Capituo 3: Lorena...
Se passou um mês, desde que comecei a trabalhar na mansão Lawrence. Sigo as regras conforme a senhora Lawrence me passou. Evito estar no mesmo ambiente que o seu marido e quando suas netas vem ela dá um jeito de sair com as garotinhas. Fico com pena de terem que ficar a semana toda num internato. Ao meu ver, é simplesmente impensável e prejudicial. Nessa idade, as crianças estão em uma fase de desenvolvimento absolutamente crucial, onde a base emocional e social está sendo estabelecida. E essa base é construída, primordialmente, através do vínculo seguro e constante com seus pais e familiares. Um internato, por mais bem intencionado e bem estruturado que seja, não pode replicar a intimidade, o afeto incondicional e a compreensão individualizada que uma criança de quatro anos precisa de seus pais. Nessa idade, eles estão aprendendo sobre o mundo através da exploração guiada pelo toque, pelo olhar e pela presença tranquilizadora de seus progenitores. Precisam de um colo que os acalme quando estão assustados, de um abraço que celebre suas pequenas vitórias, e da orientação diária que molda seus comportamentos e sua compreensão das regras e do mundo. Isso pode levar a problemas de apego, dificuldades em formar laços afetivos saudáveis no futuro, e até mesmo impactar negativamente sua autoestima e sua capacidade de confiar nos outros. Aos quatro anos, o aprendizado mais importante não é acadêmico, mas sim sobre pertencimento, segurança e amor. É sobre aprender a expressar suas necessidades, a lidar com frustrações de forma saudável, e a desenvolver empatia observando as interações familiares. Entendo que existam circunstâncias excepcionais, mas, em geral, a necessidade de uma criança de quatro anos é de estar em casa, com sua família, recebendo o amor e a atenção que são fundamentais para que ela floresça de forma saudável e feliz. É um período em que a presença dos pais é o alicerce de tudo em suas vidas. Estava no do quarto das crianças, passando um pano úmido na superfície, quando ouvi sussurros e risadas suaves vindo do corredor. Sorri ao desconfiar de quem se tratava, então parei por um momento e inclinei para escutar melhor. As vozes eram inconfundíveis, provavelmente Isadora e Isabella estavam tramando alguma travessura. Decidi entrar na brincadeira, fazer algo divertido. Cuidadosamente, aproximei da porta do quarto onde as gêmeas estavam. Com um toque de teatralidade, empurrei a porta devagar, fazendo um pequeno rangido que fez as risadas pararem por um instante. Quando as gêmeas se viraram para olhar, fiz uma expressão exagerada de espanto. — Mas o que é isso? Uma convenção secreta? — perguntei com uma voz dramática. — Posso me juntar a vocês ou estou prestes a ser capturada? Isadora imediatamente soltou uma gargalhada alta. Isabella ainda com um pouco de desconfiança nos olhos, não pôde evitar um sorriso tímido. — Não! É só a gente brincando! — exclamou Isadora, saltando em minha direção com os braços abertos. — Vem brincar com a gente! Agachei para ficar na altura das meninas e dei uma piscadela. — Só se prometerem não contar para ninguém que eu sou uma super-heroína disfarçada de arrumadeira! As gêmeas riram tão alto que parecia que o som ecoava por todo o andar da casa. Isadora pulou e disse: — Sim! Você é uma super-heroína! Vamos salvar o mundo... eu também quero ser uma super-heroína! Isabella finalmente se juntou à diversão e disse: — Você pode nos ajudar a construir uma fortaleza secreta? — Uma fortaleza? Isso é perfeito! —concordei animadamente. — Mas toda fortaleza precisa de um nome poderoso. Que tal chamarmos de Castelo das Gargalhadas? — exclamei e ataquei as pequenas com cócegas. As gêmeas gargalharam ainda mais alto. — Mas antes, tenho que terminar o meu trabalho! Mais tarde nós brincamos... — Por favor, Ló... — implorou Isadora, fazendo beicinho. Levantei rapidamente e comecei a organizar os travesseiros e cobertores do quarto. As gêmeas correram para me ajudar, trazendo almofadas e brinquedos enquanto riam e conversavam animadamente sobre como seria sua fortaleza. Enquanto trabalhávamos juntas para construir o Castelo das Gargalhadas, o ambiente estava repleto de alegria com risadas contagiosas. Não pude deixar de pensar em como seria se tivesse tido a oportunidade de estar com o meu bebê... e uma lágrima escapou dos meus olhos. — Tá tudo bem, Ló? — perguntou Isabella secando a lágrima com seu dedinho. — Está triste? — questionou Isadora. — Nós fizemos algo de errado? — Não, vocês me deixaram muito feliz... só estou com saudades de alguém... só isso! — Também estou com saudades do papai, mas a vovó diz que temos que nos comportar e entender que ele tem trabalho! — Vocês são muito lindas e compreensíveis! — digo acariciando seus rostinhos delicados. — Agora tenho que voltar ao trabalho, mais tarde brincamos! Elas começam a fazer cócegas em mim e eu nelas, tornando aquele momento mágico. Escutamos um pigarreio e rapidamente coloquei-me de pé. — Senhor Lawrence eu... me... me desculpe eu... — Não se desculpe, minha querida! Ouvir as gargalhadas das minhas netas é impagável! Fazia tempo que não as via tão felizes! Assenti com a cabeça e fui saindo do quarto, então o homem veio atrás de mim. — Gosta de crianças, Lorena? — Adoro! Crianças são sinceras, genuínas e com um coração enorme! — Isso é verdade, as minhas netas são especiais e meu filho viaja muito... elas sentem muito a falta dele! — Sei como é... Os meus pais morreram e sinto muita falta deles... sei exatamente o que elas estão sentindo! Não ousei perguntar sobre a mãe das gêmeas. Ele sorriu fraco. Pedi licença e levei as minhas ferramentas de trabalho para o próximo quarto. Desci até a cozinha. Enquanto a família almoçava na sala de estar, conversava com as funcionárias. Elas me contavam as fofocas da casa. Carla e Pedrina, são as cozinheiras. De repente, Joana entra correndo na cozinha, parece que o filho dos patrões chegou sem avisar. — Deixe que eu te ajudo a levar, Joana! — Obrigada, Lorena! Ela pediu para Carla preparar a mamadeira das meninas. — Mamadeira? — perguntei. — Sim, já tentei de tudo e elas não experimentam a comida! Só querem mamadeira e vez ou outra mingau! Achei um absurdo, óbvio que são crianças, mas os alimentos são essenciais para ajudar no crescimento. Fui com a mulher até a sala de estar e quando chegamos, o rapaz estava ao lado das meninas tentando fazer elas comerem.