— Giulia, o que você disse? — A voz do outro lado da linha soou cortante, carregada de descontentamento.— Thi... Thiago! — Giulia estava apavorada, mal conseguia falar.Thiago. O advogado que morreu ao cair de um prédio há cinco anos. O mentor de Clarice.— Ele morreu há cinco anos! — O homem do outro lado reforçou, a voz grave e impaciente. — Pare de se assustar à toa!— Ele... Ele não morreu! Ele está vivo! Está bem na minha frente! — Giulia soltou outro grito, a voz trêmula de puro terror.— Alguém está tentando te assustar. Não diga besteira! — O homem a alertou com frieza.— Não é truque, é real! — O rosto diante dela era tão vívido, tão real, que o pânico tomou conta de seu corpo. O mundo girou, e, sem conseguir suportar o choque, Giulia desmaiou, caindo no chão.Seu celular escorregou de sua mão, batendo com força no chão. A tela rachou instantaneamente.— Giulia! Fale comigo! — O homem do outro lado da linha chamou por ela várias vezes, mas não obteve resposta.Ela estava inco
— Jaque... — Clarice estava prestes a falar quando a porta da sala de descanso se abriu. Jaqueline levantou a cabeça e encontrou diretamente o olhar do homem, um meio sorriso brincando nos lábios dele. Pensou consigo mesma que Clarinha tinha acertado em cheio—ele chegou rápido mesmo. — Ele veio te procurar. Conversem aí, eu te espero lá fora! — Clarice empurrou levemente Jaqueline, levantou-se e ajeitou a roupa antes de se virar. Ao ver o homem, sorriu educadamente e cumprimentou. — Sr. Simão. — Sra. Davis. — O homem respondeu formalmente. Clarice corrigiu suavemente: — Pode me chamar de Clarice. Antes, ela adorava ser chamada de Sra. Davis. Agora, esse título soava como uma piada amarga, algo que não lhe pertencia mais. O homem arqueou ligeiramente a sobrancelha, mas não disse nada. Clarice saiu sem hesitar. Assim que passou pela porta, o celular tocou. — A Giulia caiu na rua e foi parar no hospital. Está na emergência. O rosto de Clarice mudou sutilmente. — O qu
Clarice ficou momentaneamente surpresa, mas logo recompôs os pensamentos e sorriu antes de responder: — E os funcionários da Villa Serenidade? Por que você não menciona eles? Além disso, hoje em dia qualquer hacker pode modificar um endereço de IP. Quer mesmo me acusar com uma prova tão frágil? De manhã, quando Sterling tocou no assunto, ela nem levou a sério. Afinal, ela sabia que não tinha feito nada de errado e sua consciência estava limpa. Mas agora estava claro que alguém queria incriminá-la, como já havia acontecido antes. Talvez fosse hora de jogar na cara de Sterling as provas que havia reunido das armadilhas anteriores. — Os funcionários da casa têm mais de quarenta, cinquenta anos. Nenhum deles entende disso! Clarice riu com ironia. Então, segundo ele, pessoas de quarenta ou cinquenta anos não poderiam saber nada sobre tecnologia? Ele estava subestimando a inteligência de quem? — Meu avô quer que a gente marque logo a cerimônia de casamento. — Sterling continuou
— Clarinha, vamos almoçar? — A voz de Jaqueline soou atrás dela. Clarice afastou os pensamentos e se virou para encará-la. — Jaque, me desculpa, mas preciso ir ao hospital. Não vou conseguir almoçar com você hoje. Fica para a próxima, eu te convido! Ela tentou manter a voz estável, sem demonstrar emoção. Mas Jaqueline percebeu que havia algo errado. — Clarinha, foi o Sterling… — Minha avó precisa de mim. Vou lá ver como ela está. — Clarice a interrompeu antes que pudesse terminar a frase. Não queria que Jaqueline soubesse que, diante de Sterling, ela não tinha a menor liberdade. Que era como uma marionete, sempre sendo puxada para onde ele queria. — Então vai logo! Marcamos outro dia. — Jaqueline não insistiu. Sabia que Clarice jamais usaria a avó como desculpa, então, se ela estava dizendo que havia um problema, era porque realmente havia. — Até mais! — Clarice acenou, lançou um breve olhar para o homem ao lado de Jaqueline e saiu apressada. Ela caminhava rápido. N
— Se eu não digo, você não diz e Teresa também não diz, quem vai saber que você é minha esposa? — Sterling soltou uma risada fria. — Clarice, não testa a minha paciência. Sobe agora e cuida da Teresa! Clarice sentia cada fibra do seu corpo rejeitar aquela ordem. Ainda tentava lutar, agarrando-se à última esperança. — Sterling, eu preciso mesmo fazer isso? Se aceitasse cuidar de Teresa, essa mulher se sentiria ainda mais no direito de pisar nela. — Você pode recusar. Mas, nesse caso, o tratamento da sua avó será interrompido imediatamente. Desde pequeno, tudo que Sterling viveu e todas as pessoas com quem teve contato o transformaram em alguém frio, incapaz de sentir amor ou sequer entender seu significado. Para ele, usar Fernanda para controlar Clarice não era errado. No fim das contas, o mundo não funcionava assim? As pessoas não faziam tudo o que fosse necessário para alcançar seus objetivos? O corpo de Clarice tremia de raiva. Sterling era cruel. Para agradar Teresa, não
Agora que Clarice não gostava mais dele, Sterling também achava isso irritante. Não entendia por que se importava tanto com isso. O toque do celular interrompeu seus pensamentos. Ele atendeu. — Sr. Sterling, encontramos os outros dois mercenários. Mas já era tarde. Arrancaram a língua deles e quebraram seus braços e pernas. Estão vivos, mas... Vegetando. Não conseguem falar, não podem escrever. Não há nada que possamos extrair deles. Quem fez isso não teve piedade. — A voz do outro lado soava despreocupada, mas carregava um certo tom de provocação. — Ah, e sobre aquilo... Você já perguntou para sua esposa sobre o mentor dela, Thiago? Ou ainda não fizeram as pazes? A última frase veio carregada de um humor malicioso. Sterling soltou um riso frio. — Eu e minha esposa estamos muito bem. Quem disse que brigamos? No entanto, não pôde evitar que um pensamento surgisse. Quando, exatamente, as coisas entre ele e Clarice começaram a desandar? Provavelmente no dia em que ela pediu
— Não tenho motivos para ir. Melhor deixar pra lá. — A voz do homem carregava um leve tom de melancolia. — Você não quer ver sua mãe? — Sei que ela está bem na família Bennett. Isso me basta. — Por que não a levou com você? Você tem plenas condições de sustentá-la, não tem? — Na família Bennett, ela tem alguém que ama. Ao meu lado, não teria ninguém. Se eu a forçasse a vir comigo, ela murcharia. O caminho que sua mãe escolheu foi voluntário. Se ele a arrancasse dali, ela não seria feliz. E sem felicidade, a vida dela se esvairia mais rápido. Então, para quê? Sterling permaneceu em silêncio. Ele nunca havia pensado sobre amar e ser amado. Desde pequeno, só aprendera a sobreviver e conquistar o que queria, sem nunca refletir sobre sentimentos. O que era, afinal, o amor? — Esquece. Falar disso com você é perda de tempo. Quando um dia amar alguém de verdade, vai entender o que estou dizendo. A ligação caiu. Sterling ficou segurando o celular, se perguntando: o que era
Clarice hesitou por um instante, mas não teve escolha senão sair do elevador e pegar o celular para ligar para Sterling. A chamada, no entanto, estava ocupada. Provavelmente, ele estava falando com Teresa. Sem alternativa, ela se dirigiu à recepção para buscar informações. Assim que terminou de perguntar, ao se virar, seus olhos pousaram diretamente em Teresa, que caminhava em direção ao elevador de braços dados com Sterling. O sorriso doce no rosto dela contrastava com a expressão serena de Sterling. Naquele instante, um aperto desconfortável tomou conta do peito de Clarice. Ela respirou fundo, desviou o olhar e seguiu para a escada. Ao chegar ao andar da internação, parou diante da porta do quarto da avó e permaneceu ali por alguns segundos, tentando reunir forças antes de finalmente empurrar a porta e entrar. O quarto estava silencioso, apenas o som ritmado dos aparelhos monitorando os sinais vitais preenchia o ambiente. A imagem da avó, deitada na cama, com um tubo