O olhar cheio de raiva de Clarice parecia divertir Sterling. Ele sorriu de canto, um sorriso que trazia uma mistura de provocação e charme premeditado. Enquanto isso, seu dedo desenhava círculos preguiçosos na perna dela, e sua voz, rouca e carregada de malícia, ecoou: — Por que está me olhando assim, Clarice? Acha que eu sou bonito? Era uma provocação descarada, típica de alguém sem vergonha. Clarice, furiosa, cerrou os punhos com força e, sem pensar duas vezes, agarrou a mão dele e deu um beliscão firme, deixando suas unhas afundarem na pele. "Já somos ex-marido e ex-mulher, e ele ainda tem coragem de me provocar desse jeito? Como eu nunca percebi antes que esse homem era tão sem noção?", Clarice pensou, os olhos faiscando de irritação. Sterling estreitou os olhos ao sentir a dor. A força que Clarice colocou na mão era suficiente para deixar marcas, e ele não pôde evitar uma careta. — Você belisca forte, hein! — Ele murmurou, mas, mesmo com a dor, não retirou a mão da perna
— Você já deu 1% das ações do Grupo Davis para ela, então qual é o problema dela cuidar de você por um tempo? — Sterling rebateu, com a maior cara de razão. Para ele, dinheiro era a solução para tudo. Se Clarice tinha recebido uma compensação generosa, nada mais justo do que ela retribuir de alguma forma! — Eu dei as ações para ela sem esperar nada em troca! — Túlio respondeu, com a paciência já no limite. Ele sentiu uma vontade absurda de dar um tapa no neto. Na verdade, achava que da última vez tinha pegado leve demais. Talvez um tapa mais forte fosse necessário para ensinar Sterling a ter respeito. Clarice olhou para Sterling e deu um leve sorriso. — Nós já estamos divorciados. Agora você pode casar com quem quiser e trazer sua nova esposa para cuidar do seu avô. Antes, só de pensar na possibilidade de um divórcio, Clarice sentia que o mundo ia desabar. Mas agora, depois de tudo, ela descobriu que era possível se sentir aliviada. Não havia tristeza, só paz. E, para sua pró
Ao ouvir a voz de Túlio, Clarice congelou por um instante. Em seguida, entendeu o que ele queria dizer e imediatamente abaixou a cabeça para olhar embaixo da mesa. O pé de Túlio estava preso sob o dela. Naquele momento, ela percebeu que, tomada pela raiva, havia pisado sem pensar, sem sequer prestar atenção na direção. — Desculpa, vovô… — Clarice disse rapidamente, com as bochechas coradas, tentando se justificar. — A culpa é sua! — Túlio rebateu, bufando. Ele entendeu muito bem o que havia acontecido. Afinal, ele também já fora jovem. Mas, por não querer incentivar a reaproximação entre os dois, decidiu descontar a irritação em Sterling. — Isso é tudo culpa sua! — Vovô, você está sendo injusto! — Sterling protestou, claramente incomodado. Ele sabia que, no passado, Túlio sempre tentava unir os dois, mas naquela noite parecia que o avô estava contra ele. — Comam logo! — Túlio ordenou, lançando um olhar exasperado para os dois antes de soltar um suspiro cansado. Mesmo as
Enquanto Teresa experimentava e descartava uma peça de roupa após a outra, o tempo passava sem que ela percebesse. Mas, em seu coração, havia uma sensação de plenitude que ela jamais havia sentido antes. Naquele momento, tudo o que ela queria era encontrar Sterling o mais rápido possível. No escritório, a luz amarelada do abajur projetava sombras irregulares sobre os móveis antigos, impregnando o ambiente com um ar de história e mistério. O cheiro de madeira envelhecida pairava no ar, denso e carregado de memórias. Clarice estava parada diante da ampla mesa de madeira maciça, com as mãos entrelaçadas de forma nervosa. Seus olhos, cheios de incerteza e tensão, buscavam respostas nas paredes silenciosas. Túlio se levantou lentamente de sua cadeira. Ele caminhou até um armário de madeira escura, cujo aspecto antigo sugeria que ele havia visto mais décadas do que qualquer um naquela casa. Com cuidado, ele abriu a porta e retirou de lá uma pequena caixa delicada. A superfície da ca
— Clarice, eu sei que isso não é justo com você, mas... — Túlio fez uma pausa, e seus olhos começaram a marejar. — Eu já estou velho, minha saúde não é boa. Talvez um dia eu durma e não acorde mais. Clarice sentiu um aperto no peito ao ouvir aquelas palavras. Instintivamente, apertou a pequena caixa em suas mãos. — Vovô, não fale assim! Você vai viver muitos e muitos anos! Túlio sorriu de forma suave, como quem já havia aceitado as voltas da vida. — Já vivi muito, Clarice. Já não tenho medo da morte. Se eu partir, não quero que você fique triste. Apenas viva a sua vida da melhor forma. Ele sabia que devia muito a Clarice, que, em sua tentativa de protegê-la, acabava pedindo demais. Agora, tudo o que ele queria era que ela tivesse alguém para amá-la e cuidar dela. Clarice olhou para o sorriso tranquilo de Túlio e sentiu uma inquietação no coração. Por um momento, teve a impressão de que ele estava se despedindo. — Vovô... — Ela começou a falar, mas foi interrompida pelo to
Túlio decidiu não insistir na pergunta. Ele sabia que, se Clarice estivesse grávida, mais cedo ou mais tarde ele descobriria. As palavras de Túlio fizeram Clarice apertar instintivamente os dedos ao redor da pequena caixa. O metal pressionava sua palma, causando uma dor leve. Será que Túlio sabia de sua gravidez? — Esqueça, finja que eu não perguntei. — Túlio disse, percebendo que a pergunta a deixara desconfortável. Ele não queria forçá-la e preferiu deixar o assunto para lá. Ao ver a expressão de desânimo que passou rapidamente pelo rosto de Túlio, Clarice sentiu um aperto no coração. Ela abriu a boca para dizer algo, mas foi interrompida por batidas na porta. — Quem é? — Túlio perguntou, com a voz firme. — Sou eu. — Sterling respondeu do lado de fora. Clarice olhou para Túlio e disse: — Vovô, eu vou indo agora. Ela se levantou, pronta para sair. — Tudo bem. Mas cuidado no caminho. Quando chegar em casa, me avise, senão vou ficar preocupado. — Túlio respondeu, sem i
Alguns segundos depois, Clarice abriu a mensagem. Era uma selfie de Teresa. No fundo da foto, na parede, estava pendurado um quadro com uma foto de casamento que Teresa havia mandado editar, colocando ela e Sterling como se fossem os noivos. Clarice lembrou que, quando ela mesma havia colocado a foto original naquele mesmo lugar, Sterling a ridicularizou com comentários sarcásticos. Mas, na época, ela ainda acreditava no casamento e queria construir uma vida longa e feliz ao lado dele, ignorando suas provocações. Por insistência dela, a foto ficou pendurada ali por três anos. No dia em que Clarice saiu da Mansão Davis, com toda a correria para organizar sua mudança, ela acabou esquecendo de tirar a foto e destruí-la. Agora, com o divórcio recém-assinado, Teresa já tinha se mudado para a mansão. Teresa parecia mesmo não ter perdido tempo. Clarice pensou na ironia da situação. Durante o jantar na Mansão Davis, Sterling ainda teve a audácia de provocá-la. Por sorte, ela já havia
Jaqueline estava tão preocupada com Clarice que, por um momento, até esqueceu a dor causada pela notícia do encontro de Simão. Clarice desligou o celular e desceu rapidamente as escadas para esperar Jaqueline. Enquanto isso, Jaqueline desligou a ligação, trocou de roupa às pressas e saiu apressada de casa. Mas, ao abrir a porta, deu de cara com o rosto familiar de Simão. — Tão tarde assim, para onde você está indo? — Simão perguntou, com a expressão claramente irritada. Jaqueline abaixou a cabeça, evitando olhar para ele. — Eu não quero te ver agora. Volte para casa! Ela precisava de um tempo para colocar os pensamentos em ordem. — Jaqueline, você está fazendo birra comigo? — O tom de Simão era áspero. — Eu te disse aquilo não para que você se afastasse de mim! Jaqueline levantou o rosto e olhou diretamente para ele. — Então quer dizer que, mesmo estando com ela, você não pensou em me deixar em paz, é isso? A ideia de Simão querer que ela aceitasse ser a outra, vive