Kairós
A consciência retorna como um clarão súbito, dissipando a névoa do coma. Abro os olhos, sentindo o peso do corpo e a estranheza do ambiente hospitalar. A primeira pergunta, urgente, escapa dos meus lábios.
— Quanto tempo eu fiquei em coma? — pergunto à minha irmã, Camila, a voz rouca e fraca.
Camila me encara, a expressão séria e preocupada.
— Três meses, Kairós. Você ficou dormindo por três meses — responde ela, a voz carregada de pesar.
Três meses. Um abismo de tempo se abre diante de mim, e a única imagem que emerge da névoa da memória é a de Lia. Onde ela está? O que aconteceu?
— Você sabe para onde Lia foi? — pergunto, a voz ansiosa.
O rosto de Camila se contorce em desgosto.
— Você ainda pergunta por ela? Foi por causa dela que você está preso nessa cama! — exclama, a irritação transparecendo em cada palavra.
Fecho a cara, a injustiça da acusação me enfurecendo.
— Não fale besteira! Não foi ela quem cortou os freios do meu carro — retruco, a voz carregada de indignação.
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