Luz ficou em silêncio, estava deslocada. Queria ir embora, mas não sabia se já podia, talvez as meninas não acreditassem.Tank continuou bebendo, não falou uma única palavra e ela resolveu puxar assunto, achou estranha aquela caixa enorme sobre o sofá, talvez fossem jogos. Poderiam passar o tempo no videogame.Gostava de “Resident Evil” um jogo que consistia basicamente em matar zumbis, com certeza Tank também gostava, homens gostavam daquelas coisas.— Você joga?Perguntou enquanto abria a caixa e o rapaz se transformou, o silêncio se tornou uma explosão sem nenhum sentido aparente.— DEIXA ISSO AÍ!Ela se assustou, quase pulou para longe da caixa.— SUA MÃE NÃO TE ENSINOU A NÃO MEXER NO QUE NÃO É SEU?Luz encolheu os ombros, falou baixinho com os olhos cheios de lágrimas.— Não tenho mãe. Desculpa, eu vou embora.Tank ficou perdido, não quis ser grosseiro, com dois passos alcançou a menina e a segurou pelo braço.— Hei, Luz. Desculpa vai. Não deveria ter gritado com você.— Está tud
Dállia amava aquelas flores, mesmo sem perceber a ansiedade a fez acordar cada dia mais cedo, corria para a porta e sempre encontrava uma dália e um bilhete.O jeito dele ainda era o mesmo, conhecia aqueles bilhetes, antes Tank enviava com o almoço dela, agora com as flores e ela guardava todos.Quando a saudade apertava, ela relia.1º bilheteMinha flor.Acordei e pensei em você.É dificil escreve, mas mais dificil é fica sem você.Tô aqui. Sempre.2º bilheteMinha flor,você é minha paz que eu não mereçu.Mas mesmo errado, eu quero tudo teu.Eu volto pra ti. Sempre volto.3º bilheteBom dia, Eu não consegui dormir, estou com saudade.mas teu cheiro ta em mim.É você que me mantem em pé, flor.Eu te amo feio, mas é de verdadi.Ela tinha dezenas daqueles papeizinhos nas mãos, mas um dia eles pararam de chegar, as flores e os bilhetes. Não tinha mais nada além da notícia de que Tank estava namorando.Não soube o que sentir, deveria ficar feliz, era isso que queria desde o começo, mas
Amara estava feliz, mas Tank praticamente não conseguia ver a irmã, não percebeu nada, os dias passavam entre coisas que não queria fazer e estudos que até gostava.Dylan era um bom professor e Nick participava das aulas com ele.Mas depois dos treinamentos o rapaz saía apressado, tinha trabalho a fazer.Quase não dormia e isso o fez errar.Não deveria ser nada fora do comum, um traficante local não fez os pagamentos aos policiais que davam cobertura e apesar dos avisos o dinheiro não chegou as mãos que deveria.— Só apaga e deixa no meio da calçada. Vai servir como aviso.— Estou indo.Enquanto dirigia estava pensando em Dállia, em como ela dobrava a perna e se sentava sobre ela quase como uma criança arteira. Ele a levava para o trabalho com um peso gigante no peito.A queria em casa, com ele e não naquele lugar, ainda assim, sentia falta dos momentos dentro do carro.Duraram pouco, tudo tinha terminado rápido demais e isso era difícil de aceitar.Ao menos seria um trabalho rápido,
Um raio de sol entrava por uma pequena fresta aberta da janela, a casa de madeira era escura e o cheiro estranho, mas o brilho que entrava potente a encantou. Partículas de poeira dançavam na luz enquanto o corpo de Dállia se movia com o impulso do corpo velho sobre o dela.Os sons eram estranhos, bizarros, mas ela se focou na luz, no tímido raio solar e na poeira dançante. Já estava acostumada com a dor, a maioria das vezes nem incomodava mais.Foi virada de bruços sobre a mesa, a toalha branca ficou enrolada sob o seu corpo, os movimentos continuaram, firmes, violentos e acompanhados daqueles ruídos animalescos.E foi exatamente nesse minuto que tudo mudou.Quando Dállia foi virada sobre a mesa ela lamentou que não pudesse mais olhar para a luz e foi na escuridão que seus olhos cruzaram com os de Tank pela primeira vez.Ele estava ali, parado, olhando para ela como se visse um animal ser abatido. Uma mistura de desprezo e pena que a fez fechar os olhos, segurou mais firme na borda d
Ele era diferente, não se parecia em nada com os homens da comunidade em que Dállia vivia antes de ser vendida ao marido. Tank parecia rústico e ao mesmo tempo os olhos traziam uma força diferente, dilacerante, algo que a atraia.Mas os dias passaram e ele nem sequer a olhou, nem mesmo uma única vez. Tank passava por ela como se ninguém existisse, somente ele e Amara.De certa forma, havia beleza naquele desprezo, era como se Tank e a irmã pudessem viver em um mundo próprio, algo só deles, onde as risadas e as músicas se espalhavam pela casa de um jeito que Dállia achava lindo.Em uma manhã, depois que o marido saiu para o trabalho, ela se aproximou devagar do quarto de Amara, a música estava alta e os irmãos conversavam animados enquanto comiam algo que Tank havia comprado.Eles não comiam nada que ela cozinhasse, não importava o quanto Dállia se esforçasse para agradar, Tank sempre passava em algum lugar e trazia marmitas que dividia com a irmã. Se esforçou para ouvir o que falavam.
Tank voltou para casa após o treino ser cancelado, detestava todas as vezes que isso acontecia, mas Dylan não era um soldado comum, tinha manias estranhas, não avisava quando faltaria e vivia correndo atrás da mulher como um cachorrinho abandonado.Ninguém achava Zoey bonita o bastante para receber tanta atenção, mas jamais alguém ousou falar isso, ao menos não para o chefe de treinamento. Seria como pedir para passar uma longa temporada no centro médico e talvez, nem voltar.Abriu a porta com um humor péssimo, odiava aquela casa e tudo o que ligava ao pai. Russo nunca foi um pai amoroso, mas as coisas tinham piorado muito desde que a mãe de Tank faleceu.Respirou fundo e entrou, teria ido direto para o quarto se a música que vinha do quarto da irmã não tivesse chamado a sua atenção.— Amara, droga! Faltou à aulaReclamou apenas em pensamento, não quis chamar atenção da irmã, achou que a pegaria em flagrante. Precisava que ao menos Amara tivesse um futuro, que alguém daquela família f
Um amor impossível, os dois sabiam, não podiam continuar. Russo era um homem da máfia, um homem marcado por dores que o transformaram, temido pela sua capacidade de matar sem sentir, odiado por todos, até mesmo pelos filhos.Ela tentou falar, mas ele a segurou mais forte, mais perto, subiu a mão pelas costas de Dállia, ela tremeu.Tremeu porque nunca havia sentido nada parecido, nem mesmo teve chance de conhecer o amor.Antes aprendeu sobre dor, crueldade, submissão.Mulheres como ela não podiam amar, como aprender sobre algo que nunca viu?O rapaz deslizou a mão, que antes segurava o rosto dela, gostou da textura da pele.Uma mulher podia ser tão suave?Aproveitou com carícias lentas. Cuidadoso, quase como se tivesse medo de machucá-la.Os olhos acompanharam a mão, deslizou o polegar pelo pescoço delicado, desenhou os ossos da clavícula exposta pelo vestido. Aquela visão parecia incendiar sua alma.Segurou a coxa da menina e ergueu a perna de Dállia a fazendo enlaçar sua cintura. Pre
Tank chegou segurando uma caixa enorme, não olhou para Dállia, só colocou o embrulho sobre a mesa e ela ousou falar com ele pela primeira vez desde que o rapaz a deixou no quarto abraçada ao próprio corpo.— O que é isso?Tank não sabia o que responder, havia demorado horas escolhendo o vestido que achava que ficaria perfeito no corpo dela. A menina era linda, mas estava sempre usando roupas sensuais.Parecia um anjo vestindo roupas que simplesmente não combinavam com ela.Sabia que o pai a obrigava a se vestir daquela forma, já tinha visto várias vezes ele chegar suado e colocar as mãos no corpo da menina. Ela não era sua esposa, era uma boneca que ele tinha comprado.O rapaz achou que também podia pagar, talvez um presente, mas por alguma razão achava que aquele vestido delicado combinava bem mais com a madrasta do que as roupas que o pai jogava no chão gritando para que ela vestisse.— É para você, por aquele dia. O pagamento.Dállia sentiu o coração despedaçar no peito, as lágrima