Capítulo 3

Não tinha dúvida nenhuma de que eu amava o sol, a janela do meu quarto estava aberta deixando a luz esquentar minha pele enquanto me dispertava do sono aconchegante. Acordar cedo não é algo que eu venero mas depois que eles partiram se tornou necessário, e uma coisa que me lembrava a animação deles em ter os primeiros raios de sol apenas para si. Se eu fechasse os olhos podia ver mamãe dançando na sala, papai rindo enquanto prepara o café da manhã e idólatra sua esposa. Se respirasse fundo, ainda podia sentir o cheiro de ovos fritos e panquecas meio queimadas. Levantei devagar abrindo a porta do quarto e me separando com a casa silenciosa e vazia. Tudo bem, eu sabia que nada iria mudar apenas porque a saudade me bateu.

Depois de um bom banho e ovos quentes na barriga saio para a biblioteca da pequena vila Avon. As pessoas me cumprimentam em todos os lugares, era bom morar aqui, era um lugar pequeno e afastado demais da civilização para que algo pudesse interferir em nossa vida mas, era como um pedacinho de paraíso flutuante. Paro na pequena padaria do senhor Mith, um estabelecimento rústico com algumas flores na entrada, várias cestas de pães já se amontoavam nas prateleiras enchendo toda a vila com o cheiro saboroso dos doces quentinhos que acabavam de sair do forno, faço uma pequena mesura e pego a cesta de bolos para os clientes.

- Lindo dia não é Ebby? - ele sorri enquanto pago a cesta, mesmo ele sendo obrigado a recusar o meu dinheiro acaba o recebendo depois de alguma insistência da minha parte.

- Sim, senhor Mith. - aceno para ele continuando meu percurso rotineiro ao trabalho.

Na verdade quase ninguém aqui gosta de ler mas todos gostam de bolinhos e eu sempre gostei de ter companhia na biblioteca, a senhora Reeys adora quando tudo está lotado, o sorriso dela é mais bela visão que eu posso ter durante o dia, é muito bom poder fazer ela feliz depois de tudo o que aconteceu conosco. Não demoro a bater na porta e ela abre sorridente, a senhora Reeys é uma idosa loba que já lutou bravamente por essas terras, seus cabelos são brancos e delicados e seus olhos esverdeados estão perdendo a visão aos poucos o que já deixa claro sua avançada idade.

- Loren, linda como sempre. Entre querida, já irei abrir as portas. - Não demorei a entrar e organizar os bolinhos sobre uma das mesas do centro da biblioteca e outra parte sobre o balcão da recepção.

- Como a senhora está hoje? - perguntei acendendo as lâmpadas uma a uma, avançando pelas paredes cobertas de livros bem organizados nas estantes altas.

- Ainda com inveja dos seus cabelos negros. - ela gargalhou alto abrindo as portas duplas. - Eu estou bem querida. Mas me diga, quando você me dará netinhos?

Depois da morte dos meus pais ela passou um longo tempo cuidando de mim como podia, a vila abrigava alguns humanos prometendo proteção contra os vampiros que são descontrolados nos limites do país. Desde então ela é como uma mãe para mim, aconselhando e ajudando como pode. Já tínhamos conversado sobre casamento antes, algumas regras aqui eram um tanto antigas como a idade de casamento.

- Não pretendo me casar Sra. Reeys. - sorrio me sentando sobre o balcão encarando ela com um sorriso meio zombeteiro pela naturalidade da conversa.

- Ah, mas o alfa gosta muito de você.  - minha pedra no sapato, Jurgen nunca me deixava em paz. Ele pensa que o motivo de eu estar aqui é porque me sinto atraída por ele, mas a verdade é que tudo fora daqui é desconhecido para mim, ainda que não tivesse medo de tentar a vida em outro lugar aqui foi onde meus pais viveram quase toda a sua vida e eu queria manter essa parte deles em mim.

- Não alimente as ilusões de Jurgen por favor.  - supliquei quase suplicando a ela para isso, e como um carma ele aparece na porta da biblioteca sorrindo. Jurgen não é feio, longe disso é o homem mais lindo que já vi. Cabelos castanhos claro e olhos âmbar, pele bronzeada e bem definido, mas não era o homem que me enchia os olhos, não conseguia olhar para ele e me ver acordando ao seu lado todos os dias da minha vida.

- Falavam de mim? - seu sorriso cafajeste estava lá estampado como um adesivo no rosto jovem, que escondia muito bem sua idade mas não suas intenções.

- Alfa, gostaria de ler algum livro em especial, algo sobre vampiros talvez? Recentemente eu achei um muito interessante em meu sótão Eu posso busca-lo, já volto. - Ela se ofereceu para nos deixar a sós, não adianta o que eu diga para ela isso sempre vai se repetir. A verdade é que eu não quero ter nenhum tipo de relacionamento com um lobo, nenhum.

- Como esta Ebby? Ouvi dizer que continua pagando ao padeiro. - ele ama me da ordens e como uma boa habitante da sua vila eu tenho o prazer de desobedece-las. Ele não consegue entender que não sou uma de suas ômegas obedientes.

- Eu recebo para isso. Não ouse dizer que eu não deveria. - minha paciência estava chegando ao fim, perdi as contas de quantas vezes rejeitei os pedidos dele, ou as ordens.

- Porque não pode ser obediente como os outros? - ele fechou os olhos ficando visivelmente irritado.

- Não se engane Jurgen, não sou um dos seus lobos. - rebati, o ar estava ficando denso. Vez ou outra nós brigávamos e coisas feias aconteciam.

- Tenho varias formas de faze-la ser obediente sem que precise ser através da dominância. - seus olhos agora vermelhos me faziam tremer mas não deixei que ele percebesse, ou pelo menos pensei que não.

- Continue sonhando com isso. - desci do balcão seguindo para o andar de cima e me afastando o máximo possível de sua visão.

Não sei em qual momento ele resolveu sair mas o burburinho em baixo me fez descer rapidamente para catalogar os livros devolvidos e coloca-los em seus devidos lugares em seguida. Como esperava o dia hoje foi cheio, a biblioteca estava lotada e eu não tive tempo de pensar naquele infeliz que vive me perseguindo.

- Loren, querida. Preste atenção, o Jurgen não é um péssimo homem. De uma chance ao seu coração apaixonado, você não é uma lupina querida não vai ser jovem pelo resto da vida. - estava pronta para sair quando ela me lançou essa chantagem emocional. - Faça essa velha sorrir um pouco vendo você ser feliz e bem cuidada. Só uma chance, que mal há nisso?

- Sim senhora. - eu sabia que ela já tinha cerca de trezentos anos ou mais, os dias da Sra. Reeys estava acabando assim como foi com seu marido, suspirei. Eu não gostava de fato dele e não queria de jeito nenhum me envolver com um lupino.

Fechei a porta atrás de mim notando a escuridão do lado de fora, as ruas da vila estavam bem iluminadas e gélidas. Meu corpo tremeu repentinamente denunciando que eu tinha esquecido o casaco e que o vestido largo não foi a melhor opção para o trabalho hoje. Abraçada a meu próprio corpo andei davagar ouvindo passos atrás de mim e de repente uma jaqueta pousa em meu ombro me cobrindo do frio.

- Esta querendo ficar doente? - Jurgen, o quão surpreendente seria se eu não esperasse essa atitude dele? Resolvi não responder como deveria e aproveitar em silêncio o calor que sua jaqueta me proporcionava. - Acho que já está doente...

- O fato de não lhe responder como deveria não quer dizer que estou doente, apenas agradecendo silenciosamente seu gesto. E não vou nem perguntar o motivo de estar sem blusa. - revirei os olhos, malditos lobos com resistência ao frio. Ele soltou seu melhor sorriso e parou na porta da minha casa.

- Acho que... - ele ficou confuso quando eu abri a porta.

- Vamos, entre de uma vez, que tipo de ser humano eu seria se não oferecesse um chocolate quente nessa tempestade?  - ele riu, dessa vez foi diferente eu nunca tinha visto um sorriso sincero dele.

Entramos, eu corri para a cozinha e ele fez o favor de acender a lareira enquanto eu começava a preparar os chocolates com amendoim e marshimellow. Coloquei as duas xícaras no balcão da cozinha e me sentei do lado oposto.

- Acho que vai chover. - ele sussurrou e como se alguma alavanca tivesse sido puxada de repente começa a chover e eu não consigo conter as gargalhadas e acabamos rindo juntos. - As vezes é bom ser lobo.

- As vezes? - questionei degustando do meu chocolate.

- Sim, porque me lembro que você não gosta de lobos. - seu olhar triste partiu meu coração em mil pedaços. Ah Ebby, não,  não, sua idiota sentimental. 

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