Narrado por Bianca
O tempo parece se arrastar aqui dentro.
Mas, na verdade, ele só... desaparece.
Eu não sei que dia é. Não sei se faz três, quatro ou cinco noites que me tiraram da casa de Khaled com Natália. Não sei quanto tempo faz desde a última vez que dormi de verdade. Ou comi algo que não tivesse gosto de medo.
A única coisa que eu sei com certeza... é que estou viva.
Ainda.
Mas não por muito tempo.
As paredes desse lugar são feitas de cimento grosso e rachado. Tem manchas escuras nos cantos, umidade no teto, e o chão… é frio, duro e manchado. Tudo aqui fede a desespero. E tem um ventilador no alto que gira devagar, como se também estivesse cansado de ver tanta miséria.
Na cela ao lado da minha, tem uma mulher que chora o dia inteiro.
Ela fala com alguém que não está ali. Talvez um filho. Talvez um Deus.
Às vezes, ela sussurra:
— Me leva… por favor, me leva primeiro…
Eu a entendo.