Narrado por Natália
As janelas estavam abertas, mas o calor não me incomodava. Eu gostava da secura do ar. Da sensação de que o mundo estava sendo queimado aos poucos, igualzinho aos planos que eu vinha traçando desde que pisei neste lugar. Desde que fui entregue como moeda de troca. Desde que me tornei peça.
Agora, eu era jogadora.
Caminhei até a escrivaninha de madeira entalhada que ficava no canto do quarto. O criado já havia deixado a caixa ali, envolta num tecido negro e um laço de cetim vinho. Tão delicada por fora. Tão podre por dentro. Exatamente como Lara.
— Está tudo conforme pedi? — perguntei, sem olhar.
— Sim, senhora. O boneco foi customizado. Está… como a senhora especificou.
Assenti. Meus olhos encontraram o objeto. Um bebê de plástico, com olhos vazios, costuras na boca e o corpo sujo de tinta vermelha. Um trabalho artesanal grotesco. E ainda assim, perfeito.
Abri a tampa e olhei para ele.
— Jajá vai ser o seu, irmãzinha. — sussurrei, sorrindo.
Peguei o bilhete que eu