O relógio marcava duas e quarenta e três da madrugada quando Crystofe empurrou a porta do escritório. O ar estava denso, saturado pelo cheiro cortante de uísque e por uma inquietação que parecia grudada nas paredes. Alexander jazia no sofá como um homem que abandonou a pretensão de ordem: gravata frouxa, paletó atirado num canto, garrafa pela metade sobre a mesa. Seus olhos vagavam, vazios, como alguém que segurou demais uma lembrança afiada.
— Você me liga desse jeito a essa hora, porque não está dormindo, vir correndo, pensei que estava ferido? — disse Crystofe, fechando a porta com tato, tentando não quebrar o silêncio. — O que houve?
Alexander ergueu o copo com mãos que ameaçava vacilar um pouco e demorou antes de falar. O líquido âmbar tremulou no vidro, um espelho frágil para o que havia dentro dele.
— Eu a vi, Crystofe… — a voz saiu áspera, mas com a convicção que o homem costumava exibir. — No portão da casa dela. Com as amigas. Rindo. Como se o mundo fosse simples e a noite n