Capítulo 2

A janela é aberta por James soltando um sorriso satisfeito, hoje seria o dia em que me tornaria o imperador, o rei. Talvez fosse apenas um título comparado a qualquer outro, mas para mim não, era o meu destino, era algo que eu almejava desde criança. Sim eu faria sacrifícios a partir de agora, a cada mísero minuto eu o faria mas ainda sim valeria a pena quando em meus devaneios mais obscuros eu visse meu pai aprovando cada um dos meus passos.

 Ao sair do meu quarto ele deixou uma folha sobre a mesa e fechou a porta, me levantei davagar indo ao banheiro tomar um banho refrescante e deixar minha ansiedade de lado por alguns minutos. A água da banheira estava morna e repleta de espuma, normalmente eu não teria tempo suficiente para um banho tão relaxante, mas hoje não era um dia normal. Respiro pesado ao colocar minha nova farda tão ornada quanto a antiga em um branco reluzente e único. Escovo meus cabelos loiros para trás deixando um ar sério tomar conta do meu rosto jovem, os olhos azuis glaciais quase em uma total paralisia na feição que fui acostumado a manter. Ao abrir a porta me lembro do papel que James havia deixado na mesa e sabia que eram minhas obrigações diárias, ontem quebrei outro celular então esse seria o jeito mais simples de me passar as informações. 

Me apressei para tomar um café da manhã sozinho, o banquete foi imenso e finalmente comi do jeito que eu tinha vontade, em paz e em grande quantidade para suportar o dia agitado que viria a seguir. Todos estavam alvoroçados e sorridentes ao meu redor, os empregados do Castelo andavam rápido de um lado para o outro, com flores e tecidos, tapetes e jarros. Alguns ministros já perambulabam pelas salas de reuniões do palácio, parando vez ou outra para me seguir e me parabenizar ou desejar bençãos ao reinado, o padre estava a caminho e tudo teria que estar visivelmente perfeito em pouco tempo. O salão do trono estava decorado de vermelho, azul e branco com bandeiras espalhadas e a foto de todos os imperadores antes de mim, um orgulho inundou meu peito fazendo minha confiança aumentar consideravelmente.

- Majestade, Como se sente essa manhã? - era o pai de Lammona eu sabia, sua voz áspera me seguia por todo o lugar. Todo homem queria ter sua filha casada com o rei de uma das maiores potências econômicas do mundo, ele faria qualquer coisa e eu sabia disso. Infelizmente eu não podia fugir de Lammona, nunca poderei. Ela e sua família estão no topo da sociedade quase se igualando a realeza, ela seria minha noiva e logo depois minha esposa e eu nunca a amaria de verdade, eu não seria feliz e ela não se importava nem um pouco com esse sentimento.

- Me sinto poderoso, Juno. - declarei embora não fosse, me sentia corajoso mas não poderoso, triste de certa forma mas não com a celebração, me sentia triste por ter perdido as pessoas que eu amava e em seguida ter que tomar seu lugar tão rapidamente. Me sentia triste por ter que me casar com alguém que não amo e viver minha vida repleta de mentiras, de ter que fugir para manter minha liberdade e depois voltar novamente as algemas por vontade própria. - Confiante, decidido.

- Isso é ótimo, majestade. - Não podia repassar nada do que eu realmente sentia para ele, apenas o orgulho abafado e a confiança de que farei o meu melhor já me deixava com um olhar autoritário. Eu não podia tentar eu tinha que ser igual ao meu pai ou melhor que ele nesse reino; tinha que mostrar que não sou apenas um garoto assustado pegando um cargo pesado demais para as costas, sou um imperador agora.

- Como esta Lammona? - claro que isso não me interessava mas não poderia me casar com alguém e não demonstrar o mínimo de preocupação por ela, mas la no fundo eu sabia que todos tinham a certeza que eu não a amava.

- Esta feliz e ansiosa, majestade. - claro que está, ela não me quer, tudo que interessa a Lammona é uma coroa e poder nas mãos, dinheiro e status.

- Também estou. - menti novamente, minha vida era a base de mentiras descaradas que eu contava a mim mesmo para  simplesmente tentar manter as aparências.

Pedi que ele se retirasse e voltei ao meu quarto pegando o papel que James havia deixado, eu teria uma semana para resolver assuntos com os ministros e assinar algumas leis, na outra seria meu noivado com Lammona e em seguida uma série de viagens antes do casamento.  Respirei fundo anotando tudo mentalmente para não esquecer, hoje era um dia que eu não poderia ficar abatido, triste e muito menos ansioso eu teria que desfrutar e me alegrar com meu povo mostrando que o nosso reino continua forte e que um homem está a sua frente, um híbrido para ser sincero.

Meu lobo esta agitado, por mais que ele saiba o quanto sou obrigado a fazer tudo isso não teme em mostrar sua insatisfação, talvez meu lado insubordinado e dominante venha dele. Sorri satisfeito ao saber que meu melhor lado não era de fato meu, um garoto assustado que precisou se tornar homem em poucos meses antes que seu país simplesmente caísse em um profundo precipício.  As horas se avançavam enquanto eu fazia minhas obrigações e escutava atentamente as instruções de James para a hora da coroação embora a única frase que eu pude realmente focar foi: não surte, anotado.

Muitas e muitas pessoas a minha volta, todos me olhando como se esperassem algo de mim. Não surte. Eu me repreendia mentalmente andando por entre a multidão e me aproximando do altar onde o padre daria a bênção sobre a coroa. Meu estomago revirou ao sentir o nervosismo penicando minha pele e me lembrando que agora eu não podia mais voltar atrás, agora era tudo ou nada. Meu lobo se agitava em desespero e o caminho era aberto rumo a escada vermelha, o padre segurava a bíblia e falava algumas palavras em latim enquanto eu subia com as pernas tremulas e me ajoelhava diante dele repetindo a mesma coisa: não surte.

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