apenas esperanças de que tudo estava indo bem. Quando suas bocas se afastaram, a visita que pensava que jamais retornaria, abaixou sua cabeça em submissão, retirando o capuz, revelando seu grande cabelo vermelho como fogo.

Os olhos das bruxas brilharam.

– Volte para seu lar, mulher que parou de chorar. – Fulana ordenou tornando a ficar corcunda.

– Eu não morrerei? – A mulher indagou confusa.

Fulana tirou de dentro do seu emaranhado cabelo grisalho, uma boneca de pano e entregou a sua segunda irmã.

– Não aqui! – Siclana bradou entregando a boneca a sua terceira irmã.

– Não assim! – Beltrana vozeou entregando a boneca a mulher desnorteada.

– Agora vá! – As Sororibus urraram irritadas, expulsando a mulher para longe de suas terras.

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