Narrado por Natália
Fazia calor. Um calor seco, do tipo que gruda na pele e faz você querer arrancar o corpo fora. Mas o pior não era o calor. Era o silêncio. O silêncio de quem espera ser entregue. De quem sabe que não tem mais saída.
Eu estava sentada no chão áspero de um cômodo sem janelas, com a cabeça encostada na parede de pedra fria, tentando manter a respiração estável. O cabelo grudava na testa, o suor escorria pelas costas, e o desespero vinha em ondas, como se meu corpo tivesse esquecido como era viver sem medo.
Não sabia onde Bianca estava.
Desde o dia em que nos separaram, não consegui vê-la mais.
Mas eu ouvia. Ouviam-se os gritos.
De mulheres tentando resistir. De outras sendo vendidas.
O som do martelo batendo após cada leilão, como uma sentença definitiva.
Toc. Vendida. Toc. Vendida.
E eu sabia.
A qualquer momento, seria eu.
Eu, Natália Almeida. A preferida do papai. A que tinha o car