Lorenzo narrando
  O dia tinha sido longo, mas não no sentido físico — eu já estava acostumado a reuniões exaustivas, viagens, jantares corporativos intermináveis. O cansaço que eu carregava era outro: mental.
  No fim da tarde, quando finalmente consegui despachar o último executivo inconveniente do meu escritório, não quis seguir o roteiro habitual. Poderia ter ido direto para um jantar com investidores em um restaurante cinco estrelas, ou para o apartamento de algum arranjo conveniente que nunca durava mais que três meses. Mas não. Pela primeira vez em semanas, decidi voltar para casa.
  E não apenas voltar — jantar. Sentar naquela mesa de mármore que quase sempre fica vazia, com uma comida feita em silêncio por Margot e Amélia.
  Quando cheguei, não esperei anunciar nada. Deixei o paletó no encosto da cadeira e me sentei. Silêncio. O vinho estava na taça quando Helena apareceu.
  A surpresa dela me divertiu. Não pela inocência — eu não romantizo inocência — mas pela reação genuí