Uma Aliança Perigosa
Uma Aliança Perigosa
Por: Leni Guedes
Capítulo 1

Como acontecia todos os dias, Selena adentrou os portões da empresa Navarro já contando os minutos para retornar para casa; não que ela fosse o tipo de moça que gostasse de vida fácil; muito pelo contrário, ela orgulhava-se por ser uma pessoa financeiramente independente, o que significava que trabalho não era problema para ela. Problema mesmo era ter que encarar todos os dias um pai inescrupuloso — que não media esforços para ludibriar os seus adversários —, e uma madrasta odiosa.

Mas, mesmo querendo manter milhas de distância deles, a presença dela na empresa se fazia necessária, pois aquela era a única maneira que tinha de garantir que seu pai não roubasse o que restou das ações de sua mãe.

Depois de pensar no que o trapaceiro de seu pai era capaz de fazer para atingir os objetivos dele; ela muniu-se de coragem e caminhou em direção ao escritório, que deveria estar em clima de expectativa, pois Henrique Navarro — pai de Selena — estava prestes a fazer um bom negócio; ou pelo menos era isso que ele esperava. 

A transação que há qualquer momento seria consolidada era excelente e não poderia vir em hora melhor, já que a Munhoz Computer crescia consideravelmente a cada dia, marcando seu território no ramo da informática de forma que para Henrique era melhor tê-la como aliada do que como concorrente. 

A imponência das empresas de Henrique eram sem dúvidas superiores a de Ruy Munhoz, seja em material humano ou em bens materiais, mas apesar de estar em vantagem frente a grandes empresas; a credibilidade deles deixava a desejar, de modo que a Empresa Navarro estava perdendo espaço em um território que sempre fora dela; dessa forma, a fusão das duas empresas significava muito para Henrique, pois seria o começo de uma nova fase para a empresa. Com a credibilidade da Munhoz aliada ao tino empresarial dele não haveria espaço para concorrentes e ele reinaria absoluto. 

O pai de Selena, mais do que ninguém sabia da importância daquela transação e dos benefícios que ela traria e, com os ventos soprando a favor dele; Selena tinha certeza de que ele aguardava apenas o momento certo para agir e, se tudo corresse de acordo com os planos dele, em pouco tempo a Munhoz Computer estaria entre os patrimônios dos Navarro.

Frente àquela desagradável certeza, ela observou desapontada.

— Só espero que o senhor Munhoz volte a razão e perceba o erro que está cometendo ao aliar-se ao senhor.

— Pelo jeito como falou, Selena, você tem seu pai em tão baixo nível. — Henrique Navarro queixou-se aborrecido.

— O senhor há de convir que a sua reputação deixa muito a desejar. — Selena falou nada orgulhosa.

Resignado com a observação de sua filha, Henrique a repreendeu. 

— Guarde as suas opiniões para você. Devo adverti-la de que o assunto em pauta é a Munhoz Computer e não minha reputação. Por tanto, se você está aqui com o intuito de me ofender, peço que se retire. — Acrescentou indignado.

— Não perca seu tempo tentando dissuadir-me... Não sairei! — Selena revidou com o mesmo afinco encarando-o com desprezo; esquecida do que ele representava para ela. 

A postura dele diante da observação dela, não deixava dúvidas de que ele iria trapacear a Munhoz. Selena o conhecia muito bem para saber que por trás de qualquer negociação de Henrique existia algo escudo; algo ilegal. Era vergonhoso para ela, como filha, assistir de camarote seu pai manipular seus oponentes e arrancar-lhes tudo. Henrique não tinha limites. Para aumentar seu patrimônio ele não se importava em trapacear ou até mesmo roubar. O que não vinha por bem era arrancado à força. Seu pai não era apenas razão de vergonha como também uma verdadeira decepção para ela.

Diante do comentário de sua filha, ele viu-se obrigado a justificar-se.

— Apesar de minha querida filha ter uma opinião errônea em relação a minha postura; devo ressaltar que meu interesse pela Munhoz Computer é meramente profissional. Como os senhores diretores e acionistas devem saber, a Munhoz Computer goza de uma excelente credibilidade no mercado da informática; o que nos garante tranquilidade em nossas transações, redução de custos e trabalho de primeira qualidade, que somada a minha visão de mercado se converterá em lucro certo.

Diante da aparente falta de credibilidade de Selena em relação à visão de negócio de seu pai, um dos acionistas, se manifestou favoravelmente as expectativas de Henrique.

— Seu pai tem razão senhorita Navarro. O prestígio que a Munhoz tem hoje no mercado é muito grande. Tudo isso graças à intervenção de Daniel Barcellos que fez um verdadeiro milagre naquela empresa e hoje a Munhoz é sinônimo de sucesso.

— Daniel Barcellos?! 

Penélope Navarro até em tão calada se manifestou visivelmente perturbada; principalmente por que aquele nome soou familiar aos seus ouvidos e a remeteu há um passado longínquo e nada animador. Há um tempo em que sua liberdade dependeu de suas escolhas e sua juventude fora vergonhosamente usurpada. Não! Não deveria ser a mesma pessoa. O Daniel que conhecera permanecia no Brasil, morto e enterrado.

— Você o conhece “querida madrasta”?! — Selena a questionou em tom irônico. — É impressão minha ou este nome a perturbou. — Acrescentou em tom provocativo.

— Ao contrário minha querida. Foi apenas curiosidade. Se ele é um empresário tão bem sucedido, já deveríamos tê-lo encontrado nos inúmeros jantares que frequentamos. — Penélope falou altiva.

— Provavelmente, Daniel Barcellos, tenha mais o que fazer do que ficar colecionando jantares. — Selena falou sarcástica.

— Você está chamando-me de desocupada?! — Penélope perguntou ofendida.

— É o que você sabe fazer de melhor. — Selena enfatizou seca.

— Chega Selena! Se você não tem nada de construtivo para nos oferecer, retire-se. — Henrique falou contrariado apontando para a porta.

Num gesto de afronta, Selena levantou-se.

— Não saio. — Falou encarando-o e prosseguiu. — Enquanto eu for acionista, ninguém me tira daqui... Nem mesmo o senhor. — Acrescentou de nariz empinado.

— Acionista! — Henrique disse irônico. — Como se cinco por cento representasse muita coisa. — Completou debochado.

Selena o olhou de cima a baixo com desdém. Ignorando os demais acionistas e diretores, revidou.

— Realmente, não é muita coisa comparada ao seu número de ações. Eu poderia, por exemplo, ter vinte e cinco por cento das ações se o senhor não as tivesse roubado de minha mãe. — Acusou-o duramente.

Transtornado com a dura acusação de sua filha, Henrique gritou alterado. — Cale a boca, ou não respondo por mim.

— Vai fazer o quê? — Selena perguntou encarando-o fixamente. — Vai tentar matar-me como fez com minha mãe?

— Saia já daqui. — Henrique pediu desnorteado.

Como era de praxe as discussões entre Henrique e Selena, ninguém ousou interferir, de modo que pai e filha mantinham-se em pé medindo forças, por fim, Penélope levantou-se e interveio na discussão.

— Sente-se meu querido. Não caia na provocação de sua filha. — Pediu. 

Diante do estado emocional de seu marido, Penélope propôs adiar por alguns minutos a reunião e, dirigindo-se a Selena, pediu. 

— Por favor, querida, seja razoável com seu pai.

— Ser razoável com o homem que causou a morte de minha mãe. — Selena falou pausadamente. — Desculpe querida, mas você está pedindo o impossível.

Como o ar na sala de reuniões parecia rarefeito, Selena foi a primeira a retirar-se da sala, deixando Henrique num estado de nervos terrível, não apenas por causa da discussão deles, mas, porque, aparentemente, a Munhoz Computer mudou os termos do contrato no último momento. 

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