Angelina Mendes
Um dia após a minha formatura, levanto-me me sentindo um pouco cansada e pelo silêncio que impera na casa, acredito que todos ainda dormem. Na ponta dos pés, vou ao quarto de Junior e ao chegar na porta observo silenciosamente o seu sono sereno de criança.
Disposta a surpreender a todos, desço para preparar o café da manhã, já na cozinha resolvo fazer panquecas, pão com queijo e suco de laranja. Minutos depois a campainha toca, vou correndo abrir a porta e deparo-me com Mary que parece bem assustada.
— Bom dia, aconteceu algo? – Ela praticamente me atropela ao entrar em minha casa.
— O que aconteceu? Você que tem que me responder. O que te deu na cabeça para sair correndo ontem? Que homem era aquele? – Minha mente volta para as lembranças maravilhosas.
— Fala baixo Mary! – Me preocupa que meus pais ouçam a realidade. — Olha, eu não sei quem ele é, depois daquela brincadeira sem graça, esbarrei nele, aconteceu o beijo e agora estou até agradecida por você me indicar. – Mary me dá uma piscadela.
— Safada! Ele não disse nada?
— Sim, me perguntou se eu era solteira, depois disse que ia me beijar.
— UAU! E você deixou? – Meu coração acelera com a lembrança.
— N-nem estava raciocinando direito. – Ela me dá um tapinha no braço.
— Conta logo do beijo. – Caminhamos até a bancada da cozinha, continuamos a conversa enquanto preparo o suco e então decido ser sincera.
— Beijo melhor não existe e o pior é que nem seu rosto eu vi direito, senti seu corpo encostado no meu, seus braços, sua respiração, todo desejo e...
— Pode parar amiga, isso é uma descrição de preliminar. – Ela se abana. — Está na hora de você descobrir o que vem depois de um beijo desse, Jordan com certeza quer ensinar. – Mais uma vez sinto uma repulsa até exagerada só em ouvir a sugestão.
— Pelo amor de Deus Mary! Esquece Jordan, ele me fez passar a maior vergonha ontem. – Enquanto abro o pacote de pão, Mary prossegue:
— Ele só queria te defender. – Enquanto a conversa rende preparo os pães, colocando o queijo na assadeira para esquentar.
— Não, ele não quis me defender! Se ele quisesse, apenas me observaria de longe para ver no que ia dar, ele falou comigo como se eu fosse algo dele e eu definitivamente não sou, o rapaz deve ter pensado que eu era uma qualquer!
Demonstro toda minha raiva, em seguida a conversa é interrompida pela presença dos meus pais que chegaram prontos para ir à igreja, então tomamos café juntos. Aproveitando a ocasião, conto a Mary sobre a novidade do apartamento e em seguida subo acompanhada por ela para ver Junior, que já está despertando.
Após alimentar meu filho e deixá-lo quietinho assistindo desenho, seguimos para meu quarto para arrumar minhas roupas pois a tarde vamos para o apartamento e eu já sei que ao chegar tenho que ver o que falta na estrutura, arrumar meus pertences, para logo depois me concentrar para me preparar para seletiva nos Jets.
— Mary, quase me esqueço de te contar, vou fazer o teste para o New York Jets e se passar, começo a residência desportiva. – Ela grita e quase pula feito uma criança.
— Eu também! Temos que passar, são apenas cinco vagas e além de pagar muito bem, com todo respeito à Israel, vamos trabalhar com os homens mais lindos e gostosos de Nova Iorque. – Concordo com toda motivação que envolve o trabalho e continuo a arrumação.
Na tarde do mesmo dia, a mala do carro já está lotada com algumas das minhas coisas e de Junior. Coloco meu filho na cadeirinha e seguimos o carro do meu pai que também está lotado de bagagens para nova moradia. Ao chegar em Harlem, deparo-me com um lindo prédio de cinco andares e meu pai me orienta sobre a estrutura do condomínio.
Para minha felicidade, descubro que tenho uma vaga na garagem interna, academia, elevador, lavanderia e recepção bastante aconchegante com portaria que funciona vinte e quatro horas por dia.
— Pai, isso tudo é mais que perfeito. – Ele acaricia meu rosto.
— Aguarda para ver seu apartamento. – A curiosidade me consome.
Após poucos minutos que parecem eternos, chegamos na frente do apartamento 404, passo a chave estando completamente empolgada e encontro uma sala bastante aconchegante. As paredes estão pintadas de rosa nude, na sala tem um sofá em L de cor branca, uma TV na parede de quarenta polegadas, uma mesa de centro de vidro, e na lateral uma pequena escrivaninha com um macbook.
Praticamente perco a voz.
A esquerda vejo a cozinha estilo americano, toda revestida com armários de madeira, equipada com os eletrodomésticos e com uma bela ilha que facilitará bastante minha vida.
— Pai. – Tento falar, porém sou imediatamente interrompida.
— Vamos conhecer o quarto de Junior? – Seguimos para o primeiro quarto do corredor, ao abrir, deparo-me com um minicampo de futebol americano, o chão dividido em jardas, na parede os bonequinhos dos jogadores, TV e janelas com proteção fixa.
Os olhinhos de Junior brilham, ele corre para brincar e os meus olhos ficam marejados de emoção, é o quarto que minha irmã Amanda tanto queria fazer para o filho e não teve tempo.
— É maravilhoso, tem tudo o que Junior precisa aqui. – Emociono-me e lágrimas escorrem pela minha face.
— É como sua irmã queria. – Entre abraços saudosos, deixamos nosso pequeno entretido com os brinquedos e vamos para meu quarto.
Ao abrir a porta, vejo um amplo quarto com papel de parede floral bem romântico e discreto, com uma bela cama de casal, um guarda roupa embutido que ocupa toda uma lateral na cor branca, TV na parede em frente a cama, uma mesinha com alguns livros e para minha alegria vejo que tenho uma suíte bem espaçosa até com banheira de canto.
— Pai, isso tudo deve ter sido bastante caro. – O abraço e ele diz:
— Não foi filha, além de financiado, foi um arremate em um leilão do banco, quem comprou antes não honrou a hipoteca e por isso perdeu o financiamento, compramos com o valor de quando foi lançado, gastamos um pouco com a reforma e agora é só você decorar ao seu gosto. – Eu não consigo imaginar nenhuma mudança.
— Ele já está perfeito, mas preciso saber quais custos fixos terei. – Meu pai senta na cama, b**e a mão no colchão indicando que quer que eu me acomode ao seu lado e me informa:
— Deixamos pagos os três primeiros meses do condomínio, a dispensa também está cheia, vamos mandar diariamente da lanchonete as coisas que você e Junior gostam, não se preocupa filha, já deu tudo certo. – Me dá um beijo na testa. — Agora vamos pegar as bagagens porque não quero voltar tarde para casa, sua mãe fica preocupada.
Converso brevemente com meu pai informando sobre a seleção que vou participar e enquanto fico com Junior na sala, ele juntamente com o porteiro, pegam as bagagens.
Logo Depois da sua saída, fico com meu filho que fez questão em ajudar, passamos a tarde arrumando as roupas.
...
12 de outubro, durante o dia fiz um treino pesado na academia do prédio para minha resistência física melhorar enquanto minha mãe ficou com Junior. A tarde fui a algumas escolas próximas que atendem aos domingos por serem internato e consegui uma ótima escola com período integral, todo horário que eu estiver fora vou ter quem cuide do meu filho. De noite recebo a visita de Mary, Israel e Jordan que estava todo tímido tentando ganhar espaço, porém não conseguiu.
No dia treze depois de levar Junior na escolinha, apesar de toda distração que o beijo ainda me proporcionava revisei alguns termos, torções, tratamentos e suas aplicações e já me sentia pronta para toda avaliação. Uma vaga tinha que ser minha.
Charles Finningan
11 de outubro, acordo com bastante energia acumulada, visto uma camisa e vou correr na esteira da academia que tenho em casa. E depois de um par de horas, vou para cozinha.
— Bom dia Sofhi, meu café da manhã está pronto? – Ela sempre simpática confirma com um leve balançar positivo de cabeça.
— Com certeza Sr. Finningan, panquecas feitas com cinco claras de ovos e suco proteico. – Agradeço e mais uma vez tento fazer com que ela mude a forma de se direcionar a mim:
— Nos conhecemos há anos e somos amigos, me chame apenas por meu nome. – Revira os olhos em um tom de brincadeira.
— Hoje vai ter treino ou alguma festa, CHARLES? – Divirto-me ao notar a entonação no meu nome.
— Não, só terça, hoje estou de folga e nada de festa. – Sofhi parece incrédula e coloca a mão na boca.
— Jura? Difícil de acreditar. – É a minha vez de ficar pensativo. Não é todo dia que eu vou a eventos.
— Pois acredite, preciso urgentemente encontrar algo que perdi. – Com um ar de curiosidade, pede licença e se retira da cozinha. Ao terminar de tomar o meu café, ligo para Castro que prontamente me atende.
— Bom dia Charles, como vai? – Sem mais delongas respondo:
— Cara, estou frustrado. – Ouço sua risada irritante.
— Porra, você não está normal Finningan. – Já eu, acho extremamente normal querer encontrar a morena novamente.
— Quero um favor para ontem. Pesquisa entre as filhas dos empresários, artistas, jogadores, seja lá o que for e tenta encontrar a morena de ontem, olhos verdes e que dirige contraditoriamente um mazda que não combina em nada com sua classe social. – Levanto-me e caminho pelo jardim da casa.
— Já pensou que ela pode não fazer parte do seu mundo? – Suspiro cansado enquanto observo o jardim.
— Já pensei, mas ela me pareceu ser bem-sucedida e o local da festa diz tudo. – Castro concorda, promete que vai pesquisar, me lembra da reunião que terei com Brooke na segunda e sobre o treino de terça.
Despeço-me de Castro, sento-me na espreguiçadeira e fico olhando a imensa piscina e percebo que fora as festas e mulheres, de momento estou completamente sozinho, em uma porra de uma casa gigante que já foi meu sonho de consumo. Ao perceber que não tenho o que fazer, decido então a noite ir à boate para ver se tenho sorte de encontrá-la e assim o faço na noite de sábado e também na do domingo, porém entre copos e belíssimas mulheres, não encontro a que eu procuro.
...
Segunda, 13 de outubro. Após treino e café da manhã balanceado, vou ao meu closet e seleciono uma roupa social apropriada para a reunião. Já pronto para sair, escolho mais uma vez o lamborghini e sigo para a sede da empresa Finningan's Sports que é uma rede de lojas de departamento de artigos esportivos que está na minha família há décadas e eu, juntamente com meus irmãos, administramos.
Ao chegar, logo sou cumprimentado por meu assistente Robert e minha secretária Clarie que vêm animados em minha direção, cada um nos seus patins.
— Bom dia Sr. Finningan, seus irmãos e o Sr. Brooke já estão à sua espera. – Agradeço a informação.
— Robert tem a lista dos bonecos dos jogadores mais vendidos? – Continuo andando.
— Sim, tudo no seu devido lugar, qualquer dúvida, estarei próximo em todos os momentos.
A reunião segue, decidimos cortar a produção de bonecos de alguns jogadores que estavam parados na prateleira, fazer uma promoção com o estoque e lançar novos modelos com a roupa que vai estrear na próxima temporada. Após a reunião converso com Brooke e meus irmãos, George que é o responsável pelo marketing e Derek que é o diretor financeiro.
— Meu amigo Charles já está normal? – Brooke deixa meus irmãos curiosos.
— Por que não haveria de estar? – Protesto e tento ser o máximo impassível, porém sou traído por meu largo sorriso.
— Aí tem. – George se diverte com a situação.
— Fala logo cara, está apaixonado? – Derek pergunta como se estivesse preocupado.
— Não me apaixonei, só estou frustrado. – Confesso.
— O cara foi em uma balada sexta, beijou um mulherão, não sabe nem o nome e agora está tentando encontrá-la. Já sabem qual a frustração, não é? – Brooke expõe a situação e gargalha.
— Degustou e não comeu? E isso é foda! – Derek debocha. — Está doente, Finningan?
— Porra, devo estar e se vocês tivessem visto a morena com certeza me entenderiam. – Penso mais uma vez em suas curvas. — Se eu a encontrar vocês verão, a mulher é gostosa demais e se o restante for como o beijo vai ser minha perdição. – É fato que eu corro sérios riscos.
— E por favor, não deixe de dividir comigo, sou seu amigo. – Brooke e meus irmãos gargalham com a possibilidade, mas essa mulher não sei bem se quero dividir.
...
Terça, 14 de outubro, após uma manhã de treino na academia do clube NYJ, almoço e após o descanso somos encaminhados para quadra.
Vamos apenas fazer aquecimento, já que uma parte da quadra está tomada por dez participantes de uma famosa seleção de fisioterapeutas para o clube.
Homens e mulheres vestidos iguais, as meninas de cabelos presos e boné fazem o teste correndo cada uma, vinte jardas. Fico observando com Brooke enquanto treinamos alguns passes, o tempo vai passando e podemos ver alguns competidores saindo entristecidos. Ao final apenas cinco pessoas são selecionadas, duas mulheres e três rapazes que comemoram como se fossem amigos em comum, então volto minha atenção para o treino.