Narrado por KhaledLara virou de costas para as irmãs como se tivesse encerrado um ciclo inteiro. E de certa forma… ela tinha.Ela caminhou lentamente pelas escadas, sem dizer uma palavra, e eu fui atrás, em silêncio. A força com que ela se manteve em pé diante delas me encheu de um orgulho estranho — um que queimava no peito.Mas eu também sabia que não era fácil para ela. Não podia ser.Quando entramos no quarto, ela foi direto para a varanda. Encostou os braços no parapeito e ficou ali, parada, olhando a cidade como se quisesse se perder entre os prédios. A brisa mexia os cabelos dela, mas ela nem se movia.Fechei a porta devagar e caminhei até ela.Esperei um instante, só observando.Então, os ombros dela começaram a tremer.Lara levou as mãos ao rosto, mas não conseguiu esconder.A dor que ela não mostrou lá embaixo finalmente transbordava.Aproximei-me em silêncio. Encostei no corpo dela e a envolvi por trás, passando os braços pela cintura fina, sentindo sua respiração falhar.
Narrado por Natália A porta bateu na nossa cara com tanta força que o som ainda ecoava na minha cabeça enquanto o segurança nos escoltava até o portão da mansão como se fôssemos criminosas. Eu senti o gosto amargo da humilhação na garganta, e se eu tivesse qualquer orgulho, ele teria ficado ali, pisoteado no chão daquela casa maldita. A minha bochecha ainda ardia. A marca do tapa que Khaled me deu ainda pulsava. E a pior parte? Bianca estava calada. Com os olhos baixos. Assustada. — Isso não vai ficar assim — murmurei, tentando conter a raiva que crescia como um incêndio dentro de mim. Bianca olhou pra mim no banco do carro que nos levava de volta pro hotel. Os olhos estavam vermelhos. Mas não de tristeza. De vergonha. — Ele nos tratou como lixo, Natália. Como lixo! — E a Lara ficou lá em cima, toda empinadinha, achando que é melhor que a gente. Como se fosse alguma coisa. Aquela infeliz não passava de uma sombra nossa! Fechei os punhos com tanta força que senti as unhas crava
narrado por Natália — A gente precisa de alguém dentro — falei, me levantando da cama com um brilho sombrio nos olhos. — Alguém que esteja perto dela. Que escute. Que veja. Que me diga cada passo que aquela desgraçada dá. Bianca, sentada na poltrona perto da janela, cruzou os braços com cara de dúvida. — Tipo quem? Os empregados adoram ela. O Khaled deve pagar todo mundo muito bem. — Os empregados têm filhos. Têm dívidas. Têm medos. Todo mundo tem um ponto fraco, Bianca. E se não tiver, a gente inventa um. Peguei o celular com raiva, deslizando o dedo pela tela até abrir o I*******m. A busca foi rápida. Eu já sabia o que procurar: marcações, localização, nomes árabes em posts discretos. Bastava encontrar alguém burro o suficiente pra postar algo de dentro da mansão. — Você tá ficando obcecada — Bianca comentou, meio assustada. — Isso tudo porque ele te deu um tapa? Virei pra ela com o olhar gelado. Firme. Imperturbável. — Não foi só o tapa, Bianca. Foi a humilhação. Foi a mane
Narrado por Natália O celular vibrou nas minhas mãos e um sorriso lento e satisfeito se formou nos meus lábios. Bianca se aproximou, os olhos arregalados. — Foi ela? — perguntou, ansiosa. Assenti. A mensagem brilhava na tela como um convite para o inferno: Ranya: "Que tipo de informações vocês querem? Eu preciso muito de dinheiro. Estou ouvindo." Respirei fundo, sentindo o sabor da vitória antecipada. Ela mordeu. E agora, era questão de tempo até a nossa irmãzinha perfeita desmoronar. — Essa menina tá desesperada — murmurei, digitando com calma. — E a gente vai usar isso até a última gota. "Queremos tudo sobre a senhora Lara. Toda movimentação, com quem ela fala, se ela discute com o Khaled, se ela mostra sinais de tristeza, qualquer coisa fora do comum. Em troca... você vai receber muito mais do que imagina." Enviei. Bianca roía a unha do dedão, nervosa. — Você acha que ela vai conseguir mesmo? Eles parecem tão fechados… — Todo castelo tem rachaduras, Bianca. E é nelas
Narrado por RanyaO dia estava quase terminando, e o palácio começava a se recolher para mais uma noite silenciosa. Eu já deveria ter ido embora para o meu alojamento, como todas as empregadas faziam religiosamente assim que cumpriam seus horários.Mas algo dentro de mim, uma inquietação que eu não conseguia explicar, me fez desacelerar os passos. Em vez de ir direto para o meu quarto, desviei discretamente pelos corredores dourados, arrumando vasos de flores e fingindo que tinha trabalho a fazer.Foi quando passei perto do escritório principal.A porta, geralmente fechada, estava apenas encostada.E de dentro vinham vozes.A voz dele.Parei, hesitando.Eu sabia que era errado. Que ouvir conversas de Khaled poderia ser mais perigoso do que enfiar a mão numa caixa de cobras venenosas.Mas... a curiosidade, a maldita curiosidade, foi mais forte.Aproximei-me, lenta e silenciosamente, até ficar ao alcance da fresta.Inclinei o corpo apenas o suficiente para ouvir.A voz de Khaled era gra
Narrado por NatáliaEu não estava preparada para ver o que vi naquela tela.Por mais que eu soubesse o que esperar, por mais que eu tivesse me preparado mentalmente, nada me salvou da explosão de raiva, inveja e humilhação que senti quando vi aquela maldita festa.Bianca estava sentada ao meu lado, com os olhos vidrados na televisão. A taça de vinho barata dela tremia na mão. Eu estava com a minha vazia, os dedos apertados em volta do vidro como se pudesse quebrá-lo apenas com o ódio que pulsava nas minhas veias.“Direto de Dubai, no palácio particular de Khaled Rashid, acontece hoje a celebração do primeiro mês de casamento do magnata com sua esposa, Lara Rashid.”A voz do repórter era animada, ridiculamente empolgada, como se estivesse anunciando a coroação de uma rainha.E de certa forma... era isso mesmo que estava acontecendo.As câmeras mostraram o palácio: iluminado como um sonho, cada detalhe reluzindo ouro e poder. Flores importadas da Holanda decoravam os jardins. Fontes bri
Alberto VasconcellosA ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida.Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir.Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi
Alberto VasconcellosEntro em casa e, como sempre, sou recebido pelo silêncio pesado que habita este lugar. Antes, minha casa era um reflexo da minha posição: móveis importados, quadros de artistas renomados, tapetes persas. Agora, tudo perdeu o brilho. Parece um cenário prestes a desmoronar.Subo as escadas, sentindo a tensão no ar. Minhas filhas estão todas em casa. Posso ouvir as vozes delas no andar de cima. Natália e Bianca, as mais velhas, conversam animadamente sobre alguma besteira fútil. Lara, como sempre, está quieta.Abro a porta do escritório e me sirvo de uma dose de uísque antes de encará-las. Minha paciência anda curta, e eu sei que não vou gostar das reações que estão por vir.— Reúnam-se na sala — digo alto o suficiente para que todas me ouçam.Natália e Bianca descem primeiro, com ares de tédio. São exatamente o que a sociedade esperava que fossem: filhas mimadas de um empresário rico. Sempre tiveram tudo do bom e do melhor, e mesmo agora, com a falência batendo à p