Axel
Acordei sobressaltado com a vibração incessante do celular na mesa de cabeceira. Meus olhos ardiam, e por um instante, pensei em ignorar. Mas o zumbido persistente não me dava escolha. Alcancei o aparelho com um suspiro irritado, ainda grogue da noite anterior.
Mensagens, notificações, chamadas perdidas. A imprensa havia explodido.
"Axel Baumann confirma romance com inglesa e dedica gol ao futuro herdeiro!"
"Casal do momento: jogador e empresária grávida roubam a cena no estádio!"
"Declaração apaixonada? Veja o momento em que Axel aponta para Kimberly após gol decisivo!"
Li os títulos com o estômago revirando.
KimberlyO aroma do café fresco enchia a cozinha, mas o gosto amargo na minha boca não tinha nada a ver com a bebida. Meus dedos tremiam levemente ao rolar as manchetes no celular – fotos minhas, de Axel, do momento ridículo em que ele apontou para mim no estádio como se fôssemos o grande amor do século.— "O casal mais quente do momento!" — Kathleen leu em voz alta, girando o celular na minha direção com um sorriso maroto. — Olha só, até hashtag já criaram. #Kixel. Que horror criativo, mas você virou celebridade, irmã!O estômago se revirou, e empurrei a xícara com tanta força que o café quase transbordou.
AxelO carro deslizou pelas ruas de Londres sob uma fina garoa que parecia acompanhar meu humor. O vidro embaçado impedia que eu enxergasse muito além, e isso refletia bem a sensação dentro de mim. Um emaranhado de dúvidas e sentimentos que eu tentava organizar.O motorista conduzia com a discrição de quem estava acostumado a transportar segredos, enquanto Ettore, sentado ao lado dele, mantinha os olhos fixos na estrada, seu perfil impassível como uma máscara de pedra.Kimberly estava ao meu lado no banco traseiro, mas poderia muito bem estar do outro lado do mundo. Envolta em um sobretudo preto que engolia sua figura delicada e óculos escuros grandes demais para seu rosto, ela parecia ter construído uma muralha in
AxelQuando voltamos do exame de paternidade, encontrei meus avós prontos para voltar ao Brasil. Segundo Leonel, Anton e Aaron precisavam mais do seu pulso firme do que eu naquele momento. Foi o que ele disse ou, ao menos, o que deixou subentendido.Com sua partida, o ar da mansão pareceu mudar. Ficou mais leve, mais silencioso. Como se todos, inclusive eu, finalmente pudessem respirar. Leonel tinha esse efeito: era uma presença magnética, admirável, mas sempre exigente. Nos fazia andar na linha, mesmo quando não dizia uma palavra. E, no caso de Kimberly, parecia tê-la empurrado para o quarto e uma porta trancada.Ela não saiu do quarto desde que chegamos da clínica na tarde anterior. Eu me peguei algumas vezes parado diante da p
AxelQuando comuniquei a minha decisão a Fred, ele protestou, claro.— Você está sendo irresponsável — ele resmungou, os braços cruzados enquanto eu abria a porta do meu Aston Martin para Kimberly. — Leonel não vai aprovar isso.— Leonel não está aqui — respondi, segurando o olhar dele até que ele recuasse.Kimberly entrou no carro sem dizer nada, mas eu vi o canto da boca dela se curvar levemente quando Fred revirou os olhos.— Pelo menos deixe a gente seguir vocês — ele insistiu.Eu hesitei por um segundo. N&a
Leonel BaumannConvidei meus netos e Ettore para um jantar na mansão. Já era hora de decidir o futuro das Indústrias Baumann, e eu precisava de todos presentes para essa ocasião. Berenice, minha querida esposa, estava ao meu lado, lançando-me olhares de apoio. A sala de jantar, com seu lustre imponente e móveis antigos, estava preparada para uma noite memorável.Enquanto nos acomodamos à mesa, observei os rostos tensos dos meus netos. Aaron, com sua postura rígida e terno impecável, claramente estava à espera de algo importante. Paola, ao seu lado, tentava disfarçar sua ansiedade, mas o brilho em seus olhos a traía. Axel, sempre desconfiado, mantinha uma expressão cerrada, enquanto Anton, despreocupado, mexia no telefone e Annelise ria de algo que ele disse.Ettore, filho de um antigo funcionário falecido e meu homem de confiança, estava presente também. Para mim, ele é como um filho. Suas ações sempre foram pautadas pela lealdade e integridade, algo raro nos dias de hoje.O jantar tr
AaronVi meu avô sair da sala com passos firmes, deixando para trás um misto de incredulidade e choque em nossos rostos. Não era possível que ele realmente estivesse impondo tal condição para passar o controle das Indústrias Baumann. Um bisneto? Era isso que ele queria em troca do poder?Olhei para Paola, minha esposa, sentada ao meu lado. Ela estava linda como sempre, sua postura perfeita e seu rosto inexpressivo. Paola sempre foi a esposa troféu ideal, vinda de uma família tradicional paulistana. Elegante, educada, exatamente o que eu precisava para manter as aparências. Mas filhos? Esse era um assunto que nunca tínhamos discutido seriamente.Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Axel se dirigiu ao luxuoso bar no canto da sala. Pegou uma garrafa de uísque e serviu-se de uma dose generosa.— Alguém mais quer? — ele perguntou, sua voz carregada de sarcasmo e desdém. Ele nos olhou, sabendo que as chances de aceitar sua oferta eram poucas.Annelise foi a primeira a se levantar, ain
RebeccaDeixar minha cidade natal não foi uma decisão fácil, mas foi necessário. Minha paixão pela pintura sempre foi uma constante em minha vida. Meus pais, devotos fervorosos de uma vida simples e religiosa, nunca compreenderam essa paixão. Para eles, minha arte era uma distração tola."Você precisa se concentrar nas coisas importantes, Rebecca. Deus tem planos para você, mas a pintura não é um deles," meu pai dizia sempre, seu tom severo e inflexível. Minha mãe, embora mais compreensiva, também não conseguia enxergar além do horizonte limitado da nossa pequena cidade no interior de São Paulo.Quando finalmente tomei a decisão de ir embora, estava assustada, mas determinada. Juntei todas as minhas economias, coloquei minhas poucas roupas e meus materiais de pintura em uma mochila e deixei uma carta para meus pais, explicando minha partida. Peguei o primeiro ônibus para São Paulo, minha cabeça cheia de planos e expectativas. Quando finalmente desci na estação de metrô mais moviment
AaronNão consigo acreditar no que estou prestes a fazer. Meu coração bate descompassado dentro do peito, uma mistura de excitação e nervosismo. Mas não vou recuar. Tenho um objetivo em mente e farei qualquer coisa para alcançá-lo.Chego ao apartamento indicado por Eric e paro em frente ao número na porta. Demoro um momento antes de tocar a campainha, meu dedo hesitante sobre o botão. Mas logo decidi seguir em frente. Não há espaço para dúvidas agora. Preciso concluir isso o mais rápido possível.A porta se abre lentamente e Eric está lá, com um sorriso de satisfação no rosto, totalmente impróprio para o momento. Ele me dá um aceno de cabeça e me deixa entrar, fechando a porta atrás de mim.— Que bom que chegou. Pensei que tinha desistido. Eu permaneço no mesmo lugar e deixo-lhe saber os meus pensamentos.— Confesso que essa ideia passou pela minha cabeça — Digo, sentindo a tensão aumentar sobre os meus ombros.— Mentalize aquela velha e importante frase de Maquiavel: Os fins justifi