Narrado por Khaled
O carro atravessou os portões do palácio de Abdul Rahman com a lentidão de quem já carrega dentro de si o caos. Eu fui sozinho. Não levei Youssef, não levei segurança armada. Não porque subestimei o velho, mas porque sabia que ele esperava isso: uma demonstração de confiança, ou arrogância. E eu queria que ele não soubesse qual das duas estava encarando.
O calor de Dubai queimava mesmo com o sol já em declínio. A areia se acumulava nos cantos do caminho de pedra branca, e as colunas do palácio tremeluziam ao longe como miragens. Mas não havia miragem nenhuma ali. Havia um homem velho, nojento, que queria brincar de desafiar o inferno.
O empregado me conduziu até um salão aberto, onde o Sheikh fumava um charuto e recebia tâmaras em uma bandeja de ouro. Estava de túnica clara, sentado como um sultão de eras passadas, como se o tempo ainda respondesse a ele.
— Khaled — disse com a voz rouca, sem levantar. — Que surpresa...