Capítulo 4
— Mamãe.

Abaixei a cabeça, e Sarah estava diante de mim. Ela vestia um vestidinho rosa, parecendo uma pequena princesa.

O tom dela era frio, como se estivesse falando com um estranho:

— Mamãe Beatriz pediu para eu te avisar que vamos cortar o bolo.

— Obrigada por vir me avisar. — Abaixei-me, tentando me aproximar um pouco dela.

Ela imediatamente deu um passo para trás:

— Mamãe Beatriz disse que é melhor você ficar longe, para não estragar o clima de hoje.

Meu coração doeu como se tivesse sido cortado por uma faca.

Minha filha de cinco anos estava repetindo a maldade de outra mulher para mim.

Falei suavemente:

— Sarah, mamãe quer te dizer...

— Não quero ouvir! — Ela me interrompeu, o rostinho cheio de impaciência.

— Você sempre deixa a mamãe Beatriz triste. Eu te odeio!

Assim que terminou, virou-se e saiu correndo, gritando enquanto corria:

— Mamãe Beatriz! Mamãe Beatriz!

— Coitada da Valentina. — Alguém comentou baixinho ao lado:

— Nem a própria filha é próxima dela.

— Também, ela vive ocupada com o trabalho. A Beatriz é tão boa, está sempre com a criança.

Minha mão, segurando a taça de champanhe, tremia levemente.

Não era por causa dos comentários dos outros, mas por causa daquela frase da Sarah: "Eu te odeio".

Aquela era minha filha, a filha que eu dei à luz, e mesmo assim ela disse que me odiava.

Eu estava ali, entre a multidão, como uma estranha observando tudo aquilo.

Meu marido, minha filha, meus familiares, todos giravam em torno de Beatriz.

E eu, a verdadeira intrusa.

— Que cena comovente. — Minha mãe aproximou-se de mim. — Olha só, como a Sarah gosta da Beatriz. Valentina, você deveria refletir sobre si mesma.

— É verdade. — Meu pai também se aproximou. — Os olhos de uma criança são os mais sinceros. Ela escolheu a Beatriz, isso mostra que a Beatriz realmente é mais adequada para ser mãe do que você.

Eu não disse nada. O que mais poderia dizer? Aos olhos deles, eu sempre estava errada.

Depois que a festa terminou, fui embora sozinha.

Ninguém notou minha saída, todos estavam parabenizando a Beatriz.

Ao chegar em casa, fui direto para o escritório.

— Olívia. — Chamei a enfermeira que sempre me acompanhava. — Me faça um favor.

— Senhora, diga.

Entreguei-lhe um pen drive:

— Aqui tem alguns vídeos e gravações. Amanhã, às oito da manhã, envie para o Francisco.

— Isto é...

— Algumas verdades. — Sorri fracamente:

— As últimas palavras de uma morta, alguém precisa escutar.

Peguei algumas cartas:

— Esta é para meus pais. Esta, para a Sarah, entregue a ela quando fizer 18 anos.

— Senhora...

Olívia já estava aos prantos.

— E mais uma coisa. — Abri o cofre e tirei uma pequena caixa. — Este é o anel da minha mãe, o verdadeiro. Guarde para a Sarah e diga que a mamãe sempre a amou.

Depois de arrumar tudo, recostei-me na cadeira, já sem forças.

Do lado de fora, fogos de artifício coloriam o céu, eram para o noivado de Francisco e Beatriz.

Quão irônico era passar minha última noite de vida celebrando a felicidade deles.

— Só mais algumas horas, Valentina. — Disse para mim mesma. — Aguenta firme.

Eu sabia que, quando a verdade viesse à tona amanhã, tudo mudaria.

Mas, naquele momento, eu já não estaria mais aqui.

Essa era a minha vingança.

Usar minha vida como aposta, para que eles vivessem para sempre com remorso.

— Boa noite, meus amores.

Fechei os olhos:

— Que, pelo resto da vida, vocês se lembrem que houve uma mulher tola que os amou como à própria vida.

......

Às seis da manhã, o coração de Valentina parou de bater.

Olívia sentou-se ao lado da cama, lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ela segurou a mão gelada de Valentina, olhando aquela mulher que fora tão orgulhosa, agora repousando em silêncio, com um leve sorriso de alívio nos lábios.

Pontualmente às oito horas, ela discou o número de Francisco.

— Alô? — Disse uma voz cansada do outro lado.

— Sr. Silva, aqui é a Olívia. A senhora... a senhora faleceu.

Do outro lado da linha, houve um longo silêncio.

— O que disse? — A voz de Francisco de repente tornou-se aguda. — Impossível! Ela estava na festa ontem à noite.
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