Ellen Vasconcellos
Os dias seguintes foram um caos.
Não daqueles que gritam ou explodem.
Mas daquele tipo que vai se acumulando em silêncio. Como uma pilha de roupas jogadas num canto, como pratos para lavar, como olhares vazios dentro de casa.
Na faculdade, eu tentava fingir normalidade. Anotar tudo, participar das aulas, sorrir de leve para os colegas.
Mas a verdade é que eu estava por um fio.
Durante o intervalo, sentei num dos bancos de concreto no pátio da universidade. Coloquei a garrafa de água ao lado e fechei os olhos por um instante, só para respirar.
Foi quando ouvi a voz dele.
Do meu amigo.
— Você tá diferente. — ele falou, devagar.
Abri os olhos. Fábio estava ao meu lado, com uma expressão que misturava preocupação e um toque daquele carinho que só quem te conhece de verdade consegue ter.
— Está tudo bem? — perguntou, se sentando do meu lado.
Não, eu não estava, mas não conseguia dizer a verdade para ele, então disse.
— Sim, são só... preocupações — respondi, sem con