Mundo ficciónIniciar sesiónLayla parou na entrada de casa, pegou o controle do portão e o abriu. Rezava para que a mãe já tivesse voltado ao trabalho, mas o coração afundou ao ver o carro estacionado na garagem.
— Droga! — murmurou. Sabia bem o que aquilo significava: se o carro estava ali, Eda não voltaria para o escritório.
Entrou em casa com cuidado, optando pela porta da cozinha. Assim, talvez conseguisse ir direto para o quarto sem ser notada. Mas, ao abrir a porta, deu de cara com uma surpresa nada agradável à sua espera.
***
Emir voltou do almoço de bom humor — coisa rara — e Aisha percebeu que até sorria sozinho.
Kerem estava trancado no escritório, e a secretária logo avisou que Emir havia retornado.
Assim que ele se acomodou na cadeira, Aisha entrou trazendo o café preferido do chefe.
— Aconteceu alguma coisa no almoço? — perguntou, com um sorrisinho curioso. — Está com um olhar diferente... parece que viu um passarinho verde.
Ela riu, e Emir pensou que talvez tivesse mesmo encontrado um — um passarinho com os olhos mais lindos que já vira.
— Pelo visto, o almoço foi bom. Vou deixá-lo trabalhar em paz, Kerem logo vem falar com você — disse Aisha, saindo e fechando a porta atrás de si.
Sozinho, Emir ligou o notebook para checar os e-mails do dia. Com toda a confusão, mal tivera tempo de organizar as coisas. Recordou o almoço com aquela garota — e como, em poucos minutos, ela o fizera esquecer dos problemas.
— Não pense bobagem, Emir Divit — murmurou para si mesmo. — Nada de escândalos. Você tem outras prioridades agora.
O celular vibrou sobre a mesa. Era uma mensagem da irmã. Por milagre, Bahar passara quase o dia todo sem ligar ou mandar mensagens. Se ela lembrara dele naquela hora, certamente algo havia acontecido.
***
Eda discursava seu tradicional sermão da tarde enquanto Ahmet, o caçula, ria da bronca que a irmã levava.
— Samia me contou que vocês almoçaram juntas e que você estava voltando para casa. Agora me diga: da faculdade até aqui não se leva uma hora e meia!
Layla já havia ensaiado a resposta. Esperou a mãe terminar o discurso para começar a se justificar.
— Mãe, agora que a senhora falou, eu posso explicar. No caminho de casa, o fecho da minha pulseira se soltou e eu fiquei sem saber onde arrumar. Lembrei de uma joalheria pertinho da faculdade e fui até lá. A senhora sabe como eu sou, né? Acabei conversando demais com o senhorzinho que consertou o fecho... e o tempo passou. Me perdoa? Prometo que não acontece de novo.
Eda suspirou. Sabia que havia sido dura demais. Furkan sempre dizia que Layla já era adulta, mas, para ela, a filha continuava sendo aquela menina de cabelos castanhos e olhos cor de esmeralda que tanto amava.
— Tudo bem, dessa vez eu deixo passar. Mas da próxima, me avise quando tiver algum imprevisto. Reclama que eu não uso redes sociais, mas é você quem esquece de se comunicar.
— Sim, senhora.
— Já ajudei seu irmão com a lição de casa. Vai pro quarto e troca de roupa. Vou começar o jantar.
Layla pegou a mochila de cima da mesa e foi saindo. Passou pelo irmão, que não perdeu a chance de provocá-la:
— Só a mamãe e o papai pra acreditarem nas suas histórias.
Antes que Layla pudesse reagir, Ahmet saiu correndo para perto da mãe.
No quarto, ela jogou a mochila no chão e se jogou na cama. Fechou os olhos e deixou os pensamentos voltarem ao almoço com Emir — e ao quanto ele se mostrara mais gentil do que imaginava.
Sorriu sozinha. Depois, pegou o celular, trancou a porta, colocou os fones de ouvido e iniciou uma videochamada.
Enquanto isso, Emir e Kerem discutiam os próximos passos da agência. Emir comentou por alto sobre Layla, omitindo detalhes — especialmente a idade.
Kerem, desconfiado, o alertou:
— Tome cuidado, Emir. Tem muita garota que se aproveita de homens mais velhos. Você anda carente... pode acabar caindo num golpe.
— Ela não é nenhuma golpista. Tá bem, eu a chamei de chantagista — porque ela realmente tentou me enganar —, mas Layla é divertida. Agora, por favor, vamos falar de você. Nos últimos meses, minha vida tem se resumido a fracassos. Pelo menos você deve ter algo de bom pra contar.
Layla ouvia o sermão das amigas — como se o da mãe já não bastasse. Elçin estava indignada, enquanto Samia tentava acalmar os ânimos.
— Você é inacreditável! — reclamava Elçin. — Correu pro carro dele, não deixou nem a gente ver o rosto do homem. Layla, eu nunca conheci alguém tão sem noção!
— Também não é assim — defendeu Samia. — A Layla sabe que exagerou e tenho certeza de que não vai repetir.
— Samia, minha querida amiga, você realmente conhece a Layla? Imagina nós duas nas páginas policiais por causa dessa maluca!
As duas continuaram discutindo por quase meia hora, até que Layla, exausta, respondeu:
— Meninas, o Emir é gente boa, de verdade. Tudo bem que é meio mal-humorado e ranzinza, mas é legal. Me pagou o almoço, consertou a pulseira da sorte e ainda me deu o cartão de visitas dele.
Ela olhou para a pulseira no pulso e sorriu, lembrando da conversa com Emir na lanchonete.
— Layla — disse Elçin, quase gritando. — É óbvio que você vai jogar esse cartão fora! Vai esquecer esse homem e seguir em frente, tá ouvindo?
— LAYLAAAAAAA! — a voz da mãe ecoou da cozinha.
Layla suspirou e avisou às amigas que precisava desligar.







