𝑺𝒂𝒓𝒂 𝑳𝒊𝒎𝒂
Ugh, estou com uma dor de cabeça que parece que alguém jogou um caminhão em cima de mim, e ainda por cima estou tonta. Tentei me levantar, mas parecia que estava tentando levantar um elefante. Depois de uma luta digna de filme de ação, finalmente estou em pé e olho ao redor. Uau, onde eu estou? Esse quarto é chiquérrimo! Cortinas de dar inveja, uma janela de vidro linda e uma varanda que deixa a luz do sol da tarde entrar - quase uma cena de filme.
Decido explorar e vou até uma porta que, surpresa, é um banheiro. Lavo o rosto e dou uma batidinha nas bochechas, como se isso fosse resolver minha vida. Tenta focar, Sara. E, de repente, tudo volta à minha mente: a dor de perder Pedro e o fato de que meu pai, sim, ME VENDEU. As lágrimas começam a escorrer, o que só traz mais dor.
Enquanto passo a mão pelo criado-mudo, tento me segurar e topo com portas-retratos. Seguro um e... espera, não pode ser?! — eu falo sozinha, chocada. — É ele! O gato do hospital! Sério, como posso esquecer um cara tão lindo que eu literalmente esbarrei nos corredores?
Dou mais uma olhada na foto e, por um segundo, um sorriso brota no meu rosto. Mas logo o tiro, porque, pera aí: que diabos eu estou fazendo aqui? Ele ficou encantado e me sequestrou? Ou estava me vigiando? Claro, isso tudo tem a cara de um bordel, e meu pai me vendeu. Agora, o que eu faço?
Coloco o porta-retrato de volta e começo a andar de um lado para o outro, nervosa, até ouvir passos se aproximando do quarto. Maravilha, justo quando estou tentando não pirar, alguém aparece. Procuro algo para me defender e encontro um abajur. E olha que é bem chique, tudo aqui é ultra chique.
Fico pronta para atacar, porque não serei uma "garota de programa" de jeito nenhum. Guardei minha dignidade todos esses anos, e agora meu pai vai pagar por isso. Não dá!
Alguém começa a mexer na maçaneta e, com medo de encontrar meu "príncipe encantado", eu fecho os olhos, como se isso fosse me proteger.
— Ei... Ei, pera aí, menina! — diz um homem segurando meu braço com força, e eu continuo com o abajur pronto para o ataque.
— Não vou ser sua puta! — grito, lutando para acertá-lo, e então ouço:
— Que história é essa? — ele diz, e eu me afasto ainda mais, apontando o abajur para ele.
— Aqui não é um bordel? Para você me tratar como uma prostituta?— mesmo assim, não consigo confiar nesse homem. Ele é o mesmo que estava em casa quando fui vendida.
— Larga esse abajur, porque ele é o favorito do seu marido. — Olho para ele de cima a baixo e me pergunto: quando é que eu me casei com esse velhote? Será que meu pai me vendeu só para eu ser esposa desse cara? Que reality show de péssimo gosto eu entrei!
(...)
Oi, parece que estou a um passo do surto total! Sento na cama devagar, enquanto mil pensamentos batem na minha cabeça. Abaixo a cabeça, tentando entender esse circo, quando aquele velho - com seus sapatos caros - se aproxima. Ele pode ter dinheiro, mas nem em mil anos eu me deitaria com ele! Sério, depois de anos na castidade, agora vou me render a esse velhote? Dou uma olhada dele de cima a baixo e, ah não! Levanto da cama, me afastando: se alguém tem que comprar um par para se casar, definitivamente não merece o meu respeito.
— Não precisa me olhar assim. — ele diz, como se isso fosse resolver a situação.
— Olha, querida, só quero ser avô. — Ah, é só isso que o homem quer? Eu encosto na parede, e ele insiste em se aproximar.
— Não se assuste, mas já tem anos que estou tentando convencer meu filho a casar. E ele foge! A idade chega, a saúde vai embora e eu preciso ver meus netos nascer. — Ele para na minha frente, enquanto meu cérebro tenta processar essa loucura.
— E eu casei você com meu filho! Seu pai me devia. — Espera aí, o que? Ele me casou com o filho dele? Eu não me lembro de ter dado um "sim"!
— Que história é essa? Não quero me casar, não quero nem estar aqui! O problema é seu, que decidiu emprestar dinheiro ao meu pai. Se vira e me deixa em paz! — Passo por ele e vou em direção à porta, mas que surpresa: está trancada.
— Que maldição é essa? Abre essa porta agora! — Digo, encarando-o, enquanto ele se acomoda em uma poltrona e cruza as pernas como se estivesse em um filme.
— Não até você me ouvir. O seu pai me vendeu você, e ainda pegou o troco. Você me custou caro, mas como dizia o Pedro... — O que? Como ele sabe do Pedro? Fico alerta enquanto ele continua.
— Uma perda tremenda foi o Pedro! Ele não deveria ter morrido, era um verdadeiro homem, e te amava, Sara. Ele me contou sobre suas qualidades e é exatamente alguém como você que quero para ser mãe dos meus netos.
— Você me acha cara de parideira? Ou quem sabe uma barriga de aluguel? — Aponto o dedo para ele, que apenas sorri.
— Não, mas o Pedro disse que seu pai nunca foi bom para você. — Bom, nesse ponto, ele tem razão. — Quero cuidar de você, como o Pedro me pediu. Sei que você quer se formar, e eu tenho dinheiro para pagar uma bela faculdade. — Ele se levanta e toca meu ombro: — Seja uma boa esposa, faça meu filho Vinícius se apaixonar por você, e aí você vai ter até um restaurante. Pense direitinho, você tem uma hora. — Ele se dirige à porta e eu fico lá, paralisada, pensando: "Que safado! O Pedro morreu e já me jogou nas garras de outro!"
Começo a andar de um lado para o outro, pensando e colocando a vida em perspectiva, principalmente a vida sem o Pedro, que sempre me ajudava. E se eu recusar a proposta do velho? Vou ter que voltar para casa e, ah, juro que não quero ver meu pai de novo. Pensa, Sara! Olho para o retrato e um sorriso se forma: e se o filho do velho for aquele gato do hospital? Mmm, isso poderia mudar tudo! Um marido gato, faculdade paga, e quem sabe um restaurante.
Corro até a porta e grito descendo as escadas:
— Eu aceito! Onde assino?