Um grupo de pessoas se aglomerou, mas eu não me movi, permaneci sentada calmamente no meu lugar.
Fiquei ouvindo as saudações deles e, depois de muito tempo, levantei a cabeça devagar e olhei para Mário.
Ele não tinha mudado muito em relação ao passado.
Mário vestia um terno caro, e Kátia segurava seu braço; quando se entreolhavam, havia muito carinho em seus olhos.
Ele estava cercado de pessoas e não percebeu minha presença no canto.
Depois de tantos anos, ele continuava sendo o centro das atenções, sempre o foco por onde passava.
A única pessoa que não estava bem era eu.
De repente, Kátia, com um sorriso no rosto, fez sinal para que Mário olhasse na minha direção.
— Mário, Cláudia também veio. Vocês não se veem há tantos anos, aproveitem para conversar. E, olha só, Cláudia ainda trouxe uma surpresa.
Ao ouvir "surpresa", o rosto de Mário não demonstrou nenhuma reação.
Ele primeiro pediu para Kátia o foie gras de que ela tanto gostava, e só então levantou os olhos para me encarar.
Tomás, um pouco assustado, agarrou-se à barra da minha roupa, parecendo desconfiado.
Mário obviamente também percebeu Tomás e, no rosto antes impassível, surgiu uma expressão de choque.
— Cláudia, o que está acontecendo?
Ele se referia a Tomás.
Eu nunca tinha mencionado Tomás para eles, por isso, ao verem que eu o tinha trazido, todos exibiram praticamente a mesma expressão.
Surpresa, zombaria.
Kátia fez questão de apresentar com entusiasmo.
— Mário, este é o filho da Cláudia. Olha só como ele é fofo, parece tanto com ela, já está grandinho, né?
O olhar de Mário ia e vinha entre mim e Tomás.
No final, ele ficou me encarando por um bom tempo.
Quando achei que ele não falaria mais comigo, ele finalmente falou, com a voz um pouco rouca.
— Nunca imaginei... Depois de alguns anos no exterior, você já se casou e teve um filho?
Levantei a cabeça e o encarei diretamente.
— Estou casada há alguns anos. Desculpe por não ter lhe contado.
O ambiente ficou em silêncio, ninguém disse uma palavra.
Mário me encarava, claramente incrédulo.
Kátia estava prestes a falar, mas Mário já havia se aproximado de mim.
— E o seu marido?
Baixei os olhos.
— Ele não pôde vir, estava ocupado.
Imediatamente, começaram cochichos ao redor, acompanhados de risadinhas.
Porém, por consideração a Mário, os convidados se contiveram e as zombarias não passaram dos limites.
O semblante de Mário era sombrio.
— Ele deixou você voltar sozinha do exterior? Uma viagem tão longa... Ele não tem medo de que algo lhe aconteça?
Esbocei um sorriso amargo.
— Naquela época, também fui sozinha para um país distante, e ninguém se preocupou se eu teria problemas.
— Agora que já sou adulta, menos ainda precisam se preocupar.
Na época em que ele me mandou para o exterior, eu nunca tinha viajado de avião sozinha, tampouco ido tão longe.
Estava cercada de desconhecidos e o medo de não falar a língua me consumia de desespero.
Mas ele nunca se importou.
O olhar de Mário ficou ainda mais frio.
Durante todo o jantar, quase não comi nada, sentia-me desconfortável.
Todos elogiavam Mário, exaltando o quanto ele e Kátia eram um casal perfeito e apaixonado.
Mas eu só queria ir embora dali logo e levar Tomás para descansar.
Alugando uma casa aqui, que nem seria tão cara, e arranjando um emprego, eu e Tomás teríamos uma vida tranquila.
Já não queria voltar para o exterior.
Depois do jantar, saí com Tomás, mas fui chamada por Mário.
Kátia também estava presente.
O olhar dele era gélido, e a voz, fria como gelo.
— Cláudia, agora que eu e Kátia estamos casados, espero que, daqui para frente, você não interfira mais na minha vida.
Kátia sorriu, encostando-se ao ombro de Mário.
— Mário, a Cláudia não faria isso. Ela já é mãe, sabe o que deve fazer.
Eles pareciam um casal apaixonado, enquanto eu continuava sendo a pessoa sobrando.
Não importava o tipo de promessa que eu fizesse, eles nunca acreditavam.
Assenti com a cabeça.
— Nunca mais, pode ter certeza.