Harvey não queria ter que saber o que seu filho mais velho fazia na sala de arquivos, com sua secretaria, que também era sua namorada, mesmo que ele nunca tenha sido apresentado a ela.Foi o acaso que o levou até ali, já que o homem já estava indo naquele trajeto, então, o som. Mesmo que baixo. No momento, Harvey tentava esquecer tudo aquilo, pois odiava tentar imaginar o que estava acontecendo dentro daquela salinha. Ao andar até o escritório do filho, sabendo que teria que o olhar nos olhos, era difícil, pois acreditava que ficaria com aquela cena presa em sua mente por muito tempo.O homem pigarrou, ao entrar, olhando para as paredes e objeto. Ao olhar para a direita, lá estava a sala da secretaria, que estava presa nos arquivos, com seu filho.Obvio que o homem não era um conservador que nunca tenha feito algo assim com sua esposa. Muito pelo contrário. Harvey já brincou com os limites e o perigo, bem naquele andar, mas saber que seu filho fazia o mesmo, com a secretaria dele, era
Eu estava morta de vergonha.Não acreditava que aquilo realmente tinha acontecido - e pior, que tínhamos sido pegos por Harvey Novack. O pai do meu namorado. O chefe supremo daquele prédio colossal onde todos pareciam andar na ponta dos pés só de ouvir seu nome. Ele não era o tipo de homem que distribuía simpatia por aí, mas, para minha surpresa, não disse uma palavra ofensiva. Na verdade, ele me convidou - como se não tivesse acabado de testemunhar a cena mais constrangedora da minha vida - para aquele jantar. O mesmo jantar que eu tanto esperei, e agora só queria evitar a qualquer custo.Meu estômago parecia encolher a cada passo em direção ao inevitável. Eu iria encarar o pai dele. Sentar à mesma mesa. Trocar olhares. Falar. Depois do que ele viu. Tudo o que eu queria era apagar o dia anterior, riscar aquele momento da existência. Mas não dava. E o pior? Harvey parecia até respeitar algo em mim, o que tornava tudo ainda mais insuportável. Ele já me enxergava com um rótulo. Eu tinha
A casa estava em alvoroço, como se aguardasse a chegada de uma celebridade. Mas não era isso. Era só Noah. Noah... e Emma. Os irmãos estavam inquietos, como se algo fora do comum estivesse prestes a acontecer. David, o mais velho entre eles, ajeitava-se no sofá como quem se preparava para um espetáculo. No fundo, ele mal podia esperar para ver com os próprios olhos o irmão certinho - aquele que sempre disse preferir estar casado com a ciência do que com uma mulher - se rendendo a um romance.Era cruel jogar isso na cara dele, David sabia. Mas a provocação estava pronta, ensaiada, só aguardando a deixa certa. Só precisava de um olhar, um gesto, qualquer coisa que justificasse a cutucada que vinha alimentando há dias.Já a caçula da família, com os olhos brilhando de curiosidade e emoção, escondia mal a empolgação. Era a mais sonhadora entre eles, a que vivia dizendo que todo mundo merecia viver uma grande história de amor - inclusive Noah, com todo o seu jeito fechado, metódico e apare
- Por que não me falou sobre ela?A voz da Sophia surgiu assim que todos se afastaram. Emma incluída. Eu sabia que isso ia acontecer. Ela não deixaria passar - nunca deixava. Sempre fomos quase inseparáveis. E eu sempre cuidei da minha irmã como se fosse minha filha. E, sim, sou um irmão ciumento. Qualquer idiota que chegar perto dela precisa passar por mim antes. Não é exagero. É instinto. É proteção. Não vou permitir que ninguém a machuque. E se machucar... vai se ver comigo.Apesar da bronca, ela sorriu. Um daqueles sorrisos grandes, que escondem um pouco de mágoa atrás do brilho dos olhos. Sabia que ela estava chateada por eu não ter contado nada sobre Emma. Soltei um riso abafado, baixando a cabeça. Eu a conhecia bem demais para fingir que qualquer desculpa serviria. Então, decidi ser honesto.- É complicado, Sophia... Você me conhece. Antes de sair por aí dizendo que me apaixonei, eu queria ter certeza.- Mas isso não justifica esconder de mim - ela retrucou, emburrada. - Achei
A família toda estava reunida na mesa Emma se sentia minúscula e observando tudo. Aquela família era tão diferente. Dava para ver o quanto se amam e cuidam uns dos outros. O pai e mãe eram tão bons. Emma não teve a chance de ter pais assim. Eles se foram bem cedo e ela foi criada pela avó, e isso já era bom, Emma nunca reclamaria da mulher que a criou como filha, sempre esteve ao seu lado. Contudo, não significava que ela não poderia sentir um pouco de inveja. O pior, era Emma pensar, todo esse tempo, antes de Noah, que sua filha teria o mesmo destino. Obvio, ela jamais sairia do lado dela, só que Aurora não teria a oportunidade de ter uma família funcional. Naquele instante, ela pensou: "Mesmo estando com Noah, não significava que eles seriam uma família feliz. E se algo dê errado? E se Noah não quiser ser o padrasto de Aurora?"Emma foi além, pensando que, mesmo com todo o carinho que Noah sentia por sua filha, ele poderia deixar esse amor por ela e passar a dar toda a sua atençã
Tudo poderia ter sido perfeito depois que fui acolhida pela família Novack. Eles me trataram como uma igual, com carinho e respeito, e por um momento, a paz parecia possível. Mas o passado não se apaga tão facilmente - e Patrick não deixaria as coisas terminarem assim.Humilhado, escorraçado como um cão sarnento, ele fervilhava de raiva. Ninguém queria contratá-lo. Os olhares atravessados, os sussurros por onde passava... tudo o condenava. E na mente distorcida de Patrick, ele era a vítima. Ele não via erro em ter voltado a se aproximar de mim. Ao contrário - achava que eu merecia ser punida por ter cruzado novamente o seu caminho, como se a culpa fosse minha.E o que o corroía ainda mais era a dúvida. Aquela criança... não era possível que fosse filha de Noah. Eles tinham praticamente a mesma idade. Era do tempo em que ainda estávamos juntos. Isso o deixava inquieto. Incomodava-o porque, no fundo, ele sabia. Ele sabia a verdade, mas se recusava a admiti-la. Não queria pensar que pode
Eu deveria estar feliz. Deveria estar em paz. Meu trabalho era tudo o que eu sempre quis. E meu chefe - que também era meu namorado - era ainda melhor. Ele me tratava como uma rainha, com carinho, com respeito, com aquela intensidade silenciosa que só o Noah tinha. E minha filha... minha filha estava bem. Era incrível ver os dois juntos. Às vezes, parecia que Noah e Aurora se conheciam desde o dia em que ela nasceu. Ela corria até os braços dele com confiança, ria das caretas que ele fazia, e o som da gargalhada dos dois se espalhava pela casa, aquecendo até os cantos mais frios.Nosso jantar - ou sei lá o que aquilo foi - tinha sido perfeito. A família dele me acolhera com tanta leveza que até os comentários mais inusitados soavam engraçados. Era isso que eu queria pra mim. Pra nós. Uma família de verdade. Não como as do passado, quebradas e silenciosas, mas uma família unida, imperfeita na medida certa, e por isso mesmo perfeita pra mim.Mas, mesmo assim, tem algo apertando meu peit
A rotina começava, aos poucos, a voltar ao normal. O escritório era amplo, moderno, e carregava aquele silêncio cheio de ideias - o tipo de silêncio que pulsa criatividade. Noah estava na sua mesa digital, totalmente imerso no projeto. Os olhos brilhavam a cada novo comando, e seu entusiasmo era quase palpável. Ao lado dele, Sophia mantinha o mesmo foco, mas com uma leveza que só ela tinha. Era impossível não gostar dela. Inteligente, divertida, sincera até demais - do tipo que falava verdades rindo, e ainda assim deixava todo mundo confortável.Eu, sentada à minha mesa, com o cotovelo apoiado e a cabeça na mão, observava os dois em silêncio. Por um momento, me peguei sorrindo sozinha, perdida em pensamentos. Eu deveria mesmo agradecer. Por tudo. Pelo que a vida me trouxe... ou melhor, pelo que o destino me permitiu encontrar. Chamar de sorte seria pouco - parecia algo traçado com propósito. De alguma forma, Noah entrou na minha vida, e desde então tudo ganhou um novo sentido.Ele cui