>>André D'Angelis<<

Eu só era um menino alegre e cheio de vida, mas tive o meu destino cruelmente traçado desde a minha infância. Cresci com a dor da perda dos meus queridos avós paternos, que foram covardemente assassinados pelos membros da família Grecco. Eu vi quando o meu pai jurou vingança em cima dos caixões fechados dos meus avós na frente de todos. Desde então, fui crescendo e sendo ensinado que os Grecco eram nossos maiores inimigos. Portanto deveria extermina-los como vermes, um a um, até que desaparecessem definitivamente desta Terra. Mas, eu sabia que existia algo muito maior do que uma simples rivalidade. Porém, isso meu pai nunca revelaria. E se eu desejasse descobrir precisaria ser muito astuto, ou caso contrário, viveria eternamente rodeado por mentiras.

(...)

Desde então tudo o que aprendi foi como lidar com as emoções, ou melhor como não demonstra-las. E isso foi me tornando a cada dia mais seco e frio. Por mais que eu tentasse ser um homem diferente era praticamente impossível. A maldade, o rancor e o espírito de vingança estavam entranhadas no meu corpo, como se fossem a minha própria pele. E tinha certeza que tudo isso jamais mudaria.

Ano após ano fui me preparando mais e mais para me tornar o homem que sou. Não que eu me orgulhe do meu modo de ser e de tratar as pessoas, mas foi o que aprendi e tem dado certo até hoje. Logo não vejo motivos para reclamar ou tentar modificar o que vem funcionando tão bem até hoje.

Enquanto meu irmão Ariel brincava eu tinha que estudar e aprender tudo sobre os negócios da família. No fundo eu odiava tudo aquilo, queria ser como meu irmão que saia por aí e sempre aproveitava todos os carinhos e afetos de nossa mamma. Mas, não, eu não poderia ter todos esses privilégios. A todo instante era lembrado que um homem de verdade não deveria pensar em brincadeiras, mas sim, em como lidar com a vida com mãos de ferro e ter domínio sobre tudo. Eu era o primogênito e com isso veio o peso da responsabilidade sobre mim. Ninguém sequer se deu ao trabalho de perguntar a minha opinião ou minhas preferências. Era isso ou isso. Simples assim.

Nossa mãe sempre foi muito carinhosa conosco, mas após o nascimento do Arthur, tudo mudou. Por ele ter nascido pré-maturo necessitava muito mais de atenção do que Ariel e eu. Isso me incomodava muitíssimo. Mas, guardei todo esse sentimento obscuro comigo, e no tempo certo eles viriam à tona.

Dia após dia Arthur crescia. Enquanto Ariel e eu estudávamos e tínhamos diversas obrigações, ele era cercado de mimos e carinhos por todos da casa. Isso só fazia aumentar o meu ódio e desprezo por todos eles.

Quando completei dezessete anos fui enviado para os serviços militares do nosso país. Fiquei recluso por exatamente três anos. E foi lá que aprendi tudo o que faltava para me tornar quem sou. Aos 21 anos retornei pra casa e desde então estou a frente dos negócios da família. Mas, antes de assumir toda essa responsabilidade e me tornar o próximo capo da organização fui obrigado a fazer um juramento perante todos os membros importantes, isso incluía o chefe, ou seja, o meu Pai.

Eu precisava de um braço direito para resolver todos os assuntos burocráticos e nos manter afastados de problemas com a polícia e os demais poderes do país. Por isso, coloquei o meu irmão Ariel como subpresidente da empresa. Isso mesmo, empresa. Somos um império e os primeiros do país no ramo do tráfico de drogas. Transportamos e exportamos para os quatro continentes. Éramos uma esfera tão grande que nem mesmo a Interpol conseguia nos pegar.

Sou formado em Direito, tenho MBA, poliglota, atiro extremamente bem, até de olhos fechados se for preciso e sou faixa preta em diversas artes marciais. Muitos perguntam pra que serve tudo isso? Eu te respondo, pra porra nenhuma, somente para me tornar mais louco e impiedoso do que já sou. Pois, nunca houve e jamais haverá um príncipe encantado dentro da minha casca de monstro.

Mulheres, há essas só servem para saciar meus desejos mais profundos e obscuros. Mas, só isso e nada mais. Elas são loucas e amam o jeito que as trato. Sim, já tive muitas puttanas e continuo tendo quantas desejar, mas nada de apego ou sentimentalismo. Beijo na boca, há jamais... Beijo é afeto, sentimento, coisa que não pretendo sentir por ninguém. Sou um monstro? Alguns dizem que sim. Cruel? Talvez. Mas, aprendi que a vida é dura e ácida. Ai daqueles que não souberem dançar conforme a música. E nisso eu sou um mestre.

Conheci a Casa Le'Fertite da Madame Rose durante minha estadia nas forças armadas. Nunca compreendi como uma cafetina poderia ser chamada de Madame. Mas aquilo pouco me interessava. Meu único objetivo ao chegar naquele lugar era de saciar meus desejos.

Todos os finais de semana eu estava ali, usufruindo das minhas lindas puttanas. Claro que eu tinha a minha preferida, Marina, mas não pense que a tratava diferente, era só sexo e nada mais. O bom de nós homens é que sabemos como separar sentimento de desejos carnais.

Hoje aos trinte e sete anos continuo livre como um pássaro. Casamento? Até que meu pai tentou enfiar uma pedra no meu sapato, a estúpida da Josephine, mas até hoje não formalizamos nada. Ela até que é bonita, mas pra mim não serve, muito submissa e digamos puritana demais. E comigo não tem essa de casamento arranjado, sou homem e eu traço o meu destino de agora em diante. Eles não me criaram assim? Então assim serei eternamente. Meu irmão Ariel era louco por Josephine, mas sempre morreu de medo do nosso pai e por isso, vive com esse sentimento contido.

Era sexta-feira e um dia muito importante na empresa, haveria chegada de mercadorias e de assinatura de novos contratos.

Levantei pontualmente às 8h, fui ao banheiro, fiz minhas higienes, tomei um banho demorado como sempre, me sequei e fui escolher qual roupa usar. Sempre dormia ou andava pelo quarto nu, roupas me incomodavam muito, só as usava por obrigação. Pontualmente Poliana entrava no quarto e me via assim. Poliana era a nova empregada da casa, muito linda por sinal, mas não curto empregadas. Não misturo negócios com prazer jamais. Mas confesso que adorava ver seu rosto corar sempre que me via nu.

— Mil perdões senhor André, não sabia que ainda estava em seu quarto. — Poliana fala virando o rosto em direção a porta

— Tudo bem Poliana. Não há nada aqui que você nunca tenho visto antes, não é mesmo? — digo sarcástico erguendo a sobrancelha e percebo todos os pelos do seu corpo arrepiados

— Com licença, volto em outro momento.

"Ainda morro um dia por vê-lo desse jeito."

— Pode ficar aqui mesmo. Preciso de você Poliana. Qual terno fica melhor em mim? — falo apontando para os cabides na cama

— Senhor...

Ela corava e podia perceber o seu corpo todo estremecer diante de mim. O que me deixava bastante entusiasmado e até mesmo excitado. Mantive meu tom forte e áspero para ela, porém eu estava gargalhando por dentro.

— Olhe para os ternos Poliana. Eles estão aqui em cima da cama. — a advirto e me aproximo passando as pontas dos meus dedos no seu braço — Está trêmula? Mas por quê? — falo irônico

— Meu Deus... Senhor, por favor! — Poliana engoliu as palavras em seco e pega um dos cabides, que estava com um terno Armani azul escuro completo, com camisa branca, colete e abotoaduras de ouro — Esse é o mais bonito senhor. Ficará perfeito em seu corpo. — ela fala olhando para o terno e me aproximo ainda mais dela

— Excelente escolha. Agora você merece um prêmio por sua ajuda. Me dê a sua mão aqui Poliana. — sorrio

— Mas pra que senhor? - ela arregala os olhos e sinto sua boca salivar

— Sem perguntas. Obedeça. Me dê a sua mão... AGORA! — falo um pouco mais alto

Ela tremia muito e como eu adorava ver essa sensação de medo que causava nas pessoas. Me excitada e fazia a minha mente voar imaginando qual seria a minha próxima vítima para satisfazer os meus instintos.

— Feche os olhos Poliana e agora toque. — sua mão era macia, suave e percorria meu abdômen com vontade. Ela mordia o lábio inferior, sua boca salivava, sua respiração estava cada vez mais ofegante e seu corpo totalmente enrijecido. Aproximo minha boca próximo ao seu ouvido, passo a ponta da língua no seu nódulo e sussurro com uma voz rouca e sexy a fazendo amolecer na hora... — Gosta do que sente minha cara Poliana?

— Sim... Muito! — ela responde com um tom manhoso e exalando tesão pelo que sentia

— Pode tocar sem medo, você merece senti-lo pela ajuda que me deu. O que houve? Está salivando? Mas por quê? — pergunto franzindo o cenho e abrindo um meio sorriso ao notar seu entusiasmo

O momento estava perfeito, até que somos interrompidos com a voz áspera e incisiva da senhora Valentina D'Angelis que abre a porta do meu quarto bruscamente. Era assim que eu tratava à minha querida mamma.

— ANDRÉ... Pare já com isso! Quanta vezes já lhe disse para deixar a Poliana em paz?

Minha mãe entrou no quarto e como sempre ficou ruborizada ao presenciar minhas atitudes, que segundo ela, eram insanas e desrespeitosas para não dizer a palavra correta: pervertidas.

Se somente com um simples toque ela já se escandalizou imagine se presenciasse tudo o que faço com minhas puttanas, sofreria um ataque cardíaco na mesma hora. Olhei para Poliana que estava corada como um tomate maduro, sem nos encarar, ela saiu do quarto de cabeça baixa fechando a porta.

— Até onde pretende chegar com essas atitudes André?

— Valentina, por favor, o que tem demais em satisfazer os desejos das mulheres? É isso o que todas querem de mim e apenas as satisfaço. Não vejo mal algum nisso. — falo vestindo minha cueca

— Você parece uma fera com os instintos mais selvagens e indomáveis. Isso é monstruoso, meu filho. Em décadas a frente dos negócios da família seu pai jamais agiu dessa maneira com nenhuma mulher. — ela fala me encarando e respiro fundo para não a tratar como merece

— Fera! — estalo a boca — É exatamente como sou conhecido por todos em Sicília, mas não dessa maneira como a senhora insinuou, e sim como um homem de pulso firme e que todos temem. — falo sarcástico — Não vejo o porque de tanta indignação, querida Valentina, já que vocês me moldaram dessa forma. Do que reclamam? — falo sem encara-la e continuo me vestindo

— Nunca fiz isso com você, meu filho, sempre te dei todo o meu amor da mesma forma que fiz com seus irmãos. Mas, percebo que a cada dia que passa você tem se tornado malicioso, impiedoso e frio para com todos que te cercam. Seu pai quem decidiu que por ser o primogênito deveria ficar a frente de tudo em nossa família e se tornar o seu sucessor. Eu tentei me impor, mas ele como sempre, não me deu ouvidos.

— A senhora também é a culpada por ter permitido que o babo (papai) fizesse isso comigo com sua indiferença, sua omissão e ausência desde que o Arthur nasceu. Agora reclama por eu ter me tornado quem sou? Se torna até uma piada, querida Valentina. — falo a encarando

Sinto meu sangue ferver e minha vontade é cuspir tudo o que ela merece ouvir. Mas, ainda era cedo para isso, e logo a máscara da tão respeitada senhora D'Angelis iria cair. Ela pode enganar a todos com esse ar de superioridade e de elegância, mas eu sei muito bem quem ela é, e no tempo certo tudo vira à tona.

Volto a me vestir, quando ela continua falando sobre Arthur, o que me deixa ainda pior do que antes.

— Isso não é verdade meu filho, eu amo vocês três da mesma maneira. Somente dei um pouco mais de atenção ao Arthur por ele ter nascido prematuro, nada mais. Ele precisava de mais cuidados naquele momento.

— Já basta de tanta mentira. Ele sempre foi o seu preferido mamma (mamãe). E onde ele está agora? Responde mamma. Onde ele está? Correndo pelo mundo inteiro, rodeado por mulheres, bebidas e farras. Tudo isso as custas do dinheiro da nossa família e principalmente do meu esforço durante todos esses anos para manter tudo de pé e muito melhor do que o babo deixou. As custas daquele que vocês consideram uma fera, um animal. — falo impaciente

- Meu filho, por favor... — ela tenta falar, mas dou um grito e a encaro furioso, a fazendo dar um passo pra trás assustada

— BASTA! BASTA! Já chega dessa conversinha sem sentido, tenho uma reunião importante dentro de pouco tempo e preciso me vestir. Por favor saia do meu quarto e não faça eu ser grosseiro com a senhora. Lembre-se que sou um selvagem, uma Fera!

Percebo seus olhos cheios de lágrimas, antes isso me incomodava bastante, mas hoje não me afetava nenhum pouco. Me virei e comecei a me vestir. Ouvi a porta bater. Enquanto colocava meu terno sinto meus olhos marejados, coisas que há mais de uma década não acontecia. Respirei fundo e em seguida meu lado sombrio voltou a tomar posse de mim.

Minha mãe e aquele modo de defender o Arthur me irritavam profundamente. Eu odiava quando discutia com ela, pois sempre chegávamos no mesmo ponto, ARTHUR. Sempre o maldito Arthur!

Engoli seco e terminei de vestir o meu Armani. Coloquei meu relógio, meu anel com minha inicial, meu cordão com crucifixo e usei meu perfume Creed Aventus.

Desci e tomei somente um café bem forte sem açúcar como sempre. Estavam todos a mesa, cumprimentei meu pai e fiz sinal com a cabeça indicando para Ariel que o aguardava no carro. Dentro de um minuto ele já estava sentado ao meu lado e seguimos até a empresa que para variar tudo indicava que teria um expediente muito agitado.

(...)

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