Flora Narrando
Acordei antes do despertador. Como sempre. Dormir é perda de tempo quando se tem uma construtora inteira nas costas. O casamento da minha irmã é nesse fim de semana e, por mais que eu queira respirar um pouco, a verdade é que a Ferraz não se sustenta sozinha. Dei folga pra Luna, claro. Ela merece. Vai casar linda, apaixonada, um verdadeiro conto de fadas. Mas alguém precisa manter esse império em pé. E esse alguém sou eu.
Cheguei cedo na sede da empresa. Um salto alto, vestido impecável, café preto na mão e a pasta de couro jogada no braço com aquele desdém calculado. A recepcionista tentou me desejar “bom dia” com aquele sorrisinho artificial. Só levantei a sobrancelha.
— Pede pro RH enviar agora os currículos que pedi ontem. Sem filtro. Quero olhar tudo.
Entrei no meu escritório. A sala estava gelada como eu gosto. Vista panorâmica da cidade, móveis minimalistas e meu perfume caro ainda impregnado nas cortinas. Me sentei, tirei os óculos escuros e joguei a bolsa sobr