CLARIS:
O carro devorava quilómetros da estrada molhada. O cheiro a terra húmida entrava pelas janelas entreabertas, misturando-se com o aroma de medo que emanava dos nossos corpos. A chuva, que começara como um chuvisco suave, agora batia com força no para-brisas, criando um véu de água que dificultava a visão. Os meus nós dos dedos estavam brancos da força com que agarrava o volante. No banco do passageiro, a idosa permanecia serena, como se a nossa fuga desesperada fosse um simples passeio. Havia algo no seu rosto sulcado de rugas que me parecia estranhamente familiar. — Vira à esquerda no próximo cruzamento, menina — indicou, apontando para uma entrada que me afastava do destino para onde queria ir, a grande cidade. Como se lesse os meus pensamentos, explicou: — Eles vão esperar que sigas pela autoestrada. Tinha razão; tinh