Chovia muito e chegamos molhadas dos pés à cabeça no portão de entrada do condomínio.
O porteiro nos forneceu uma toalha e nos mandou seguir pela Rua C até a casa 50. Eu estava nervosa e com medo de não dar certo aquele emprego. Deus estava me ajudando. Terceiro dia naquela cidade estranha e eu já estava quase conseguindo um trabalho. Cruzei os dedos rezei uma oração.
Uma senhora alta, bonita e muito elegante abriu a porta e nos convidou para entrar. Era uma sala grande, com móveis caros e luxuosos mas completamente desarrumada e sem vida. As cortinas estavam sujas e empoeiradas e os vidros das janelas completamente embaçados. Morava alguém naquela casa?
- Bom dia, dona Marta, vejo que trouxe alguém, É sua filha?
- Bom dia, dona Marina, na verdade não. É uma amiga que está precisando mais do trabalho do que eu, então trouxe-a para que a senhora veja se não pode dar o trabalho pra ela.
Ela me olhou meio desconfiada
- Ela é menor de idade?
Eu sorrir meio sem graça e me aproximei dela.
- Não senhora, tenho 20 anos.
Ela franziu a testa.
-É baiana?
Merda! Meu sotaque.
- Sim.
- Hum... Mora aqui desde quando?
- Eu... minha família chegou faz uns meses e estou precisando de trabalho para ajudar na minha casa.
- Como se chama?
Eu não podia mentir. Se ela me contratasse ia precisar dos meus documentos
- Jade Maele.
- Sente-se. Vamos conversar.
Tentei parecer o mais natural possível.
- Sabe que o serviço é pesado não é?
- Sei sim.
- Alexander não queria uma empregada, mas eu acho que isso aqui tá uma bagunça e ele não está numa fase boa, portanto, aviso que ele não será muito educado com você.
- Tudo bem. Não ligo pra isso, não.
Ela pensou um pouco.
- Por mim tudo bem, se quiser podemos acertar tudo e você começa amanhã. Pode vim todos os dias agora no início, depois venha apenas três dias por semana, acho que é suficiente.
Meu coração estava a mil por hora. Louca para sair gritando de alegria.
- Tudo bem.
- Vou te pagar um salário mínimo de início, depois vejo seu desempenho. Pode ser?
Sim, sim, sim....
- Claro!
- Então tudo certo, amanhã você começa e vamos aguardar uma semana. Se tudo der certo eu peço seus documentos.
Respirei aliviada agradecendo a Deus por tudo ter dado certo. Eu iria me doar de corpo e alma para aquele trabalho. Aquela senhora parecia simpática. Se eu fizesse tudo certinho poderia conquistar a confiança dela e adquirir uma aliada ali naquela cidade. O dinheiro era o de menos, eu ainda tinha o suficiente para manter por alguns dias, o que eu precisava mesmo era de abrigo e de pessoas a quem pedir ajuda caso eu precisasse.
A mulher agora nos mostrava todos os cômodos da casa. Era uma casa grande de dois andares. Parecia recém construída pois tudo tinha aspecto de novo, mas a sujeira tomava conta de todos os cômodos. O que acontecera com a dona daquela casa? Por que um homem solteiro morava numa casa daquele tamanho sozinho? Bom, não era da minha conta. Estava ali para limpar a casa e não para especular sobre a vida do patrão.
- Então, amanhã você chegará às 7h, que ainda pegará meu filho em casa e ele te explicará melhor como quer que você faça o serviço certo?
- Tudo bem, amanhã às 7h.
***
Já de volta ao pensionato, abracei a dona Marta agradecendo pela ajuda em conseguir aquele emprego
- Não sei como te pagar o que fez por mim, dona Marta.
- Que é isso menina! É só não aprontar nada por lá.
- E eu vou aprontar o quê?
- Sei lá, ter um caso com o patrão ou roubar algumas coisa.
- Deus é mais, nenhuma das duas coisas. Só quero trabalhar.
- Hum... sei vocês adolescentes não são confiáveis.
- Não sou adolescente, tenho 20 anos e sei muito bem o que eu quero. Vou me firmar nesse trabalho e pretendo prestar vestibular e ser médica. Eu vou conseguir tudo que eu quero.
- Deus te ouça, menina.
- Ele vai ouvir, eu acredito.