Um Lugar ao Sol
Um Lugar ao Sol
Por: Tai Silveira
Capítulo 1

David

“Foi um sonho de verão numa praia…”

Quatro semanas de amor - Luan e Vanessa 

Ela era a garota mais linda que já vi em toda a minha vida. Talvez seja justamente por isso que o desejo de pedi-la em casamento tenha surgido de forma tão precoce. Naquele fim de tarde, nossos pés descalços afundavam na areia da praia, enquanto nossas mãos se entrelaçavam no caminho em direção ao mar.

Aquela praia deserta era um cenário perfeito para um momento romântico só nosso. Era o instante certo, e eu não tinha dúvidas.

 Antes de qualquer palavra, encarei seus olhos e, com o coração acelerado, coloquei sobre sua cabeça a coroa de flores, que havia preparado antes de vir. Ela combinava com seus traços – doces e rebeldes, ao mesmo tempo.  

Nos beijamos, e ela me pegou pela mão, apressada até a beira do grande mar. Eu a amava de todo o coração e queria me unir a ela o mais breve possível, embora a prudência sussurrasse em meus ouvidos.

 Mesmo assim, não hesitei: ajoelhei-me diante dela e, do bolso da minha bermuda, tirei a caixinha de veludo que guardava o anel com o qual sonhava pedi-la em casamento.

“Sim”, pensei. “Eu quero casar com ela agora. Não quero esperar mais nada.”

 Eu estava prestes a fazer o pedido, perdido entre pensamentos e no desejo de tomá-la nos braços, quando um barulho distante começou a se aproximar. Primeiro discreto, depois cada vez mais alto, até se tornar ensurdecedor e arrancar-me do transe em que me encontrava.

 “Droga! É o despertador!”

 Desliguei aquele maldito alarme com a força do ódio, ainda atordoado. Olhei em volta, desnorteado, e percebi: não havia ninguém ali. Só eu, no meu quarto, com o despertador gritando a todo volume.

Sai da cama, direto para o chuveiro, no banheiro do meu quarto. 

Aquele era um dia importante: meu dia de aula no turno da noite. Eu estava um pouco nervoso — não conhecia ninguém daquela turma.. Até então, sempre estudava de manhã, mas resolvi mudar no terceiro ano do ensino médio, na esperança de conseguir um estágio.

Acordei daquele sonho com gosto de quero mais, porém tudo o que me restava era um banho morno para aliviar a tensão — afinal, eu nem namorada tinha, quem dirá alguém com quem pudesse me casar.

O dia inteiro foi tomado pela ansiedade. Às vezes, parecia que os ponteiros do relógio conspiravam contra mim, arrastando-se lentamente. Em outras, o tempo disparava, e quando o fim da tarde se aproximou, tive a certeza de que as horas estavam voando.

Cheguei à escola e dei de cara com uma fila gigantesca de pessoas procurando seus nomes nas listas de turmas. Fui me enfiando no meio da multidão até encontrar as folhas dos terceiros anos. Lá estava o meu nome: turma 305.

Saí do empurra-empurra com cuidado, tentando não esbarrar em ninguém. Além do material escolar, eu carregava comigo o meu violão — e, com ele, nunca me sentia sozinho.

Felizmente, não esbarrei em ninguém e consegui sair ileso daquela confusão. Foi então que meus olhos encontraram a garota mais bonita que já tinha visto.

Ela parecia uma deusa: cabelos longos e negros, olhos azuis intensos, um corpo esculpido pela academia. Eu simplesmente não conseguia desviar o olhar, como se um ímã invisível me prendesse a ela.

Minha atenção, no entanto, foi desviada por uma gritaria e um burburinho que se formava próximo à sala onde eu estudaria. Saí do meu transe quando percebi que as pessoas se aglomeravam em torno de duas garotas, do lado oposto ao que eu estava olhando.

— O que é isso? Rebelião?

Imediatamente, fui levado junto à multidão que se formava para assistir à primeira briga do ano. E eu ainda nem tinha dado o primeiro passo na escola. “Imagina como será o ano letivo?” pensei, antes mesmo de conseguir observar direito o caos à minha frente: gritos femininos, um rapaz desajeitado ao lado de uma das moças.

Aquela cena deplorável marcou meu primeiro dia de aula no turno da noite.

“Seja lá o que for isso, espero que não vire rotina.” Fui me aproximando da multidão, para ver a cena com maiores detalhes. Foi então que pude ver uma moça de cabelos negros escorridos, segurando uma ruiva pelos cabelos e erguendo sua cabeça na altura da própria barriga.

— Sua cretina! Você não tem vergonha na cara, para ficar dando em cima do namorado das outras? – A moça de cabelos pretos e olhos amendoados dominava a ruiva com raiva. 

— Priscila, larga ela! – ordenou o rapaz ao lado dela. — Não aconteceu nada! Essa garota só estava conversando comigo, não houve nada demais!

— Seu cafajeste! Nem no primeiro dia de aula você me dá sossego. Acha que não te conheço o suficiente para saber o quanto você é mulherengo? – A garota não largava o cabelo da ruiva, que mal conseguia se mover. Sem ar nos pulmões, ficava vermelha como um pimentão.

 Naquele momento, só consegui pensar em me aproximar o máximo possível da cena. Pensei em diversas formas de ajudar a ruiva, mas todas me pareceram absurdas. Continuei observando, esperando o instante certo para intervir e tirá-la daquela situação.

— Vou te mostrar que aqui não é um galinheiro, sua galinha! Vai procurar tua turma e deixa eu e meu namorado em paz! — Priscila cuspia as palavras como se estivesse enlouquecida.

— Você perdeu o juízo, garota?! Veja lá como fala comigo! Não te dei intimidade! E tira suas mãos de mim! — A ruiva, tomada pela raiva, juntou todas as suas forças e empurrou a valentona, que perdeu o equilíbrio por um instante.

Nesse momento, eu resolvi agir, pois percebi a situação da menina e achei que ela podia desmaiar, então reuni toda a coragem que tinha e, na maior cara de pau, com o único intuito de ajudá-la, falei:

— Colega, tu tá viajando na maionese. Essa garota é nova na escola. Ela estava comigo, mas a gente acabou se perdendo um do outro. 

— Larga ela! Não ouviu o cara? Ela tá com ele! – Pelo visto, o rapaz sabia que era uma encenação, mas aproveitou a deixa pra convencer a namorada.

Se ela estava mesmo contigo, então fala qual é o nome dela, e aí eu largo ela. – A brutamontes ciumenta não era nada boba, e não caiu de cara no meu teatro. Mas eu tinha certeza de que ela também não sabia o nome da menina, então, fiz o óbvio: falei o primeiro nome feminino que veio à minha mente. 

— O nome dela é Bárbara. Agora, solta ela. — Olhei para o namorado da agressora. — Pode, por gentileza, fazer a sua namorada soltar a minha por bem? Ou eu vou ter que fazê-la soltar por mal? — perguntei, olhando para o rapaz, sem pestanejar. 

Quando Douglas finalmente segurou um dos braços dela, para fazê-la soltar a ruiva, Priscila resistiu.

— Tira a mão de mim! Eu já vou largar ela, seu babaca! Eu faço o que eu quiser!

Douglas a soltou, e Priscila finalmente liberou a garota, que se ergueu, tentando se recompor.

— Cuida melhor da sua amiga, porque se eu vê-la se assanhando de novo para o meu namorado, o pau vai comer. — avisou Priscila, saindo de fininho e puxando Douglas pela mão, passando entre os jovens e enxotando todo mundo, dispersando a todos. — Acabou o show, galera! Já podem ir arrumar o que fazer!

— Isso vai ter volta, sua cavala ridícula! Pode esperar, que isso não vai ficar assim! — Luciele pensou alto, em voz baixa, enquanto tentava ajeitar cabelo e roupa.

— Vocês não têm mais nada de importante para fazer, não? — perguntou a ruiva, no auge da indignação, afastando-se do lugar e deixando o burburinho para trás. Segui com ela.

— Eu até tenho pena do cara, mas se ele realmente não prestar, então tem a namorada que merece! — falei, e finalmente olhei com atenção para a menina ruiva que acabara de salvar. Ela tinha uma beleza naturalmente rebelde, com cabelos curtos e bagunçados. Exótica, uma garota diferente demais para não chamar minha atenção.

— Você chegou bem na hora, colega! Muito obrigada por me tirar dessa situação. — Ela olhou para mim, e eu esbocei um sorriso, que ela correspondeu imediatamente.

— Não por isso... Bárbara? — perguntei, ainda sem saber o verdadeiro nome da garota.

— Ah — ela sorriu, divertida, percebendo que eu realmente queria saber — Luciele. Meu nome é Luciele. Prazer!

— Prazer em te conhecer, Luciele. Meu nome é David, ao seu dispor. — Sorri, fazendo uma mesura para quebrar o clima de caos que ela acabara de viver.

“Que estranho! Tenho a impressão de que já vi o rosto dela antes… Onde foi que eu vi aquele rosto?"

Novamente me perdi em pensamentos, até ser chamado à realidade pelo sino da escola, anunciando o início da aula. Mais uma vez, o barulho me tirou do transe naquele dia, e segui para a sala, cumprindo meu destino.

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