Talvez a mudança que eu tanto quero, esteja na atitude que não tomo. Gideon concluiu,enquanto o advogado falava um monte de asneira.
Ele pensava nessa questão por sentir que estava na hora de trazer uma figura feminina para a sua vida e da sua filha.
Minha pequena Sofia precisa de uma mãe.
— Se atenha aos fatos Doutor Litti! — Inquiriu ao advogado de defesa.
Não era a primeira e tão pouca a última vez que teria que chamar a atenção do bacharel que passava totalmente dos limites.
O Lobo Negro está ao norte de Nevada. Foi chamado e está à frente de um caso de homicídio. O réu se chama Scott Ross e está sendo acusado de dois homicídios. Uma das vítimas foi encontrada em um depósito de lixo, a vários quilômetros do centro de Las Vegas, dentro de uma mala. Sendo denunciada pelo forte odor de podre que exalava. No seu interior estava o corpo mutilado de Jeremiah Flynn, homem de vinte e dois anos.
O causídico apresentou a vítima como um traficante de drogas que estava tentando negociar metanfetamina. Mas, a investigação da promotoria concluiu que Flynn, ofereceu ajuda a Ross para obter os ingredientes para preparar a droga, contudo, o matou para roubar os doze mil dólares que seriam usados na compra. Os policiais não encontraram a cabeça da vítima e o réu não fez questão de dizer.
Após a prisão Scott foi indiciado por outro homicídio, o de Jensen Grey, de vinte e seis anos, que teve o corpo desmembrado e enterrado no deserto do Arizona.
Apesar de o réu jurar inocência, as provas são irrefutáveis e o condenarão à morte… Gideon pensou satisfeito.
O mesmo não é tolo e sabe o porquê de ter sido chamado para presidir aquela audiência. Tudo para trazer os holofotes da mídia para a pequena cidade.
Seria rentável, se assim pode se dizer.
— Vossa excelência nós temos provas concretas que o réu é culpado. — O promotor falou sério se aproximando e entregando uma cópia ao juiz e outra para o corpo de júri.
— Protesto excelência essas provas não estão nos autos, não são legítimas.
— Protesto negado! — O togado disse sério.
— Mas meritíssimo isso é um absurdo e contrário as legislação.
O Lobo Negro se levantou mostrando a sua autoridade e o bacharel se calou. O juiz aprendeu que usar o silêncio evita brigas desnecessárias.
E o jurisconsulto precisa aprender por bem ou por mal...
Todos estavam calados esperando o desenrolar da audiência. Gideon olhou para o advogado esperando que ele se sentasse,para falar o que precisa.
— Doutor Litti, cabe a vocês produzirem as provas, convocar e preparar suas testemunhas e contratar peritos se precisar. Agora, durante a sessão cabe a mim, o juiz, zelar pela fairness dos procedimentos que sejam legais, que tenham a admissibilidade e a relevância das provas oferecidas a apreciação do tribunal.
— Mas vossa excelência eu...
— Ainda não terminei doutor, por favor, controle-se! Eu não faço favores, eu julgo segunda a lei. — Continuou com toda a calma que lhe competia naquele momento.
— Perdão meritíssimo. — O jurisconsulto redarguiu sentando-se.
O Lobo Negro continuou com seu discurso.
— Zelamos pela discricionariedade nos autos da promotoria. O promotor Zene colheu todas as provas e me apresentou a veracidade, antes de começarmos esta audiência. Então, jurados avaliem minuciosamente cada prova mostrada.
— Obrigada excelência! — Zene, o promotor do caso disse enquanto passava as provas do crime do réu.
Scott Ross olhava tudo de camarote e não se importava,era como se nada o atingisse.
— Recesso de uma hora, os júris vão se reunir e tomarão a decisão. — O magistrado anunciou e logo em seguida bateu o martelo.
A seleção do júri foi bastante rigorosa e aleatória. Todos foram investigados pela justiça e cada um que estava naquela bancada foi escolhido a dedo pela promotoria e pelo advogado de defesa.
Gideon não estava preocupado com o resultado, está na cara que o homem será condenado, é só uma questão de tempo.
—Todos de pé! — O oficial de diligências exigiu.
O juiz entrou com sua imponência e sentou-se em sua cadeira.
— Chegaram a um veredicto?
Ele quer acabar logo com tudo isso e ir pra casa.
— Sim meritíssimo. — A líder do júri falou, entregando o resultado nas mãos do Lobo Negro.
Ele olhou o resultado, depois devolveu a mulher.
(...)
— Está satisfeito com o resultado senhor? — Kleber perguntou retribuindo o sorriso que seu chefe lhe direcionava.
— Claro que sim meu amigo, meu sorriso entrega,ou não?
— Com toda certeza senhor!
— A propósito chefe, sabe que seu olhar assustou aquele advogado? — Caio, um dos seguranças perguntou e acabou recebendo um olhar de advertência do chefe de segurança.
— Deixo-o Kleber. Caio, o silêncio de um lobo impõe mais respeito que um cachorro latindo! Ele mereceu e como mereceu.
— O senhor aderiu mesmo ao apelido? — Questionou rindo.
— Se eles querem me chamar assim, então que assim seja. Mostrarei como um lobo reage a uma afronta.
O guarda-costas viu a sinceridade nos olhos de seu patrão, assentiu, e se voltou para frente.
Gideon pensava no resultado da audiência e se sentiu bem. O acusado teve o que mereceu. O réu foi considerado culpado e sentenciado a morte. Para ele a satisfação é tremenda.
Eles já estão desembarcando do avião. A viagem fora muito rápida. O celular do juízo vibrou, avisando que havia chegado uma mensagem.
Ele sentiu um friozinho na barriga desconhecido.
“Filho a Sofia, ela passou mal na escolinha, estamos no hospital...”
O seu coração disparava com tanta adrenalina que ele estava tonto. À distância para o hospital lhe parecia uma eternidade.
O pai entrou no hospital chamando a atenção de muita gente. Ele não estava só, além de Kléber, outros seguranças o acompanhavam. Um dos protetores lhe levou até sua mãe que quando o viu o abraçou desconsolada.
— O que aconteceu? — Interpelou tenso.
— A professora disse que ela se queixou de dores nas pernas e na cabeça. Uma das acompanhantes a encontrou desmaiada no pátio. — Mariana narrou o ocorrido, com sua face inchada, por causa do choro.
— Onde estão os médicos?
— A chefe da pediatria já foi buscar os exames e se não estiverem prontos, ela pedirá urgência.
Gideon assentiu, sentando na beira da cama pegando a mão gelada de sua menina.
— A médica já está voltando meu filho.
Sério, se levantou e estendeu a mão para a médica.
— Gideon Russell!
A doutora aceitou o cumprimento.
— Isobel Stevens podemos conversar em minha sala?
Eles sabiam que algo estava errado. A médica não esboçava nenhuma reação,mesmo assim ele sabia. O juiz entende afinal eles são treinados para agir assim. Entraram na sala, ambos sentaram em uma cadeira de frente com Isobel.
— Então doutora o que a minha filha tem? Por que ela não acorda?
— Sua filha está sedada. Ela está sentindo muita dor e o que tenho para dizer a vocês não é nada fácil.
— Fale doutora, não nos deixe mais aflitos. — Mariana pediu angustiada.
— Eu sinto muito senhor e senhora Russell a Sofia está com Sarcoma de Ewing.
Eles não entendiam do que ela está falando e a médica percebeu.
— Para ser mais direta, sua filha, sua neta está com câncer.
Ele levantou da cadeira, assustado.
— A senhora quer me dizer que a minha filha, minha filhinha, está com câncer?
— Infelizmente sim!
Dona Mariana já estava em prantos quando argumentou.
— Mas ela é tão nova e estava tão bem. — A avó questionou inconformada.
Isobel compreendia a recusa. Não é fácil receber esse tipo de notícia e tão pouco dar.
— Esse tipo de câncer é pediátrico e afeta crianças de cinco a vinte cinco anos senhora Russell.
Gideon estava em choque, ele não conseguia se conformar. Saber que seu maior tesouro, o melhor que ele tem, poderia partir é tão... Seus pensamentos fora interrompido pela voz de sua mãe.
— O que vamos fazer doutora?
— Outros exames. Dependo dos resultados, escolhemos a melhor forma de tratamento.
— Quais métodos? — Ele perguntou agitado.
— Ciclos de quimioterapia, até a extração do tumor e caso não der certo, ela será submetida a sessões de radioterapia.
O homem ouvia tudo horrorizado.
— Todas essas opções não são nada boas e ela vai sofrer muito. — Mariana falou nervosa.
— Infelizmente essas são as únicas opções para a sua neta.
Ouvir aquilo o feriu ainda mais. Ele se levantou nervoso, sabia que não podia fazer mais nada na sala da médica.
— Aonde vai filho?
Gideon virou para responder a sua mãe.
— Ficar com minha filha, afinal é a única coisa que posso fazer antes que ela morra.
Mariana entendeu a revolta do filho por isso não respondeu.