01 - A Escolhida

Carmim... Reino das Rosas, mais um no imenso Vestra Mundo. Regido por uma Monarquia Constitucional, seguia seus dias temendo o pior: a guerra! Porém, não pararam com suas vidas e são sobre elas que quero falar. Na verdade, é apenas sobre uma, a protagonista da história e como consequência contada, outros se envolverão para ladrilhar seu caminho.

Isabelle ainda era pequenina, tinha apenas 08 anos de idade quando ganhou sua primeira boneca de pano que felizmente substituiu a de palha. Aquele sorriso que se formou no rosto da criança, foi o momento mais lindo para a família. A felicidade invadiu seu pequeno coração, pois, ganhar uma bonequinha de pano na situação que seus pais se encontravam, era como ganhar um belo banquete.

Algo começou a preocupar e incomodar, mas não sabiam eles que era o destino em ação. A felicidade da garota que outrora se mostrava radiante, não fora duradoura. Uma onda enorme de tristeza e medo rompeu seu peito e penetrou em seu miúdo coração. Sua mãe estava gravemente doente, o curandeiro local não conseguia encontrar a cura para sua enfermidade misteriosa. Poucos dias de vida e pouca força para manter a felicidade de sua filha.

O pai de Isabelle, José Simmon, um mercador, gastou todas as suas pobres economias para buscar poções. Ele queria salvar a mulher que muito amava. Perder sua esposa seria como perder metade do seu coração, a única mulher que um dia lhe olhou diferente, com um olhar apaixonado.

Nada estava adiantando, qualquer tentativa estava sendo em vão.

Ninguém pode simplesmente escapar da morte quando ela o escolhe.

O tempo se findava tão rápido... cada dia que passava, era como horas e minutos em velocidade máxima. A mulher enferma fechou seus olhos cansados e avermelhados, suspirou profundamente e adormeceu para sempre, deleitando-se em uma imensa escuridão fúnebre.

Quão grande é a dor de perder alguém tão amada? Só aquele que já perdeu pode responder essa pergunta. Aquele que nunca experimentou algo tão intenso, assim teriam todas as suas palavras de condolências como banais.

Isabelle se agarrou a sua bonequinha encardida com os cabelos de cordões amarelinhos e continuou a chorar angustiantemente. Seu pai, mercador de ervas, fora trabalhar. Alguém precisava colocar pão dentro de casa. A criança sentia-se sozinha, mas suas lágrimas derramadas não estavam resolvendo nada, não estava trazendo sua mãe à vida. E o que ela deveria fazer de verdade, era superar e segui em frente.

Quando Isa não estava em casa trancada brincando sozinha, ela saia um pouco para ver as ruas e as pessoas. Ela via mães brincando ou brigando com seus filhos, o que fazia seus olhinhos se enxerem de lágrimas. Então ela se afastava dos gatilhos de boas memorias que lhe causavam mal.

– Isa... Isa... Isabelle! – Uma voz comprimida chamava a menina que corria. Ao ouvir, ela parou, se virou e encarou a mulher que se aproximava.

– Oi Senhora Rut. – Isa sussurrou um pouco tímida abaixando seu olhar.

– Cadê seu pai? – Senhora Rut perguntou pendurando um pano em seu ombro.

– Está na feira. – Isa respondeu e deu as costas para se afastar da mulher.

– Isa, para onde vai com tanta pressa? – Senhora Rut questionou curiosa, impedindo a Isabelle de prosseguir.

– Só estou passeando, Senhora Rut. – Isa parecia um pouco inquieta.

Isabelle não gostava da Senhora Rut. Achava que ela queria se aproveitar do José, já que ele estava solteiro. Isa sabia que era normal os adultos se unirem para construírem novas famílias, mas ela sabia mais ainda que estava muito cedo e recente para isso acontecer.

Todas as vezes que olhava para a Senhora Rut, Isa via uma mulher escondendo um lado rabugento, que andava para cima e para baixo com uma touca na cabeça e um pano pendurado no ombro, fazendo um biquinho cheirando seus lábios finos.

A mulher não perguntou e nem falou mais nada, mas Isa ficou um tempo parada, olhando para seus pés descalços esperando algumas palavras. Quando percebeu que a Senhora Rut se afastou, Isa deu as costas e tornou a correr, até chegar a um pequeno campinho de barro, em que algumas crianças corriam de um lado para o outro, uma tentando pegar a outra.

Isabelle gostava muito de brincar com eles, mas não se sentia animada, mas queria apenas assistir, então buscou um banquinho para se acomodar, sozinha. Alguns dos seus amigos acenaram para ela, que retribuiu um pouco sem graça.

Não demorou muito para uma sirene soar pela cidade, chamando a atenção de todos. Eles sabiam do que se tratava. As crianças gritavam felizes e corriam para suas casas. Isa se levantou frustrada, não queria que chegasse esse momento, mas era necessário e sentia-se obrigada, então, com passos arrastados, voltou para seu lar.

Era aproximadamente meio dia, quando Isabelle chegou em casa e encontrou seu pai arrumado e preparando o almoço.

– Brincou hoje, Isa? – José Simmon perguntou com um sorriso ansioso.

Sua filha balançou a cabeça negando e correu para o quartinho, onde se arrumaria para o que lhe esperava.

– Pai, você viu minha bonequinha? – Isabelle gritou após se arrumar, olhando debaixo da caminha de madeira, mas não encontrava nada.

– Aqui, filha! – José Simmon gritou em resposta da pequena salinha. A menina correu ao seu encontro, agarrou sua preciosa e a abraçou forte. Única coisa que lhe lembrava a sua mãe. – Cuidado para não a perder, querida. – O homem sussurrou, dando um beijo na testa da garota. – Você está linda, Isa. – Sussurrou novamente, dessa vez estava a observando por inteira.

A menina usava um vestido até os joelhos, branco com alguns bordados de flores, com uma fita na cintura fazendo um lacinho lateral. Estava pronta para se reuni às outras garotas na Praça Central para o momento mais esperado de todas. Elas queriam ser escolhidas para trabalhar no palácio, mas Isa não estava confiante e muito menos gostando da ideia, mas tudo que ela mais queria era mais uma vez, encontrá-lo, olhá-lo novamente, observar seu sorriso, sem que fosse de tão longe... Sim, estou falando de uma pequena paixonite de infância.

José conseguiu uns trocados para comprar arroz. Foi o que comeram, arroz puro, o que não deixava de encher suas barrigas e os deixarem satisfeitos.

Isabelle segurou na mão do seu pai e os dois saíram caminhando pela rua com passos apressados, não queriam se atrasar, queriam pegar a Cerimônia do princípio. Ao chegarem ao local, estava tudo tão aglomerado, como aqueles famosos shows pop, algo que nem sonhava em existi nessa dimensão. Eram todos os Ducados de Carmim reunidos.

Muitas garotas e garotos com suas melhores roupas ansiosos para serem selecionados a trabalharem com a realeza, limpando o palácio, lavando cavalos, ajudando na cozinha. Eles simplesmente queriam entrar no castelo, era o sonho de consumo de qualquer um com vida pobre e miserável, pois lá dentro de certa forma eles encontrariam luxos.

– Papai, meu vestido... Papai, meu vestido está rasgado. – Isabelle se desesperou quando viu um pequeno furo na manga esquerda.

– Ninguém verá, querida. Fique tranquila, você está linda.

No centro da praça jazia uma grande fonte e sobre ela, uma estátua. Um nobre homem sobre um cavalo erguendo uma espada vitorioso e ao seu lado, em pé, uma linda mulher com um longo vestido e com uma coroa, segurando uma rosa. Mais adiante, havia um palco de concreto com um longo tapete vermelho o cobrindo por completo. Então gritos ecoaram pelo local, as meninas da frente estavam diante da família real e de sua cavalaria.

O pai de Isabelle a pegou e a colocou em seu pescoço para melhor vê, e então ela o viu, ali, montado em um cavalo branco sorrindo e acenando. O pequeno Príncipe desceu de sua montaria juntamente com a Rainha e o Rei; subiram no palco. Vivas e aplausos tomaram posse do local, mas Isa não queria saber da Família Real e sim do seu Príncipe encantado que continuava sorrindo. Um garoto magro, pele alva e limpa, olhos puxados e azuis, cabelo loiro longo e liso. Aos seus olhos, um verdadeiro garoto perfeito.

O Rei tomou dianteira e começou a discursar.

– Queridos súditos leais, hoje é mais um dia de gloria, em que comemoramos mais um aniversário de vitória. Hoje foi o dia em que ganhamos a grande guerra para a liberdade. Hoje fazemos 25 anos de muita luta e batalha, erguidos e fortes, sempre. – Pausou seu discurso quando todos começaram os “vivas” novamente. Ao se acalmarem, o Rei voltou a bradar. – Como de costume, iremos escolher mais de vocês, para trabalharem e crescerem no castelo. – Mais uma vez fora interrompido pela agitação da multidão. – Agora começa o nosso Vigésimo Quinto Aniversário de Conquista Libertária.

O momento que todos estavam esperando. Um senhor franzino, pele branca enrugada se aproximou do Rei, segurando um longo pergaminho e uma pena de escrever. Ele usava vestes longas e escuras e na sua careca jazia apenas uma pequena mecha de cabelo no centro, formando um rabo de cavalo. O mestre olhou para os súditos, como se pudesse ver a alma de cada um, como se soubesse a vontade e o desejo de cada garota, garoto, homem e mulher. Olhou para seu pergaminho e depois voltou a policiar o local.

– Você! – Apontou para uma mulher alta, cabelo curto e negro, sua pele era queimada de sol e seus olhos grandes e brilhantes, castanhos. A mulher levou sua mão à boca como se abafasse o grito de alegria e se aproximou. O mestre voltou a olhar em volta, passou seus olhos por Isabelle e seu pai, a garota sentiu seu coração gelar, pensando ela que seu pai seria escolhido, mas ele apontara para um homem alto e forte. – Você! – O escolhido se aproximou impassível, sem demonstrar alegria alguma ou até mesmo desagrado. – Você! – Dessa vez apontou para um garotinho, pequeno de olhos fundos e assustados que se aproximou do local tremulo. Agora só restava a garota, mas não demorou para o mestre apontar e bradar. – Você! – Todos olharam para trás, e todos os olhares estavam voltados para ela... Isabelle.

Parecia até cômico, um velho com apenas um rabinho de cavalo na careca apontar para alguém e dizer, você. Mas, seria tudo isso apenas uma escolha qualquer? Creio que ninguém se perguntou por que um pergaminho na mão. Mas ninguém também poderia contrariar a sabia escolha de um grande ancião.

O Pai da garota começou a caminhar lentamente com ela ainda em seu pescoço pelo corredor que abriram. Ao chegar próximo ao palco, a colocou no chão e se agachou olhando em seus olhos marejados.

– Pai, por favor, não quero ir, quero ficar com você. – Implorava chorosa, mas ele parecia estar feliz, assim como qualquer outra pessoa ficaria se fosse escolhida.

– Filha, isso era tudo que sua mãe queria, você vai poder ter uma vida boa, trabalhando no castelo. Confie em mim, você vai ser feliz, vai aprender muitas coisas novas e sempre vai poder me visitar. – Sussurrou, abraçou a garota, beijou sua testa e a deixou segurando firme sua bonequinha de pano, ao lado do garotinho estranho.

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