Tank sabia que os castigos da máfia eram crueis, mas ser julgado pelo capo tinha um preço muito maior. Endi era conhecido por deixar poucos homens vivos. Bem poucos. Não conseguia entender as razões para merecer aquela punição, acabou dando uma risada de desgosto quando descobriu o que aconteceria. Russo havia passado anos aterrorizando a própria filha e ninguém, absolutamente ninguém fez nada, achava impossível que durante todo aquele tempo, desde a morte da mãe, as pessoas não percebessem o absurdo que viviam. Tank estava sempre mal-vestido, não conseguia ir aos treinos e quando aparecia estava machucado, Amara também só conseguiu ganhar alguma dignidade quando o irmão se tornou um soldado, antes disso, apenas o básico, ainda que Russo recebesse um bom salário da organização pelo tempo de serviço prestado. Ainda assim, ele estava sendo condenado por falar algo que julgava ser verdade. Se lembrou da noite em que o próprio destino foi traçado. Estava com os outros soldados da org
Tank estava quase dormindo, ou talvez o mais correto seria dizer desmaiando, o calor e a sede o faziam pensar que ser arremessado para os jacarés fosse melhor do que sentir o ferro fervendo corroendo a sua pele. Ainda assim, mesmo com a dor e a agonia, às vezes, ele sorria. Sorria quando se lembrava da felicidade de Dállia sempre que ganhava um vestido novo, de como ela ficou com os olhos arregalados o dia em que ele segurou seus pés e pintou as unhas, e principalmente como ela dizia que o amava com um sorriso imenso quando terminavam de fazer amor. Era assim que estava, entre desejar a própria morte e se manter vivo em uma lembrança doce que Tank entendeu o significado do instinto de sobrevivência. Sentiu o cabo de aço se mover, o rangido metálico, o corpo estremeceu inteiro antes de reagir. Girou o corpo com toda a força que tinha, precisou de alguns impulsos até que se agarrou ao cabo de aço, uma tentativa que sabia ser inútil, ainda assim, tentou. Não olhou para baixo, só pa
Tank passou a mão nos cabelos, a dor o fez fechar os punhos e apertar os olhos. Deixou a irmã para trás, se esqueceu do lanche, o corpo implorava por algum descanso, mas o pensamento gritava por Dállia, queria falar com a menina, dizer que estava bem, procurou nos quartos, não encontrou as coisas de Russo. Ficou confuso.Continuou vasculhando e quando encontrou as roupas de Dállia ele gritou com o tom que misturava desespero e raiva. AMARA! A garota paralisou, estava limpando a bagunça que havia ficado no chão, mas largou tudo e correu para o andar superior. O coração acelerado, sem entender nada, ainda assim assustada. Tank quase nunca a chamava pelo nome.Encontrou o irmão retirando tudo de dentro do guarda-roupas, uma montanha de vestidos e ele pálido como se tivesse visto um fantasma. — TANK! O QUE ESTÁ FAZENDO? Ele a encarou segurando um dos vestidos de Dállia, os soldados que organizaram tudo acabaram se confundindo, tiveram ordens de não recolher as coisas de Russo e da e
Quando a ficha de Russo finalmente chegou, o soldado já tinha experimentado, ao menos, um pouco, do jogo que Endi gostava de jogar. O galpão tinha aquele cheiro de sangue seco e tabaco que encantava os sentidos do capo, não se lembrava quando havia começado a gostar daqueles cheiros, ou talvez sim, a primeira vez que torturou um homem era alguém que havia ousado desejar Mel Bianchi, a única mulher que ele se lembrava de amar. Acha estranho quando ouvia falar de segundos amores.Era possível amar duas vezes? Endi tinha certeza que não. — Tem tudo? — Tudo branquelo, o passado, o juramento, as missões, ele é daquele tipo. Daquele tipo, a forma como o subchefe chamava os soldados que pareciam não ter consciência, não entendia como pessoas podiam gostar de matar, ele detestava. Fazia, se fosse preciso, mas nunca por prazer. O capo permitiu que Rodolpho saísse. Russo estava com os tornozelos e os pulsos presos, uma amostra inútil de impotência, ainda assim, o homem tentava negociar, i
O capo deixou o jogo e a decisão para mais tarde, sabia a versão da filha daquele homem, mas não sabia ainda como ele era visto pela esposa, aliás a esposa que ele negava possuir. — Ela é a marmita que eu trouxe para casa, sabe como é, com a minha idade não temos mais a mesma condição de caçar na rua, mas jamais casaria com uma puta sob o código. Aquela resposta enojava e tranquilizava o capo na mesma proporção, não significava um atenuante para Russo, mas poderia significar um novo começo para a menina. Quando ela chegou, ele viu nos olhos de Dállia um tipo de bondade e doçura quase impossíveis de existir em alguém que vivesse aprisionada. O coração se acalmou por alguns instantes, mas foi realmente apenas por alguns instantes. Endi pediu para que Dállia fosse levada até a sua casa, queria que a menina se sentisse tranquila, Mel estaria por perto e Dállia não se sentiria em um julgamento, não era. Ao menos não o dela. Ouviu coisas tão pesadas que fizeram o seu mundo voltar para
Dállia ficou olhando para os presentes enquanto pensava que a única pessoa com quem gostaria de conversar, provavelmente já estava morta. Estava sozinha quando se olhou no espelho e se perguntou como se o reflexo pertencesse a outra pessoa. — Ainda aceitando presentes de monstros, Dállia? Apesar de Mel parecer um anjo, Dállia sabia perfeitamente que ela era casada com o homem que havia decretado a morte de Tank. Contou o que foi perguntado porque foi levada até aquela casa sem que ninguém perguntasse a sua opinião, mas Endi era a pessoa que mais odiava no mundo, a pessoa que tinha tirado dela bem mais do que qualquer um dos homens que cruzaram o seu caminho antes dele. Olhou em volta, o quarto era maior do que a casa em que morava com Russo e os dois filhos do ex-marido. Ainda assim, tudo o que sentia era saudade da antiga prisão, talvez os voos não fossem feitos para ela, gostava bem mais da gaiola em que vivia. Lembrou de uma coisa que chamava a sua atenção muito antes da prim
Tank tentou de todas as formas chamar pelo capo, mas nem Endi estava com pressa, nem os cães permitiram que ele chamasse mais de uma vez. Caiu e com a queda um dos animais subiu sobre ele enquanto o outro puxava sua perna, os dentes presos na calça, mas também na carne. Um tipo de pesadelo sem fim que parecia inútil lutar contra.E enquanto Tank lutava pela vida. Endi desceu as escadas com calma, olhou o sangue que invadia a sala por baixo da porta e pensou que teria trabalho para limpar o piso antes que a esposa voltasse.Abriu a porta, não porque queria ajudar e sim porque sentiu vontade de brincar com a coragem de quem havia tido a ousadia de invadir o seu espaço.Contudo, algo na determinação de Tank o fascinou. Demorou alguns segundos antes de dar o comando para os cães, havia apenas uma palavra capaz de pará-los, um idioma esquecido, mas não era apenas isso, aqueles animais respondiam apenas a sua voz ou do seu filho. — ETXEKOAKOs cães se afastaram, um deles ainda choraming
Enquanto falava se esfregava nela, perdia o controle todas as vezes em que ficavam sozinhos. Deslizou a mão entre as pernas dela, a sentiu molhada. Beijou os lábios da menina quase como uma prece silenciosa, a amava e não tinha ideia de como mudar isso. Afastou os cabelos de Dállia, abriu o registro do chuveiro, a despiu, testou a temperatura da água e entrou com ela no banho. Cuidou dela com carinho, em coisas que não tinha nenhuma relação com o prazer e ainda assim, a masculinidade continuava firme. Se ajoelhou na frente da menina, passou um óleo de banho que pertencia a irmã, deslizou uma lâmina de barbear pelas pernas da garota, a cada vez que descia a gilete Tank aproveitava para beijar as coxas de Dállia. — Tank, eu. — Me deixa cuidar de você, Dállia. De um jeito estranho ele se sentia triste por perceber que ela nunca olhava para si mesma, não havia vaidade, apesar da beleza sedutora que ela possuía. Ainda estava de joelhos quando a virou de costas, passou o rosto nas