— Mamãe.
Abaixei a cabeça, e Sarah estava diante de mim. Ela vestia um vestidinho rosa, parecendo uma pequena princesa.
O tom dela era frio, como se estivesse falando com um estranho:
— Mamãe Beatriz pediu para eu te avisar que vamos cortar o bolo.
— Obrigada por vir me avisar. — Abaixei-me, tentando me aproximar um pouco dela.
Ela imediatamente deu um passo para trás:
— Mamãe Beatriz disse que é melhor você ficar longe, para não estragar o clima de hoje.
Meu coração doeu como se tivesse sido cortado por uma faca.
Minha filha de cinco anos estava repetindo a maldade de outra mulher para mim.
Falei suavemente:
— Sarah, mamãe quer te dizer...
— Não quero ouvir! — Ela me interrompeu, o rostinho cheio de impaciência.
— Você sempre deixa a mamãe Beatriz triste. Eu te odeio!
Assim que terminou, virou-se e saiu correndo, gritando enquanto corria:
— Mamãe Beatriz! Mamãe Beatriz!
— Coitada da Valentina. — Alguém comentou baixinho ao lado:
— Nem a própria filha é próxima dela.
— Também, ela vive ocupada com o trabalho. A Beatriz é tão boa, está sempre com a criança.
Minha mão, segurando a taça de champanhe, tremia levemente.
Não era por causa dos comentários dos outros, mas por causa daquela frase da Sarah: "Eu te odeio".
Aquela era minha filha, a filha que eu dei à luz, e mesmo assim ela disse que me odiava.
Eu estava ali, entre a multidão, como uma estranha observando tudo aquilo.
Meu marido, minha filha, meus familiares, todos giravam em torno de Beatriz.
E eu, a verdadeira intrusa.
— Que cena comovente. — Minha mãe aproximou-se de mim. — Olha só, como a Sarah gosta da Beatriz. Valentina, você deveria refletir sobre si mesma.
— É verdade. — Meu pai também se aproximou. — Os olhos de uma criança são os mais sinceros. Ela escolheu a Beatriz, isso mostra que a Beatriz realmente é mais adequada para ser mãe do que você.
Eu não disse nada. O que mais poderia dizer? Aos olhos deles, eu sempre estava errada.
Depois que a festa terminou, fui embora sozinha.
Ninguém notou minha saída, todos estavam parabenizando a Beatriz.
Ao chegar em casa, fui direto para o escritório.
— Olívia. — Chamei a enfermeira que sempre me acompanhava. — Me faça um favor.
— Senhora, diga.
Entreguei-lhe um pen drive:
— Aqui tem alguns vídeos e gravações. Amanhã, às oito da manhã, envie para o Francisco.
— Isto é...
— Algumas verdades. — Sorri fracamente:
— As últimas palavras de uma morta, alguém precisa escutar.
Peguei algumas cartas:
— Esta é para meus pais. Esta, para a Sarah, entregue a ela quando fizer 18 anos.
— Senhora...
Olívia já estava aos prantos.
— E mais uma coisa. — Abri o cofre e tirei uma pequena caixa. — Este é o anel da minha mãe, o verdadeiro. Guarde para a Sarah e diga que a mamãe sempre a amou.
Depois de arrumar tudo, recostei-me na cadeira, já sem forças.
Do lado de fora, fogos de artifício coloriam o céu, eram para o noivado de Francisco e Beatriz.
Quão irônico era passar minha última noite de vida celebrando a felicidade deles.
— Só mais algumas horas, Valentina. — Disse para mim mesma. — Aguenta firme.
Eu sabia que, quando a verdade viesse à tona amanhã, tudo mudaria.
Mas, naquele momento, eu já não estaria mais aqui.
Essa era a minha vingança.
Usar minha vida como aposta, para que eles vivessem para sempre com remorso.
— Boa noite, meus amores.
Fechei os olhos:
— Que, pelo resto da vida, vocês se lembrem que houve uma mulher tola que os amou como à própria vida.
......
Às seis da manhã, o coração de Valentina parou de bater.
Olívia sentou-se ao lado da cama, lágrimas escorrendo pelo rosto.
Ela segurou a mão gelada de Valentina, olhando aquela mulher que fora tão orgulhosa, agora repousando em silêncio, com um leve sorriso de alívio nos lábios.
Pontualmente às oito horas, ela discou o número de Francisco.
— Alô? — Disse uma voz cansada do outro lado.
— Sr. Silva, aqui é a Olívia. A senhora... a senhora faleceu.
Do outro lado da linha, houve um longo silêncio.
— O que disse? — A voz de Francisco de repente tornou-se aguda. — Impossível! Ela estava na festa ontem à noite.