"Eleonora a observava no escuro, seus olhos brilhando de um jeito que Ashley não conseguia explicar. Um arrepio percorreu sua espinha, mas não era medo. Era algo mais profundo, algo que a fazia prender a respiração. — Você me quer, Ash? — A voz de Eleonora era um sussurro sedutor, carregado de um segredo que Ashley ainda não entendia. Ashley queria responder, queria dizer que sim, mas algo nela hesitava. Quem era Eleonora, de verdade? E por que, mesmo sabendo que deveria ter medo, tudo que queria era se aproximar ainda mais?"
Ler maisAshley observava a cidade enquanto o carro seguia pela avenida principal. Era uma tarde cinzenta, e as nuvens pesadas refletiam bem seu humor. Sentada no banco do passageiro ao lado de sua mãe, ela não conseguia deixar de pensar em como sua vida havia mudado drasticamente em questão de meses. Antes, vivia em uma cidade pequena onde todos se conheciam, onde o maior evento do ano era a feira de artesanato local e o céu era sempre estrelado à noite. Agora, tudo que via à sua frente eram prédios altos, ruas movimentadas e um constante ruído de fundo que a deixava tonta.
— Estamos quase chegando, Ash, - disse sua mãe, com um sorriso tenso nos lábios. Ashley não respondeu. Estava ocupada demais tentando processar tudo. O divórcio, a mudança, a nova cidade… Era demais para ela. Sua mãe parecia estar tentando se manter otimista, mas Ashley via a tristeza escondida em seus olhos. O casamento tinha acabado há apenas três meses, e sua mãe ainda estava se ajustando tanto quanto ela. O carro entrou em um bairro residencial, com casas geminadas que pareciam uma cópia umas das outras. Nenhuma delas tinha o charme rústico da antiga casa no campo, com suas paredes de madeira e o jardim selvagem que o pai de Ashley tentava manter sob controle sem muito sucesso. Ali, tudo parecia tão artificial, como se cada casa estivesse tentando se sobressair pela perfeição. — É aqui.- Sua mãe parou o carro em frente a uma casa de dois andares, de cor clara, com uma pequena varanda e um jardim minúsculo na frente. Havia uma placa de -Vende-se- no gramado, como um lembrete constante de que aquele lugar também não era realmente delas. Apenas mais uma casa temporária. Ashley desceu do carro lentamente, sentindo o vento frio da tarde bater em seu rosto. Enquanto sua mãe se apressava para abrir a porta da frente, ela ficou parada por um momento, observando o novo bairro. Algumas crianças brincavam de bicicleta na rua, enquanto adultos carregavam sacolas de compras para dentro de suas casas. Tudo parecia tão normal, tão pacífico, mas para Ashley, nada estava em paz. — Você vai me ajudar a descarregar as coisas?- A voz de sua mãe a tirou de seus pensamentos. Ashley assentiu e foi até o porta-malas. As malas estavam amontoadas ali, um lembrete do quanto de sua antiga vida estava resumido àquelas poucas caixas. Não era muito, mas o suficiente para fazê-la sentir o peso de cada memória. Entrar na nova casa foi ainda mais difícil. Era o símbolo de tudo o que ela estava deixando para trás, e enquanto caminhava pelos cômodos vazios, sentia uma desconexão total. Havia um eco no silêncio daquela casa que a fazia se sentir ainda mais sozinha. O primeiro andar tinha uma pequena sala de estar, uma cozinha aberta e uma escada que levava ao segundo andar. Havia três quartos no andar de cima, e Ashley escolheu o que ficava de frente para a rua. O quarto não era grande, mas tinha uma janela que deixava entrar a luz do dia e dava uma boa vista do bairro. Ela jogou sua mochila no chão e se jogou na cama, que ainda estava sem lençóis. Fechou os olhos, tentando afastar os pensamentos que vinham à tona, mas era impossível. Ela pensava no pai, em como ele estava lidando com tudo. Ele tinha ficado na cidade pequena, na velha casa que agora parecia tão distante. Ele prometeu visitá-las assim que pudesse, mas Ashley sabia que isso poderia demorar. As coisas entre ele e sua mãe não haviam terminado bem, e cada visita seria apenas um lembrete disso. Sua mãe apareceu na porta do quarto, batendo levemente antes de entrar. — Então, o que acha do seu novo quarto?- Ela tentou soar animada, mas Ashley percebeu o nervosismo na voz dela. — É… bom,- murmurou Ashley, sem realmente acreditar no que dizia. Sua mãe suspirou e se aproximou, sentando-se na beirada da cama. — Eu sei que isso não é fácil, Ash. Mas prometo que vamos fazer isso funcionar. A cidade grande pode ser assustadora no começo, mas tenho certeza de que logo você vai se adaptar.- Ashley queria acreditar naquelas palavras, mas tudo ainda parecia tão surreal. Ela olhou para a janela, observando as nuvens escuras que começavam a se dissipar, revelando o céu alaranjado do fim da tarde. — Eu sei, mãe. Só… vai demorar um pouco. Sua mãe sorriu tristemente e assentiu. — Vamos descer e pedir uma pizza? Acho que merecemos uma folga hoje. Ashley apenas assentiu e seguiu a mãe para o andar de baixo. Enquanto ela fazia o pedido por telefone, Ashley olhou pela janela da sala, observando os vizinhos que começavam a acender as luzes de suas casas. Cada uma delas parecia tão diferente da sua, cheia de vida e rotina. A dela ainda era apenas um lugar vazio. A noite caiu, e o som constante de carros passando pela rua fez Ashley perceber que estava longe do silêncio confortável a que estava acostumada. A antiga casa no campo tinha apenas o som distante dos grilos e o vento balançando as folhas das árvores. Aqui, a cidade parecia nunca dormir. Após comer a pizza, Ashley subiu para seu quarto. Ela pegou o celular e ficou rolando pelas redes sociais, vendo as fotos de seus antigos amigos na cidade pequena. Eles estavam todos seguindo com suas vidas, postando sobre os mesmos lugares de sempre. Ninguém parecia perceber o quanto tudo estava diferente para ela. Isso só a fez se sentir ainda mais isolada. Quando finalmente decidiu tentar dormir, o sono não veio fácil. Ela se revirava na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas seus pensamentos a mantinham acordada. Ela pensava na escola nova que começaria na próxima semana, nas novas pessoas que teria que conhecer, e no fato de que seu antigo grupo de amigos estava a quilômetros de distância. E então, havia o divórcio. Não era algo que ela queria pensar, mas era impossível ignorar. Ashley sabia que as brigas entre seus pais estavam piorando há anos, mas nunca achou que chegariam ao ponto de se separarem. E agora, lá estava ela, em uma nova casa, em uma nova cidade, com uma nova vida que não parecia a dela. Eventualmente, o cansaço venceu, e Ashley adormeceu, mas não foi um sono tranquilo. Seus sonhos eram cheios de imagens desconexas, misturando lembranças antigas e medos novos. A cidade grande a envolvia em um nevoeiro espesso, e em algum lugar distante, ela ouvia vozes chamando seu nome.Os primeiros raios de sol pintavam o céu em tons de laranja e dourado, afastando os últimos vestígios da noite. Na varanda, Ashley e Eleonora ainda estavam lado a lado, compartilhando o calor uma da outra. O mundo parecia mais calmo, mais seguro — mas não menos cheio de possibilidades. Ashley, envolta em um cobertor, olhava para o horizonte. — Nunca pensei que chegaria a sentir isso de novo, Eleonora. Paz. Eleonora segurou a mão dela, apertando com leveza. — Você lutou por isso, Ashley. Foi sua coragem, sua força, que nos trouxe até aqui. Elas permaneceram em silêncio por um momento, deixando o som da natureza preencher o espaço. Então, Ashley sorriu. — Quero fazer mais, Eleonora. Não apenas para nós, mas para os outros. Ensinar, proteger... mostrar que podemos enfrentar o que vier, juntos. Eleonora arqueou uma sobrancelha, divertida. — Está planejando criar uma escola de bruxaria? Ashley riu. — Talvez. Não uma escola tradicional, mas algo que ajude outros a se cone
O céu estava escuro, coberto por nuvens espessas que ameaçavam desabar a qualquer momento. Ashley e Eleonora voltaram para casa exaustas após o confronto. O fracasso em capturar Vincent pesava em seus ombros, mas a esperança ainda brilhava. Elas sabiam que precisavam se reerguer rapidamente. Ashley estava sentada no chão da sala, rodeada por livros antigos e anotações espalhadas por todos os lados. Eleonora observava em silêncio, preocupada com o cansaço evidente de sua namorada. — Você precisa descansar, Ashley, — disse Eleonora, ajoelhando-se ao lado dela. — Não podemos derrotar Vincent se você se destruir antes disso. Ashley balançou a cabeça. — Não posso parar agora. Ele está mais fraco, Eleonora. Estamos perto, eu sei disso. Eleonora segurou suas mãos, forçando Ashley a olhar para ela. — E se ele usar isso contra nós? Ele sabe que está mexendo com sua mente. É exatamente o que ele quer. Por um momento, Ashley hesitou. Eleonora tinha razão, mas a ideia de deixar Vince
A manhã seguinte nasceu cinzenta e carregada de tensão. Ashley mal havia dormido. As palavras de Vincent ainda ecoavam em sua mente. Ela sabia que o tempo estava se esgotando, e que ele não demoraria a atacar novamente. No entanto, agora havia um plano. Um plano que poderia ser a única chance de derrotá-lo. Eleonora entrou na cozinha com passos firmes, trazendo mapas e anotações. — Revisei tudo mais uma vez. O bosque é o lugar ideal para atraí-lo. Há clareiras cercadas por árvores altas, perfeitas para isolar a energia dele e dificultar sua fuga. Ashley, que estava encostada no balcão, olhando para o vazio, finalmente ergueu os olhos. — É arriscado, Eleonora. E se ele nos emboscar antes que possamos ativar o feitiço? Eleonora sentou-se ao lado dela, seus olhos encontrando os de Ashley. — Então vamos virar o jogo. Ele espera que sejamos as presas. Mas nós seremos os predadores. As duas passaram o dia montando armadilhas no bosque. Eleonora usou sua força sobrenatural para mover p
Ashley sentava-se em sua cama, ainda com os músculos tensos após o confronto com Vincent . O quarto estava silencioso, exceto pelo som suave das folhas de um livro que Eleonora folheava na escrivaninha ao lado. A luz do abajur criava sombras dançantes nas paredes, tornando o ambiente um tanto melancólico, mas carregado de determinação. Ashley segurava o papel queimado de Vincent agora apenas uma lembrança das intenções dele. A sensação de perigo ainda pairava no ar, mas algo dentro dela tinha mudado. A jovem sabia que precisava pensar à frente, superar suas próprias inseguranças e encontrar uma maneira definitiva de derrotá-lo. — Eleonora, não podemos esperar que ele venha até nós novamente. — Ashley quebrou o silêncio, sua voz firme. — Precisamos agir primeiro. Eleonora ergueu os olhos do livro, inclinando a cabeça com curiosidade. — Concordo. Mas qual seria o próximo passo? Ele já provou ser mais forte do que imaginávamos. Ashley olhou para o papel queimado em suas mãos e l
Ashley segurava o papel amassado com a mensagem de Vincent. Seus olhos percorriam a caligrafia intensa, quase agressiva. Uma ideia começou a se formar em sua mente enquanto analisava cada detalhe. Ela respirou fundo, sentindo uma mistura de excitação e preocupação. — Eleonora, e se a caligrafia dele contiver mais do que palavras? — perguntou Ashley, girando o papel entre os dedos. Eleonora, que estava sentada no sofá revisando mapas do bosque que elas planejavam usar como armadilha, levantou os olhos. — Como assim? — Vincent é poderoso, mas ele também é arrogante. A maneira como ele escreve... É como se ele estivesse canalizando energia para cada palavra. Talvez eu possa usar isso contra ele. Eleonora levantou-se, aproximando-se de Ashley. — Você acha que pode reverter a energia dele? Ashley assentiu. — Não tenho certeza absoluta, mas vale a tentativa. Ele deixou isso aqui como um recado, mas pode ser uma ligação direta com sua magia. Se eu conseguir decifrar... talvez
Eleonora assentiu, abrindo o envelope com um movimento preciso. Dentro havia uma carta escrita em uma caligrafia impecável, mas fria e ameaçadora. "Queridas Eleonora e Ashley, Vocês podem correr, podem se esconder, mas não podem escapar de mim. Eu sempre encontro o que procuro. Estou mais perto do que imaginam, e, em breve, essa brincadeira chegará ao fim. Aproveitem seus últimos momentos juntas. — Vincent" Ashley sentiu um nó na garganta ao ouvir Eleonora lendo a carta em voz alta. Era como se o ambiente ao redor tivesse ficado mais pesado, as paredes parecendo se fechar sobre elas. — Ele nos encontrou... — Ashley murmurou, tentando processar as palavras. Eleonora amassou o papel com força, seus olhos brilhando com raiva. — Não. Ele quer que pensemos isso. É um jogo para ele, mas não vamos deixá-lo vencer. Ashley tentou se manter firme, mas o medo era palpável. — O que vamos fazer? Ele não vai parar, Eleonora. Eleonora se aproximou de Ashley, segurando suas mãos firmemente. — V
Último capítulo