04. Um pouco mais

Chelsea

— Posso concluir que é algo para área interna da sua casa ou apartamento, certo? — pergunto depois de notar que ele assiste minha conversa solo com melissa com muito interesse. Provavelmente pensará que perdi meu juízo. — Aqui temos antúrios, eles precisam de poucas regas na semana.

Devo ser um pouco mais clara sobre os meios de cuidar delas?

Se estiver preocupado com o crescimento ou com a quantidade de vezes em que precisa regá-las. Não tenho tanta experiência de vendas quanto a minha irmã, apesar de nossos conhecimentos serem parecidos.

— É bonita — diz, e gostaria de que não estivesse me encarando tanto enquanto elogia as flores. — Essa também?

— São hortênsias, são ótimas para quem tem uma rotina corrida. Regá-la duas vezes na semana é o bastante para a manutenção dela, e como pode ver, elas são bem bonitas — profiro. Me arrependo de o olhar depois de seu silêncio, pois confunde um pouco do meu raciocínio, já que não disse nada de errado. — Violetas e Begônias também são opções para ambientes internos.

— Eu não sei muito sobre flores, se você me indicar o que acha melhor, vou aceitar com prazer — articula as palavras com tanta facilidade que minha cabeça dá um nó. Talvez a dor de cabeça chata esteja voltando para me irritar.

— Minha preferida seria a hortênsia, mas...

— Fico com as hortênsias — fala, me interrompendo antes que meu raciocínio fosse concluído. Eu poderia falar um pouco mais sobre elas antes de fazer a sua escolha. Decidir por minha causa é estranho.

— Certo, vou preparar para você. — Deixo as palavras saírem antes que todos esses pensamentos se acumulando em minha mente façam com que eu diga alguma bobagem.

As coisas voltaram ao normal depois que eu completar o seu pedido.

Uma pena que o restante das situações da minha vida não possam ser resolvidas desse modo. Os dias tranquilos que poderiam só ser aproveitados sumiram no dia em que a minha irmã se foi.

Merda! Passo a costa da mão em meu olho, empurrando a lágrima para longe da minha face. O que estou fazendo chorando na frente de um cliente que me ajudou? Perdi totalmente o controle das minhas emoções?

— Chelsea, precisa que eu te ajude? — questiona o homem e só queria pedir para que ele saia para que eu consiga chorar sem me sentir culpada, mas chorar não pagará minhas contas.

— Estou bem — minto descaradamente. Não preciso convencer ninguém acerca do meu estado. Creio que está obvio em todo o meu rosto sem que diga. As palavras apenas são ditas na intenção de que não continue perguntando sobre o meu estado. — Só preciso colocar a Melissa na sua cadeirinha.

— Se confiar em mim, eu posso segurá-la enquanto você faz o que precisa. Deve ser rápido, certo? — Bom, é verdade que será ligeiro, entretanto, ele ainda é um estranho, um que me ajudou. — Tudo bem, é aquilo que estava no chão com você, não é? — Meneio a cabeça, afirmando e ele se afasta e volta trazendo o que eu queria.

— Sinto que continuo tendo vontade de te agradecer quando nos encontramos — digo, preparando o vaso de hortênsias para que ele o leve enquanto Melissa assiste o que ocorre com atenção. Parece interessada pelo homem.

— Não precisa continuar agradecendo, apenas aceite — profere as palavras como se a parte mais importante delas tivesse sido ocultada. Ignoro os sentimentos estranhos se revirando dentro de mim e finalizo a sua compra o mais rápido que posso.

Quanto mais rápido ficarmos longe um do outro, menos terei vontade de encontrar as nuances por trás de suas palavras. Se seus olhos sumirem da minha frente, não precisarei me perguntar sobre o que podem esconder.

— Obrigada pela sua compra — digo, forçando o melhor sorriso que posso nessa situação, já que ele certamente deve ter notado que eu estava quase me derretendo em lágrimas há não muito tempo.

— Suas recomendações foram ótimas, vou voltar para ouvi-las outra vez — anuncia algo inesperado e vai embora sem permitir que eu tenha tempo de fazer qualquer réplica. O que foi isso? E por que seu cheiro continua aqui depois que se foi? Maldito perfume caro.

— Talvez eu deva só sumir? — pergunto a Melissa. — Acho que seria bom morarmos próximo à praia, o que acha, meu brotinho? — A menina somente se diverte com meu falatório sem saber o que minhas palavras significam. — Bom, se não fosse aquele escroto, eu poderia só abandonar tudo isso nas mãos de alguém mais capaz.

O que estou pensando? Minha irmã se reviraria no tumulo sem parar se eu escolhesse agir dessa maneira. Esse negócio era seu, mas nós o construímos juntas e tem tantas partes minhas aqui que é difícil considerar ir para longe.

Fugir não resolve os meus problemas.

Seria mais fácil se desse para resolvê-los dessa maneira.

— Meu brotinho, a mamãe tem que parar de esperar que as coisas funcionem e fazer elas acontecerem, não acha?

É isso, não há nada mais a ser feito, preciso apenas trabalhar.

Se eu entregar esse pedido, teremos dinheiro para algum tempo. Quem sabe para um período que me permita encontrar alguém que queira o serviço oferecido. Mesmo que minhas mãos caiam, preciso fazer funcionar de alguma maneira.

Desistir é uma palavra que arranquei do meu vocabulário no dia em que percebi que somente eu e essa menina tínhamos restado no mundo. Parte da minha família se foi, mas ela ficou comigo. Mesmo quando quis vacilar, percebi que não poderia, porque nós duas não estávamos mais sozinhas.

Apoio uma mão em minha barriga e respiro profundamente.

Até que essas crianças nasçam, eu preciso conseguir um meio mais estável de ter dinheiro. Enquanto eu puder cuidar delas, terei forças para persistir, mesmo nos dias mais difíceis. Só preciso persistir.

Aliso minha barriga repetidamente enquanto tento me lembrar de tudo mais que devo fazer antes de voltar à tarefa de fazer os arranjos de flores. Eles precisam ser perfeitos. Todos os clientes precisam saber que, mesmo que minha irmã não esteja aqui, o serviço ainda é igual.

O legado dela vai ser mantido, farei com que seja assim.

Só preciso permanecer lutando.

Apenas um pouco mais.

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