Percival - Capítulo 4 - Salão das Estrelas

Assim que Tori caiu no sono eu voltei para meu quarto encontrando minha mãe cochilando em minha cama. Ela estava mais magra e sua expressão mais majestosa do que nunca.

Minha mãe era uma rainha amada por toda Solares e reinos aliados, e eu conhecia toda sua história e as guerras que só uma verdadeira rainha podia passar.

- Vai ficar parado como uma estátua ou vai abraçar sua velha mãe? - brincou ela, abrindo seus olhos verdes penetrantes.

Caminhei até ao lado da cama abraçando-a.

- Eduardo, meu filho pode me apertar mais forte, não vou quebrar. - cochichou em meu ouvido.

Ri apertando-a mais forte. O cheiro de calor e de maçã invadiram meu nariz trazendo lembranças e lágrimas.

- Eu sei meu filho. - confortou alisando meus cabelos. - Não tem sido fácil para você e nunca vai ser, mas você vai conseguir.

Minha mãe parecia saber de tudo sem precisar perguntar nada, mesmo fazendo mais de um ano que não falava com ela, um pouco por raiva e um pouco por causa do treinamento, não havia diferença nenhuma.

Ela afastou meu rosto para me olhar nos olhos.

- Você é praticamente um homem, tem até uma penugem no queixo. - Deslizou sua mão magra e com calos pelo meu rosto. - Estou muito orgulhosa de você.

- É meu dever. - respondi tentando engolir o choro, só minha mãe para me fazer voltar a ser uma garotinho chorão. - Eu preciso...

- De um bom banho e descanso. - completou, deixando claro que eu não tinha escolha. - Amanhã será um grande dia e com muitas surpresas.

Ela me deu um beijo na testa e saiu.

...

Tentei dormir, mas as preocupações não deixaram, então resolvi fazer alguns exercícios de flexão, depois meditei um pouco e por fim rezei a Lunari.

Passei a tarde toda no meu quarto esperando minha comitiva e quando chegaram eu me arrumei apressadamente. Vesti um terno azul escuro com uma camiseta prateada e um sapato um tanto brilhante. Coloquei a espada cerimonial na cintura e pendurei as medalhas do lado direito. Eu tinha recebido duas condecorações por resgate e salvamento, uma por destreza e sacrifício, duas por serviço e liderança, uma por fibra moral e altruísmo e um por batalha e ato heroico. Não me orgulhava de nenhuma delas e nem sentia que as merecia.

Quentin Spencer, o General de Brigada e Contra Almirante Pedroso e os irmãos Águarasa estavam no quarto reservado para eles, se preparando.

Olhei para o meu reflexo desejando que aquele dia acabasse o mais rápido possível.

...

O salão estava lotado e algumas pessoas nem notaram minha presença, mas minha irmã era o próprio Sol, com todas as pessoas orbitando a sua volta. Ela estava maravilhosa, tão bela quanto uma rainha tinha que ser, deslizando e sorrindo para os convidados que se acotovelavam para ter um sorriso e um aceno.

Vi alguns Almirantes de Esquadras de Netuno conversarem com Brigadeiros de Urano. Algumas estrelas de cinema de Vênus trocarem beijos e fotos. Passei pela família real de Marte e de Júpiter. Um dos professores de Mercúrio me reconheceu me saudando com força e me apresentado para alguns representantes de Saturno. Fiz meu melhor para acompanhar seu linguajar erudito e técnico.

- Você não é muito popular por aqui. - brincou Cheira-Cravo ao se aproximar, trajando seu uniforme militar. - Já sua irmã é um deleite para os olhos.

- Isso é irrelevante. - cortei mal-humorado. - Como estão Graves e Tobias?

- Você os conhece bem. Estão se divertindo tirando fotos e gravando, como ordenou vossa alteza.

- Certo. - respondi, ignorando o sarcasmo. - Não vai conversar com seus irmãos de armas?

- Eu vou comer alguma coisa que já estou com fome. - Saiu me deixando sozinho.

Puxei assunto com algumas pessoas e desviei de outras, como a minha irmã, Nicholas e meu pai.

Quando chegou a hora da valsa cerimonial meu pai se levantou da grande mesa, pegou minha irmã pela mão e a levou para o centro do salão, e minha mãe fez o mesmo comigo.

Dançamos dando voltas e voltas, e eu meio que deixei minha mãe conduzir, pois ela dançava muito melhor que eu.

Depois disso vieram os presentes. O arauto deu um passo à frente enquanto eu e minha irmã estávamos sentados em dois tronos forrados de veludo vermelho.

- Do reino de Mercúrio vossas Altezas recebem esses relógios-celulares chamados de techclock.

Eu olhei para caixa aonde havia um relógio prateado circular com pulseira em couro com as inicias E.P e para o outro relógio oval dourado cravejado de rubis escrito Victoria.

Os convidados aplaudiam e saudavam os representantes de cada reino e seus presentes.

- De Vênus. - gritou o arauto. -  A princesa Victoria recebe um baú com joias e o príncipe Eduardo recebe um barril do melhor vinho de todo o reino.

Mais aplausos e risos. Isso começava a me entediar.

- De Marte. - gritou o arauto novamente. - A princesa Victória recebe um vestido cravejado de diamantes, e o príncipe Eduardo recebe um terno a prova de balas e a honraria de ser membro dos Gládios.

As palmas ficaram mais fortes e um sorriso se formou em meus lábios.

- De Júpiter vossas Altezas recebem o bolo que será servido essa noite, e para a princesa Victória uma estátua feita de chocolate e folheada com ouro comestível.

Alguns murmúrios surgiram entre as palmas.

- De Saturno a princesa Victoria recebe um corcel branco.

Minha irmã olhou para mim nervosa, e eu simplesmente sorri.

O arauto estava se sentindo desconfortável e olhava para meus pais com frequência. Caminhei até ele dispensando-o das apresentações.

- Acho que alguns reinos esqueceram meus presentes, mas está tudo bem. - disse sorrindo e gracejando. - Vamos continuar...

Sorri para Victoria que se juntou a mim no centro do salão.

- Do reino de Urano. - falei em voz alta. - Minha linda irmã recebe uma pérola negra do tamanho da minha cabeça. - brinquei, fazendo todos rirem. - E eu recebi a medalha "Ases das Estrelas".

Victoria seguiu a deixa, tomando a frente.

- Do reino de Netuno, eu recebi uma lancha chamada 'Donzela Ruiva' e o meu irmão um sabre naval.

- De Solares, - falei firme e forte. - minha irmã recebe uma tiara dourada com raios solares e um... - Olhei em volta da caixa, achando um vaso com girassóis. - Um lindo buquê de girassóis. - brinquei novamente, fazendo todos os convidados gargalharem por algum tempo.

Minha irmã pegou as flores e as cheirou delicadamente, como uma princesa.

- De Lunaris nós ganhamos...

Lula correu até mim sussurrando em meus ouvidos. Olhei para meu pai rapidamente.

- De Lunaris nós ganhamos... - repeti - Uma chuva de fogos que está sendo preparada. Enquanto isso todos estão livres para beber vinhos e se deliciar com o bolo.

Me afastei da minha irmã antes que ela perguntasse algo e encontrei os irmãos Águarasa em um canto com Cheira-Cravo, Quentin, meu pai e meu tio-avô Lucas.

- Cadê o presente? - perguntei.

Arraia me mostrou um embrulho empapado de sangue.

- Por Lunari! - exclamei - Eu preciso que vocês preparem os melhores fogos em quinze minutos.

- Sim senhor. - Saíram pela lateral passando por músicos e outros artistas.

- É melhor irmos para um lugar mais reservado. - disse meu pai enquanto Cheira-Cravo pegava o presente sangrento. - E filho, boa sacada.

- Meu mentor sempre diz, nada melhor que um sorriso para se livrar de alguns prejuízos.

Meu pai deu alguns tapinhas nas costas de Quentin que sorria de orelha a orelha.

Dei uma última olhada na minha irmã, que conversava com Nicholas, e segui o grupo para o escritório do meu pai.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo