Senhor Santiago ("Trilogia Homens de Nome")
Senhor Santiago ("Trilogia Homens de Nome")
Por: Aris Sants
Prólogo

Sofia

Ouvir aquelas palavras de Papai, era um choque. Minha mente estava inerte, meu corpo imóvel. Um conflito de sentimentos luta dentro de mim. A raiva, medo e principalmente a magoa. Como ele pode me vender desse modo? sei que Frenk Lancem é um homem que respira negócios, mas transformar sua filha em um objeto de negociação é inimaginável. Um casamento arranjado com um completo desconhecido. E para que? Só por alguns trocados que não fazem a menor diferença! Nossa família é herdeira de um enorme patrimônio, não faz o menor sentido fazer um acordo assim. Tenho certeza que existe mais por trás de suas palavras, um motivo que vai além do dinheiro, e eu vou descobrir. Papai, me observa com seus olhos predador de homem de negócios, esse olhar faria muitos dos seus sócios tremer, mas a mim não. Sou sua filha e não deixarei ser intimidada. Minha relação com Papai, não pode ser das melhores, mas tenho certeza que existe um coração em seu peito e sua consciência o fará desistir desse absurdo.

— Papai, essa proposta é totalmente absurda. Como pode tramar um casamento arranjado pelas minhas costas?

Tento conter o tremor em minha voz, mas é inútil. Minhas mãos soam, e o nervosismo faz meu estômago embrulhar.

— não foi uma proposta, Sofia. Mas um comunicado.

O absurdo das suas palavras faz minha raiva crescer, e qualquer controle que tinha sobre ela sumir. Fecho ambas as mãos em punhos, sinto uma pontada de dor que ignoro ao cravar as unhas na palma da mão.

— isso é ridículo! Não sou uma das suas propriedades que vende depois de uma negociação. Sou uma pessoa, sua filha!

— Sofia!

Mamãe, me repreende após eu elevar a voz. Agora tenho total certeza de que ela não está do meu lado, sempre foi assim. O medo de perder o luxo que Papai, a proporcionar é maior do que seu instinto maternal em proteger sua filha. Meu olhar volta para Papai, ele bufa e seu rosto está vermelho de raiva, posso notar a veia em sua testa pulsar. Mas não vou me render, se irei me casar será por amor e não por negócios. Minha vida inteira foi rendida as coisas triviais, e interesse. Mas não sou como Laura, se minha irmãzinha caçula estivesse no meu lugar ele aceitaria sem hesitar ou questionar, afinal a única coisa que ele quer é casar com um homem rico que sustente todos os seus luxos e caprichos.

— você vai casar e ponto final!

Papai, fala entre dentes, rígido. Tenho certeza que minha opinião não conta aqui e a decisão está tomada sem meu consentimento. Mas não vou abaixar a cabeça e aceitar isso, nunca desafiei Papai, mas desta vez ele foi longe demais. Papai, interfere em muitos aspectos da minha vida, meus estudos, meu trabalho. Mas não irei aceitar que ele invada minha privacidade, minha vida íntima!

— eu nunca vou aceitar isso! Deveria ter feito essa proposta a Laura, tenho certeza que ela vai aceitar sem cogitar.

— não! — mais uma vez sou repreendida. Desta vez por Papai — tem que ser você!

— POR QUE?

Minha voz soa mais alta do que eu queria. Papai, se ergue. Ele coloca ambas as mãos sobre a mesa, sua aura ameaçadora me faz encolher na cadeira. Tenho certeza que o resto do autocontrole que ele tinha sumiu. Seus olhos me perfuram, sinto um tremer e um arrepio percorrer minha espinha.

— Sofia, você é um fiasco. Do quê adianta toda sua inteligência, e status se não pode conseguir um homem.

Sua voz soa fria, cada uma de suas palavras me ferem. Então essa é a verdadeira questão, então esse é o verdadeiro motivo por trás desse casamento arranjado. Minha incapacidade de seduzir um homem.

— você tem vinte e seis anos e jamais consegui um pretendente, mas como posso culpá-los se você é descuidada.

— Frenk!

Mamãe, intervém pela primeira vez mas logo é repreendida pelo olhar severo de Papai.

— essa é a verdadeira Elenor! Diferente de Sofia, Laura não é..

Papai, fica em silêncio. Sei que ele não quer pronúncia a palavra. Sinto um gosto amargo na boca, contorço meus lábios em um sorriso amargo.

— Gorda! Essa é a palavra que você quer dizer, Gorda!

— sim!

Noto a firmeza em suas palavras, sua insinuação ao meu peso me magoa profundamente, mas do que consigo descrever. Essa é um assunto delicado pra mim, venho ouvido comentários ao longo dos anos diversas vezes relacionadas ao meu peso. Por insistência de Mamãe, me levou a vários nutricionistas, fazia exercícios em excesso. Mas nada disso funcionou, o que me deixava frustrada e Mamãe, raivosa por achar que eu não fazia o suficiente. O estresse, a magoa me fazia perder o controle e comer as escondidas. me lembro de chorar dias escondida quando vi que estava com mais estrias e celulite do que antes, para esconder isso usava roupas que escondesse o meu corpo, nem me lembro a última vez que coloquei um biquíne. Quando tudo aquilo me cansou eu desisti, me lembro de como Mamãe, ficou decepcionada. Ao contrário de mim Laura, nunca teve esse problema, ela mal vai a academia.

— Sofia, você tem vinte e seis anos. Você não sabe como tive que lutar para isso acontecer, essa é sua única chance de casar e ter uma família.

Saber que Papai, me acha incapaz de fazer alguém se apaixonar por mim por culpa do meu corpo é a gota d'água. Sinto um buraco se abrir em meu peito, meus olhos lacrimejam mas impeço as lágrimas. Meus olhos vão de encontro a Mamãe, mas ela foge seu olhar de mim. Imagino que ela tenha a mesma opinião que Papai. Nunca me senti tão deslocada, e magoada em toda minha vida. As coisas pelo que passei não se comparam a esse momento. Estou sendo entregue a um homem desconhecido que nunca vi na vida, imagino que Papai, também tenha planejado isso o que seria perfeito, afinal se o pretendente não me vê suas chances seriam maiores para que esse casamento aconteça. Ao notar que suas palavras me abalaram Papai, se senta novamente em sua cadeira visivelmente mais calmo.

— o casamento acontecerá em menos de um mês, até lá. Não faça nada imprudente.

Papai, me adverte. Em silêncio me ergo e vou em direção a saída, não tenho mais forças para retrucar, ou fazê-lo mudar de idéia, agora eu sei. Não importa o que eu vá dizer, Papai, não vai mudar de idéia. Ao passar pela porta solto o ar que nem sabia está prendendo, deixo que as lágrimas molhem meu rosto. Me sinto derrotada, frágil. Ouço passos atrás de mim. Sei que é Mamãe, o som do seu salta é sua marca registrada. A mesma para em minha frente, ela toca ambos meus ombros mas dou um passo atrás me afastando do seu toque. Posso vez que meu gesto a mágoa, mas ignoro.

— como pode fazer isso comigo?

Minha voz está embriagado pelo choro, os olhos de Mamãe, refletem sua dor.

— por favor Sofia, tente entender...

— entender o quê? — interrompo a mesma, continuo sem dar chance para que ela fale — vocês me venderam por achar que sou incapaz de receber amor de um homem, por algo tão superficial!

— não veja as coisas desse modo.

— como não? O que você e Papai, fizeram me feriram profundamente. Eu nunca vou perdoar vocês por isso.

Passo pela mesma, indo em direção ao meu quarto. A única coisa que quero agora é ficar sozinha e chorar. Mal consigo pensar em como vou absorver todas as informações dessa noite, a dor que sinto é sufocante. Agora eu sei o que Papai, e Mamãe, pensam de mim. Uma desleixado sem jeito, e por culpa disso em menos de um mês serei esposa de um completo estranho.

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