As palavras do médico ainda não haviam terminado quando, de repente, Lúcia pegou aqueles tubos de ensaio e os jogou com força no chão.
— Eu já disse que não quero ter o filho dele.
O rosto de Lúcia estava pálido, mas seu olhar era firme.
— Não importa quanto dinheiro Gustavo lhes deu, eu pago dez vezes mais. Não contem nada a ele.
O médico ficou apavorado.
— M-mas... e se o Sr. Costa perguntar...
— Então espere até ele perguntar.
Lúcia respondeu com calma.
Já que havia decidido ir embora, ela iria sair de forma limpa e definitiva.
Lúcia abaixou o olhar para os cacos dos tubos de ensaio no chão, sentindo uma dor surda no peito.
Houve um tempo em que ela ansiava profundamente por ter um filho de Gustavo.
Mas agora...
Com um sorriso de escárnio nos lábios, Lúcia se virou e saiu sem olhar para trás.
......
Lúcia tratou sozinha da papelada para a alta do hospital.
Ao voltar para casa, sentiu-se sufocada pelo cheiro onipresente de Gustavo no quarto.
Então decidiu ir ao campo de caça para espairecer.
Seu passatempo favorito, quando morava em Nova Aurora, sempre havia sido a caça a cavalo.
Mas a cultura da caça em Itacuníaba não era tão desenvolvida, e quando Lúcia retornou ao país, nem sequer tinha onde caçar.
Quando Vitória soube disso, usou sua fortuna para comprar uma montanha e transformá-la em campo de caça, transferindo a propriedade para o nome de Lúcia.
Sempre que estava de mau humor, Lúcia vinha aqui cavalgar e caçar.
Como tudo ali fora construído segundo os mais altos padrões, o local passou a ser cada vez mais apreciado pela alta sociedade de Itacuníaba.
Assim que Lúcia chegou à entrada do campo de caça, viu um conhecido Maybach preto.
A porta do carro se abriu e Gustavo desceu.
Trazia Fabiana nos braços, em um colo de princesa.
Fabiana falou timidamente:
— Gustavo, pode me colocar no chão, eu consigo andar sozinha.
Mas Gustavo não parou.
— Acabou de chover, o chão está cheio de poças.
O rosto de Fabiana ficou ainda mais corado. Só quando chegaram à porta e ele a colocou no chão, ela viu Lúcia e ficou paralisada.
— Irmã?
Só então Gustavo percebeu a presença de Lúcia.
Imediatamente franziu a testa.
Lembrava-se de que o médico lhe ligara antes, dizendo que Lúcia havia tido uma reação de estresse.
Na época, confirmou que ela não corria risco de vida, e não se preocupou mais.
Mas não esperava encontrá-la ali.
Ao ver o rosto ainda um pouco pálido de Lúcia, Gustavo sentiu uma irritação inexplicável.
— Lúcia, o que veio fazer aqui?
Lúcia então recobrou o ânimo.
— Vim cavalgar.
Fabiana e Gustavo não estavam sozinhos; haviam trazido um grupo de amigos.
Assim que ouviram a resposta de Lúcia, todos caíram na risada.
— Cavalgar? Lúcia, você sabe mesmo andar a cavalo?
— Pois é, acha que caçar a cavalo é fácil? Cuidado para não quebrar o pescoço!
Embora os pais adotivos de Lúcia fossem magnatas de Nova Aurora, devido às suas ligações com a máfia, Lúcia sempre fora discreta. Mesmo para a família Alves, nunca dissera muito.
Por isso, todos presumiam que Lúcia crescera em família comum, sem contato com a alta sociedade.
Os amigos de Gustavo ainda foram mais atrevidos, assobiando de forma vulgar.
— Lúcia, se você não sabe cavalgar, não tem problema, eu te levo. Prefere sentar na frente ou atrás de mim?
— Claro que é melhor atrás, com dois peitões colados nas costas, balançando... só de pensar já fico animado!
Os jovens ricos riram alto, olhando Lúcia com olhares cada vez mais ousados.
Gustavo cerrou o punho sem perceber, o olhar tornando-se ainda mais frio.
Por fim, foi Fabiana quem interveio, com voz suave.
— Pronto, parem de falar assim com minha irmã.
A tentativa de defesa, pouco convincente, fez com que os amigos dela reagissem em tom sarcástico.
— Também não dá para culpar quem fala assim, né, Fabiana? Sua irmã tem mesmo cara de quem seduz homem.
— Pois é, vocês são irmãs de sangue, mas Lúcia não se parece nada com você. Tem uma cara vulgar, bem baratinha.
Na época em que Lúcia fora encontrada pela família Alves, os pais não quiseram abrir mão de Fabiana, a quem criaram durante anos. Assim, anunciaram que ambas eram filhas biológicas.
Apenas disseram que, ao nascer, Lúcia fora trocada por engano.
Por isso, todos acreditavam que Fabiana e Lúcia eram irmãs de sangue.
Fabiana olhou para Lúcia, nervosa, temendo que ela revelasse a verdade, mas Lúcia simplesmente se virou e entrou no campo de caça sem dizer uma palavra.
Fabiana finalmente respirou aliviada e apressou-se a mudar de assunto.
— Pronto, chega desse papo. Vamos caçar! Ouvi dizer que aqui tem raposa branca. Dizem que, se caçar uma e der para a pessoa amada, nunca mais vão se separar.
Enquanto falava, Fabiana olhou timidamente para Gustavo.
O grupo logo se equipou e montou nos cavalos para entrar na mata.
Lúcia fez questão de escolher um caminho diferente do deles, mas, para sua surpresa, logo começou a chover.
Nessa montanha, a chuva facilitava deslizamentos de terra, então Lúcia apressou-se em sair dali.
Mas, ao voltar ao salão principal, encontrou Fabiana e o grupo andando em círculos, desesperados.
Apenas Gustavo não estava ali.
Ela se aproximou, franzindo a testa.
— O que aconteceu?
— É terrível, irmã!
Fabiana desatou a chorar.
— Gustavo ficou preso na montanha!