Lúcia parou a mão que ia empurrar a porta.
Afinal, quem resgatou Gustavo foi ela, como é que virou Fabiana?
De dentro do quarto, a voz tímida de Fabiana soou.
— Na verdade, Gustavo ficou preso na montanha porque foi me entregar a raposa branca. Eu deveria mesmo te salvar, mas...
O olhar de Fabiana escureceu.
— Gustavo, você não precisava me dar a raposa branca para me consolar. Eu sei, no fundo, que quem você mais ama é minha irmã. Por isso, quando ela foi sequestrada anos atrás, você arriscou tudo para salvá-la...
— Não foi assim!
A voz agitada do amigo de Gustavo soou.
— Aquela história do sequestro, na verdade, foi planejada pelo próprio Gustavo!
— O quê?
Fabiana levantou a cabeça, chocada.
O amigo de Gustavo continuou, tagarelando.
— Naquela época, Gustavo só quis que seus pais percebessem quem era a filha que realmente amavam, então ele contratou pessoas para fingirem ser sequestradores e raptarem você e Lúcia.
— E depois ele salvou Lúcia só para fazer teatro, para comover Lúcia e fazer com que ela aceitasse se casar com ele!
— Mas não se preocupe, Fabiana, Gustavo só casou com Lúcia por interesse familiar e para te ajudar a se vingar. Ele já decidiu que, em breve, vai se divorciar de Lúcia!
— É isso mesmo, Gustavo?
O quarto ficou em silêncio por um instante, então a voz de Gustavo se fez ouvir.
— É verdade.
Do lado de fora da porta, Lúcia deu um passo para trás, cambaleando.
Então, o sequestro de antigamente também foi uma armação.
Ela sempre pensou que aquilo era uma das poucas provas da sinceridade de Gustavo.
Nunca imaginou que fosse mais uma mentira.
O celular de Lúcia vibrou, interrompendo seus pensamentos.
Ela atendeu, ouvindo a voz carinhosa de Vitória.
— Filha querida, o jato particular que preparei vai partir amanhã ao meio-dia. Não se esqueça de chegar ao aeroporto na hora certa.
— Está bem, mamãe.
Após desligar, Lúcia ergueu os olhos para o homem diante da porta do quarto, forçando um sorriso amargo.
Talvez, assim fosse melhor.
Ela nunca deveu nada a Gustavo; entre eles, além desse casamento de fachada, não havia mais nenhuma ligação.
Antes não havia, agora não há.
E no futuro, menos ainda.
......
A viagem se aproximava, e Lúcia ficou atarefada.
Ela procurou primeiro o advogado para preparar o acordo de divórcio. Em seguida, foi ao clube no centro da cidade encontrar-se com um colega.
Ele era natural de Nova Aurora, mas nos últimos anos vinha trabalhando em Itacuníaba, principalmente com gestão de ativos.
Quando Lúcia chegou a Itacuníaba, seus pais adotivos, temendo que ela sofresse algum tipo de abuso, lhe providenciaram muitos bens na cidade.
Como, por exemplo, um campo de caça.
Além disso, os maiores clientes da família Alves e da família Costa, na verdade, estavam em nome dela.
Só que ela sempre foi discreta e nunca comentou.
Agora que estava de partida, era natural que alguém precisasse administrar esses bens, e ela pensou justamente nesse colega.
Reencontrando o velho amigo, naturalmente tomaram alguns drinques.
O colega só teve coragem de falar depois de beber um pouco demais.
— Lúcia, tem certeza de que quer encerrar todos os contratos das suas empresas com a família Alves e a família Costa? Veja bem, apesar de serem famílias tradicionais, elas já estão em decadência há anos.
— Se você romper o contrato agora, os dois grupos vão perder uma quantidade enorme de pedidos!
Lúcia assentiu.
— Tenho certeza.
O colega ficou muito surpreso.
— Eles não sabem a verdade e ainda ousam te humilhar? Pois bem, que estejam prontos para as consequências!
Como Lúcia ainda precisava pegar o avião, encerrou cedo o encontro.
Mas, ao descerem juntos, Lúcia de repente perdeu o equilíbrio, e o colega a amparou rapidamente.
— Perdão.
Os dois ficaram bem próximos. Lúcia tentava se levantar, mas ao erguer o olhar, viu Gustavo e seu grupo de amigos saindo de outra sala privativa.
Os amigos de Gustavo pararam, surpresos ao ver Lúcia, e logo começaram a assoviar de maneira vulgar.
— O que é isso? Gustavo, sua esposa está com outro homem?
— Olha só! Ainda por cima é um estrangeiro? Não acredito, Lúcia, você tem tanta energia assim? Arrumou logo um estrangeiro!