Durante os dois anos em que Clarice foi enviada para o interior, sua avó, Fernanda, sempre a chamava carinhosamente de “Clari”. Os ovos que as galinhas e os patos botavam eram todos reservados exclusivamente para ela.Naquela época, mesmo vivendo no campo, Fernanda mantinha sua elegância. Vestia saias o ano inteiro, e sua beleza e postura faziam Clarice acreditar que ela nunca havia pertencido de fato à vida rural.— Clari, vem aqui, deixa eu te olhar! — A voz de Fernanda era fraca, mas ainda carregava o mesmo carinho de sempre. Após dormir por tanto tempo, ela estava muito debilitada. Mesmo aquelas poucas palavras pareciam consumir toda a sua energia, e ela ficou ofegante.Clarice se apressou em ir até a cama e sentou ao lado dela. Com cuidado, colocou a mão no peito da avó, ajudando-a a respirar melhor.Diante de seus olhos, Fernanda parecia apenas pele e osso. Ainda assim, era possível enxergar as linhas delicadas do rosto que, em outros tempos, tinha sido incrivelmente belo.— Minh
Clarice ficou imóvel por um momento, surpresa com a pergunta repentina da avó. Fernanda nunca tinha conhecido Sterling. Como ela sabia? A reação de Clarice, no entanto, foi interpretada por Fernanda como uma confirmação silenciosa. Fernanda sentiu o coração apertado, e seus olhos ficaram marejados. Ela se culpava por tudo, acreditando que era um peso na vida de Clarice. Na cabeça de Fernanda, Clarice havia se casado com Sterling por causa de dinheiro. Afinal, os custos do hospital eram altíssimos, e, por mais que Clarice trabalhasse incansavelmente, ela nunca conseguiria pagar tudo sozinha. — Clari, se ele não te ama, e você não está feliz, então deixe ele. — Fernanda disse com dificuldade. — Nem todo mundo precisa se casar ou viver ao lado de um homem para ter uma boa vida. Você também pode ser feliz sozinha. — Vó, eu estou bem, de verdade. Não precisa se preocupar. Aliás, que tal você ajudar a escolher o nome do bebê? — Clarice tentou desviar o assunto. Ela não queria falar
Clarice viu Sterling em silêncio, sem conseguir adivinhar o que ele estava pensando. No fim, respirou fundo, tomou coragem e segurou sua mão, puxando-o em direção à cama. Sterling abaixou os olhos para as mãos deles entrelaçadas, e um leve sorriso surgiu em seus lábios, formando uma curva sutil e quase imperceptível. Ao chegarem ao lado da cama, Clarice se inclinou levemente e falou com delicadeza: — Vó, este é o Sterling. Depois, ela deu um pequeno puxão na mão dele, como quem o incentivava a dizer algo. Sterling se inclinou, sorriu educadamente e cumprimentou Fernanda: — Vó, olá. Me desculpe por só agora conseguir um tempo para vir vê-la. Fernanda olhou para ele, depois para Clarice, e comentou: — Vocês dois são tão bonitos... Se tivessem um filho, com certeza seria lindo! Ela falou devagar, cada palavra saindo com esforço, mas o impacto de sua frase fez o coração de Clarice apertar. Ela havia pedido anteriormente que sua avó mantivesse segredo, mas ali estava Ferna
Os enfermeiros entraram rapidamente no quarto. — Vamos iniciar o procedimento de emergência. Por favor, os familiares devem se retirar! Clarice queria ficar, mas Sterling a puxou pelo braço e a levou para fora. Do lado de fora do quarto, Clarice sentia o coração apertado. A preocupação com sua avó a deixava completamente ansiosa. Sterling pegou o celular e fez uma ligação para Isaac. Após desligar, ele olhou para Clarice e disse: — Pedi para o time médico vir tratar da sua avó imediatamente. Além disso, o Isaac vai localizar especialistas para realizar uma nova avaliação. Sua avó vai ficar bem. Clarice, com os olhos vermelhos, olhou para ele e agradeceu, a voz fraca: — Obrigada… Sterling tirou um lenço do bolso e colocou na mão dela. — Enxugue essas lágrimas. Clarice, você é minha esposa. Ajudar sua avó é minha obrigação. Mas se você não fosse minha esposa, eu não me importaria se ela vivesse ou morresse. As palavras dele foram diretas, cheias de frieza e realidade.
Por isso, Clarice decidiu que, por enquanto, não contaria sobre a gravidez para Sterling. — Quando eu resolver tudo sobre a Teresa, não vou mais vê-la, está bem? — Sterling disse de forma objetiva. Ele não via problema algum em continuar encontrando Teresa, mas, como Clarice havia feito essa exigência e ele queria ter um filho, concordar era inevitável. A questão era que ele ainda não tinha finalizado os planos para Teresa. O salão de beleza que estava organizando para ela ainda não tinha saído do papel, e a reforma na casa que havia comprado para ela também não estava concluída. Quando tudo estivesse resolvido, ele não teria mais nenhuma pendência com Teresa e poderia cortar os laços sem peso na consciência. Clarice, por outro lado, não acreditou em nenhuma palavra. Para ela, enquanto Teresa estivesse viva, sempre haveria algo. Sempre haveria uma desculpa para Sterling continuar cuidando dela. Por causa da saúde da avó, Clarice sabia que não podia romper com Sterling naquele m
O toque do celular interrompeu os pensamentos de Sterling. Ele pegou o aparelho e viu que era uma ligação de Teresa. Seu semblante logo ficou sério, e ele franziu a testa. — O que foi? — Sterling, alguém invadiu meu quarto e me bateu. Foi horrível! — A voz de Teresa parecia trêmula, entrecortada por soluços. Sterling apertou os olhos, visivelmente irritado. — O que aconteceu exatamente? — Eu não sei! Eles entraram direto e vieram pra cima de mim! Depois de me baterem, fugiram! Sterling estreitou os olhos, desconfiado. — Vou ligar para o Isaac e pedir para ele investigar. — Você pode vir aqui me ver? Estou com muito medo! — Teresa pediu, a voz cheia de pânico. Ficava claro que ela estava realmente assustada. — Estou ocupado. Vou mandar o Isaac ir até aí. — Respondeu Sterling, seco, antes de encerrar a ligação sem esperar por mais nada. ... Do outro lado da linha, Teresa estava deitada na cama do hospital, com o rosto tomado pela raiva. Sua expressão era sombria, os
Clarice hesitou por um momento antes de perguntar: — Essa ideia de me dar folga foi sugestão da Teresa ou da sua mãe? As palavras que Teresa havia dito a ela ainda estavam gravadas em sua mente com cada detalhe. — Foi ideia minha! — Sterling respondeu, apertando levemente o rosto dela com os dedos. — Quero que você fique em casa para se preparar para a gravidez. Os olhos de Clarice se arregalaram ligeiramente. — Você realmente quer que eu tenha um filho? Ela sentiu que Sterling estava tentando testá-la, e isso a deixou desconfortável. — Nós já não combinamos isso antes? Vamos ter um filho juntos. — Sterling disse de maneira direta. Para ele, essa era apenas uma forma de fortalecer ainda mais o vínculo entre eles. Sterling não queria divórcio e também não queria buscar outra mulher. Mesmo que não amasse Clarice, ele pretendia passar o resto da vida ao lado dela. Clarice manteve a expressão neutra e respondeu com frieza: — Eu já disse antes, para eu ter um filho, você
Clarice encarou os olhos sombrios do homem à sua frente, sentindo uma dor surda no peito. Depois de alguns segundos de silêncio, ela finalmente respondeu com a voz baixa:— Teresa passou por mil dificuldades para ter esse filho. Você deveria valorizá-lo muito. Quanto a mim, se eu não quero, você pode me chamar de ingrata.Dizendo isso, Clarice empurrou Sterling com força e saiu do elevador.Ela não podia acreditar na diferença de tratamento. Ele tinha tanta consideração por Teresa, mas a tratava como uma máquina de fazer filhos. Já que Teresa já tinha dado a ele o que ele queria, por que ele ainda insistia nela?Sterling foi atrás dela com passos rápidos e segurou seu braço com força. Um sorriso frio surgiu em seu rosto.— Você não tem escolha.Clarice, irritada e sem paciência, não quis prolongar a conversa. Ela abaixou a cabeça e mordeu a mão dele com força.Sterling sentiu a dor e soltou seu braço por reflexo. Clarice aproveitou e correu, sem olhar para trás.Com o rosto fechado, St