Sombra atendeu a ordem do filho, não estava no condomínio, mas tinha quem repassasse sua vontade. Precisou ajudar um amigo e passou um tempo organizando isso. Não que o rapaz merecesse, mas, o atual conselheiro da organização acreditava que o amor não podia ficar preso a defeitos. Estava fazendo a sua parte, apesar de acreditar que quando o filho descobrisse, boa parte do que estava fazendo se perderia. Quando chegou encontrou uma espécie de acampamento no meio da área central do condomínio. Deu risada, eram centenas de pessoas que moravam naquelas terras e imaginou que seria no mínimo divertido se reunirem. Já fazia muito tempo que isso não acontecia. Encontrou Nick, o filho de Fera parecia perdido entre as crianças e a caçula de Sombra correu para os seus braços. Caiu com o impacto, mas não a soltou. — Esquisitinha! Era assim que ele chamava a filha, uma piada interna, a garota apesar de ser adotada tinha uma semelhança assustadora com a esposa do capo. Ajudou a organizar
Tank quase rosnou para Sombra e o senhor meio que se afastou com o cheiro de álcool, também gostava de tomar suas cervejas, mas aquilo mais parecia conversar com um tonel de destilado. E enquanto os outros soldados usavam ferramentas e chaves para tirar os parafusos e soltar as barras de aço que seguravam as lonas. Tank agia como um animal enjaulado arrancava as barras de aço do chão usando apenas as mãos. A dor era real, mas pelos cortes nas palmas das mãos, nem pelo hematoma que conseguiu quando puxou de mal jeito uma corda e o gancho que estava na ponta acertou o seu rosto, não era o corpo que doía. O suor ardia nos olhos, a raiva pode ser um combustível poderoso. E ele sentia ódio de cada homem e mulher daquele lugar, de todos, mas principalmente de si mesmo. Na mente perturbada pelo álcool e pela dor, a imagem de Dállia sendo beijada por um homem bonito, bem-vestido, inteligente. Tudo o que ele não era. — Por isso me pediu para usar aquela camisa idiota, né, sua puta! Era
Tank contou tudo o que achava ter acontecido no dia em que Dállia o mandou ir embora e por fim, confessou que teria aceitado ficar, mesmo depois do que viu. Achou que seria o momento catártico de Nick, que o rapaz se vingaria pelas coisas que ele havia falado sobre Olívia, mas não foi o que aconteceu. — Eu entendo. Também faria qualquer coisa pela minha Ratinha. Ela me deu tudo o que eu mais amo no mundo. Aquele olhar e os meus três filhos. — Então para, cara. Elas não merecem. Ela saiu do banheiro, me olhou daquele jeito, e eu... pedi pra tentar de novo. Prometi estudar, ganhar mais. Sabe o que ela disse? Que não me amava mais. Que queria viver. Viver o quê? Transar com meio mundo?Nick sentiu o mundo girar, enlouqueceria se Olívia falasse algo como aquilo para ele. Tentou responder com o que parecia mais certo. — Então já teve a sua resposta. O negócio é seguir em frente. E antes dela? Não tinha ninguém que mexesse com você?Tank pensou, mas era impossível. Nunca tinha havido al
Repetiu aquele ritual dezenas de vezes, bebia até que não conseguisse pensar direito, encontrava alguma garota disposta a sexo casual e a levava para casa. Em uma manhã, quando ele acordou ao lado de uma loira que nem se lembrava o nome foi o estopim que faltava. Precisava vê-la, já tinha tentado todos os conselhos que recebeu, desde o mais simples ao mais maluco, o único que tinha escolhido ignorar foi o de Dylan. — Vai por mim, se a ama do jeito que está me dizendo precisa fazer alguma coisa. E olha, não sou bom nisso, sei o que está sentindo e é uma merda. Eu já experimentei isso na pele e acredite, se acha que está doendo agora, só vai piorar. — Não sabe como me deixou mais tranquilo agora. — Não existe substituta, Tank. É simples assim. Pode ser uma mulher mais bonita, mais ousada, ou então aquela princesinha que você sempre achou que nunca alcançaria. Nenhuma vai tampar esse buraco no seu peito, só a mulher certa. — Não sou a melhor pessoa para dar conselhos amorosos, eu f
Tank voltou, tão decidido quanto quem cumpre apenas uma ordem, mas tão rápido quanto quem finalmente encontra a desculpa que precisava para fazer o que mais queria no mundo. — É uma ordem, quebro a cara dele e digo que foi o chefe quem mandou. Pensou enquanto freava o carro em frente a casa de Dállia, ainda passou a chave na lateral do carro esportivo. — Uma lembrancinha, otário. Os dois degraus da varando foram vencidos com um único passo, mas então o coração acelerou. E se ela estivesse abraçada a ele? Se abrisse a porta sorrindo? Se Julian estivesse sobre ela naquele momento e atendesse a porta nu? Desistiu de tocar a campainha, preferiu ver, mas quando se aproximou da janela de vidro, viu algo que o arremessou ao passado. Julian realmente estava tocando a menina, mas Dállia estava olhando para o nada, aquele olhar apagado que ele conhecia tão bem. A porta abriu, mas não porque ele tocou, a fechadura soltou da madeira com o impacto do chute. Julian estava com a mão na coxa
A levou para o carro no colo, Dállia deitou a cabeça em seu peito e Tank precisou parar com a sensação, sentiu uma espécie de choque que começou no coração, mas que fez com que cada músculo enfraquecesse. Beijou a cabeça da menina. — Eu te amo, minha flor. Dállia não respondeu, não com palavras, mas fechou os olhos, aquele era o lugar mais seguro e mais perigoso do mundo. Não entendia como podia ser, só que era exatamente assim que se sentia. Colocou a menina no banco do passageiro, deu a volta e quando entrou no carro puxou a mão de Dállia. — Não pode mais ficar naquela casa. Aquele filho da puta vai chamar a polícia. — Meu trabalho, eu deixei meu computador lá. Ele é meu chefe. A Mel me deu o computador de presente, eu preciso dele. O que eu vou falar para ela?— O QUE VAI FALAR? É SÉRIO? ESTÁ PREOCUPADA COM UM MALDITO COMPUTADOR? QUER TRABALHAR NAQUELE LUGAR, DÁLLIA, COM AQUELE CARA? QUER DAR PARA ELE TAMBÉM? ESTAVA GOSTANDO? Tank deixou que a raiva o consumisse, mas se arr
Tank reclamou, se lamentou e por fim, voltou a ficar bravo, achava que o fato de Julian ter sido convidado a entrar na casa de Dállia tinha uma explicação lógica. Ela estava outra vez por alguém que pudesse lhe oferecer algum conforto. Se lembrou de como ela chegava exausta do trabalho, queria poder oferecer isso a ela. A encheria de tantos presentes e mimos que Dállia nunca mais pensaria em outro homem, mas não tinha como mudar o passado. Endi havia lhe prometido que ele estava em uma missão, que isso mudaria o fracasso do dia em que fez o juramento para a máfia, mas o capo simplesmente desapareceu depois disso. — Eu não sou o que ela quer, cara. — Espera, dá um tempo, quem sabe. — Ela quer grana, e isso o tempo não resolve. — Dinheiro? Está falando da mulher que diz amar como se fosse uma peça em um leilão. Mano, você é muito ridículo, sério. — E o que mais? Ela gosta de mim, Nick, eu sei. Essas coisas a gente sabe. Mesmo assim ela me mandou embora. De dez coisas que disse e
Dállia abriu o pacote com o computador, não esperava por aquele cuidado. — É rosa.— Você gosta de rosa.Ela amava, principalmente aquele rosa perolado. O que mais a encantou foi o aplique com uma dália sobre a tampa do equipamento, passou a mão sobre a flor e foi como se ouvisse Tank a chamando de minha flor enquanto a possuía, a voz rouca, o jeito como ele a olhava, era tudo perfeito. Sentiu as lágrimas brotarem, mas se controlou. — Quer um café? Tank ficou olhando para ela por alguns segundos antes de conseguir responder, a voz saiu falhada. — Que.. queroDállia sabia que ele estava com medo, tinha visto aquela expressão tantas e tantas vezes. Russo chegava bêbado e Tank mudava, por mais que fingisse força o rosto ainda era de um menino. Se lembrou de uma cena antiga, algo que ainda a marcada. O rapaz havia levado um soco apenas por ter chamado Russo de pai. O rapaz estava com um amigo, o soldado tinha ido procurá-lo para falar algo sobre um campeonato, queria que Tank parti