Quando entro, me deparo com um homem que não consigo visualizar o rosto direito. Sua atenção está toda voltada para seu computador. Fico parada sem jeito, até que pigarreio, para informar minha presença. Me olhando debaixo para cima ele para de teclar, com uma expressão indecifrável em sua face, mas um olhar frio.
— Sente-se, Senhorita Silva. Não espere que eu puxe a cadeira para você.Bom começo Maia, bom começo! Travo minha língua segurando minha raiva ao me sentar à sua frente.É mais importante que eu consiga esse emprego do que problemas. Poucos metros um do outro, espero que ele prossiga com a entrevista, mas o mesmo não abre a boca para dizer uma palavra.O que me faz ficar constrangida, já que me encara sem ao menos disfarçar. Talvez seja a minha roupa. Acho que não me arrumei adequadamente. Isso explicaria a forma como me abordou ao entrar.Percebendo que estou envergonhada o suficiente, ele desvia o foco para meu currículo em sua mesa pegando-o em seguida. Ao lê-lo em silêncio e com a expressão neutra, fica difícil decifrar o que está por vir. Espero que não tenha saído nada sobre o que houve, eles me prometeram, era o acordo.Limpariam minha ficha se eu assumisse a culpa pelo filho deles. Espero que o tenham feito. Aceitar guardar segredo sobre aquele dia mudou minha vida completamente. Nem mesmo meus pais sabem da verdade. Por que com isso, perdi a chance de me defender. Todos me veem como uma pessoa ruim agora. Apenas minha mãe, ficou do meu lado o tempo todo. Mesmo eu mentindo para ela, coisa de que não me orgulho.— Hum… não, não... não.— Há algum problema Senhor Miller?— Está contratada. Pode começar imediatamente.— Não estou entendendo. Você não me fez nenhuma pergunta.— Não é para você entender. Procure Amanda ao sair do escritório, ela passará algumas instruções sobre o serviço e te mostrará seu quarto.— Quarto? Mas eu pensei que fosse uma vaga para diarista!— De fato seria, mas julgo que será bem mais fácil para você dessa forma, até se acostumar com o tamanho da mansão.— Senhor Miller, eu não posso ficar. Não tenho nada aqui, eu teria que buscar meus pertences do outro lado da cidade.— Não se preocupe com isso, mando alguém ir buscar.— Mas... são coisas minhas, acho muito pessoal. Só de imaginar alguém transportando algo meu, faz me sentir estranha.Depois de me ouvir, Miller pondera por uns segundos até que me responde.— Entendo. Então mandarei alguém te levar no fim do expediente.— Mas...— Você quer a vaga ou não?— Sim, Senhor.— Nesse caso, seja bem-vinda a residência dos Miller, Senhorita Silva.Minutos depois, estou em outro cômodo da mansão recebendo o que parece ser um castigo em forma de lista.— Esse é seu quarto. Se arrume para o trabalho, aqui está seu uniforme.Amanda o entrega em minhas mãos, após me dar algumas instruções sobre o trabalho.— Só mais uma coisa... fique fora de vista quando a Senhora Miller estiver no mesmo recinto que você. Ela sofre de Alzheimer, será difícil entender o que está acontecendo. Tenha paciência com ela.Com dor em sua voz, noto a preocupação de Amanda ao me alertar sobre a Senhora Miller. Fico triste por ela. Apesar de não a conhecer ainda, sinto que sua alma está ferida. Deve doer tanto para ela como para sua família.— Pode ficar tranquila. Eu entendo como ela se sente. Não farei nada que a prejudique.— Obrigada, Maia. Seja bem-vinda, a gente se vê no fim do dia. E... me desculpe pelo meu comportamento mais cedo, estou tendo um dia ruim. Pensei que fosse mais uma caça fortunas. As mulheres da entrevista se jogaram para cima do Senhor Miller como cães desesperados abanando o rabinho. Foi difícil contê-las. Nem o canil daria conta... é sério! Ele expulsou cada uma antes mesmo de poderem se sentar.— Fico feliz que não tenha acontecido comigo então.— Eu também. Vou deixá-la se aprontar. Até mais tarde Maia.— Até.Após ficar sozinha, pego meu celular, apressada, ligando logo após para a mamãe.— Sim, meu amor?Não aguentando meu entusiasmo conto de uma vez para ela:— EU CONSEGUI MAMÃE! — Falo animada.— Eu sempre acreditei em você meu amor. Meus parabéns! Agora venha para casa, fiz um bolo de comemoração e quero comer com você.De repente, eu lembro que terei que ficar aqui, e meu coração se despedaça ao ter que contá-la. Não sei como minha mãe vai reagir a isso. Quando voltei, ela esperava que ficássemos juntas.— Mamãe? Tenho algo para te contar.— O que houve Maia?— Senhor Miller me pediu para ficar aqui, morar por um tempo. Até eu me acostumar com o tamanho da mansão. Ele quer que eu comece imediatamente. Eu não quero te deixar sozinha mamãe. Caso não concorde eu anulo. Ainda não assinei nada. Você é mais importante para mim do que qualquer coisa.— Maia, não. Eu estou acostumada a ficar sozinha, sei me virar muito bem. Não anule nada, eu quero que fique.— Mas mamãe?— Ponto final mocinha.— Você é maravilhosa sabia?— Sim... eu sei! Foi com meus encantos que conquistei seu pai.Acho melhor trocar o assunto antes que mamãe me pergunte outra vez o que de fato aconteceu.— Mamãe, eu tenho uma lista de afazeres mas não sei nem por onde começar. Me ajuda?— Bom, comece limpando os banheiros. Para isso você vai precisar ir até à dispensa para pegar os produtos.Passo o resto da chamada ouvindo as dicas da mamãe com atenção. Eu preciso tomar cuidado com o que faço. Após anotar tudo em um pedaço de papel na escrivaninha do meu quarto, me arrumo e prendo meu cabelo. Pronta para iniciar essa nova etapa da minha vida.— Caramba! E que Deus me ajude a não quebrar nada.Peguei quase todos os itens que preciso para limpar a mansão, na dispensa. Agora com o último em mãos, coloco no balde junto com os outros. Nunca pensei que um balde fosse pesar tanto.Quando chego no primeiro quarto, começo a arrumar a cama, alinhando os travesseiros em seguida. Não há muita bagunça por aqui, pelo o que vejo o dono desse quarto é muito organizado, não tenho muito o que fazer.Então decido pegar o aspirador de pó para limpar o carpete. Assim vou para o banheiro em seguida e logo acabo.— E você com medo da faxina Maia! É tão fácil como desenhar um sol.Digo para mim mesma com um sorriso bobo no rosto ao colocar o fio na tomada.— Oh...Ou.Sem perceber como liguei o aspirador, acabei jogando toda a poeira que havia dentro dele pelo quarto. Resultando em uma queda pelo impulso que tomei no processo. Ainda no chão resmungo brava por esse deslize.— Falei cedo demais, que droga!— Olha, já vi mulheres se jogarem na minha cama, mas no meu carpete... é a primeira vez! — Diz Senhor Miller ao aparecer na porta.Presa ainda nos fios que me cercam do aspirador, eu me viro para olhá-lo percebendo que está bem próximo de mim... enquanto estende uma de suas mãos em minha direção. Me dando um sorriso deslumbrante... eu me perco enfeitiçada em seus lábios carnudos, que se movimenta, quando sua voz soa suave e rouca ao dizer... — Vem cá, deixa que eu te ajudo. Eu imaginei que isso fosse acontecer, mas não tão cedo. Hesito por alguns segundos, por perceber ironia em sua voz, mas logo aceito sua ajuda pegando em sua mão e assim conseguindo me levantar, soltando meus pés dos fios caídos no chão. No entanto, constrangida demais por ter sido flagrada desse jeito pelo meu chefe, me sinto muito envergonhada para olhá-lo nos olhos e agradecer. Porém é o que eu faço mesmo assim, causando um leve rubor em minhas bochechas. — Obrigada, Senhor Miller. Digo gaguejando, por causa do meu nervosismo que aumenta por ver o quão perto estamos um do outro. Sua mão está sobre a minha causando um arrepio pelo calor q
Ele é tão lindo que se torna impossível não babar por esse carro, tanto que eu fico deslumbrada com o assento de couro ao entrar... Sem falar no acabamento perfeito de cada detalhe. E observando bem, a única coisa simples além de mim dentro dele, é uma pequena casa entalhada em um chaveiro de madeira. Meus dedos a tocam quase como de imediato, sentindo a delicadeza em que foi feita. Eu me pergunto por que Senhor Miller, deixaria um objeto tão singular como esse em seu carro esportivo.... — Não toque nisso. — Kevin diz, me assustando pela maneira em que chega sem fazer barulho, tirando minhas mãos do seu chaveiro enquanto me encara ranzinza. Seus olhos verdes parecem me fuzilar durante o tempo em que seus dedos preenchem meu pulso com firmeza. Entretanto seu jeito enfurecido não me deixa com medo e muito menos me fere, pelo contrário... eu vejo que é ele que está machucado. Se recompondo, Miller me solta e pega suas chaves sussurrando em seguida. — Me desculpe se pareci grosso, é
Marcos que estava sentado, se levanta depois de soltar seu veneno em mim, me encarando de um jeito presunçoso. Eu diria que se ele pudesse me matar... o faria agora, nesse exato momento. — O que está fazendo aqui? Bruno está bem? Eu o pergunto sem fazer questão da forma como me tratou. Apesar de ele me tratar super mal, eu não posso fazer nada contra isso... Marcos está sendo apenas um pai zangado como qualquer outro, reagindo a essa situação rudemente. Eu acho que faria a mesma coisa se tratasse de meu filho. E somente por esse motivo, eu engulo minha raiva e deixo passar o seu tom agressivo. — Eu vim por que está mais caro. Bruno teve uma recaída, e preciso pagar um novo tratamento eficiente de fisioterapia. — Mas... e o dinheiro que eu mando todo mês? Não está cobrindo o plano de saúde? Como se eu tivesse dito algo estúpido, Marcos bufa irritado. — O dinheiro que você manda, não dá nem para tampar o buraco do dente Maia. Eu agradeço a ajuda...mas não é mais o suficiente para
Quando eu abro a porta do meu quarto, dou de cara com Senhor Miller, passando as mãos em seu cabelo, nervosamente após suspirar. — Senhor Miller, está tudo bem? O que houve com sua mãe? Digo ao me aproximar dele lentamente, um pouco tímida. — Eu fui levar o doce que minha mãe havia pedido, e quando cheguei em seu quarto, me surpreendi, sua cama estava vazia. Mamãe, sumiu. Ela nunca fez isso, não sei porque sairia de casa... essa hora da noite. Tenho certeza de que alguém deixou uma brecha para ela fugir, e eu tenho que achar o culpado! Quem foi que deixou o portão aberto?! Ele gritou outra vez, mas nessa... mais rude que a primeira. Seu funcionário que ouvia tudo calado, abaixou sua cabeça, e ficou em silêncio, não ousando responde-lo. Kevin estava muito alterado, como ninguém o respondeu, isso fez com que atiçassem ainda mais sua raiva, tanto que ele caminhou até seu empregado com os olhos negros. Foi então, que eu decidi intervir, me colocando na frente dele e do homem de meia
De volta na mansão Miller... Kevin ainda estava desnorteado com o que acabou de descobrir, tanto ele como eu. — O que vai fazer quanto a isso agora, Senhor Miller? Pergunto ainda próxima a ele em sua mesa, olhando o seu monitor. — Eu preciso de mais provas, embora eu queira muito chamar a polícia, essas imagens estão escuras.... o culpado conseguiria facilmente desviar da acusação. — Eu entendo, mas por precaução... acho que deveria manter seus olhos abertos. A vida de sua mãe corre perigo Senhor. Eu o alerto, preocupada com a doce Senhora que sumiu. Kevin foca sua atenção em mim como se ouvisse uma prece, tornando sua feição meiga em poucos segundos. — Eu gosto de ver como você a trata, diferente de muitas outras empregadas que tentaram ocupar esse cargo. Elas tinham tudo para poder ficar, trabalhavam bem... e não caíam por aí. Ele sorriu com sua última frase, me olhando feito um bobo. Mas logo ficou sério novamente me encarando. — No entanto, eram tão cheias de vaidade... q
Kevin ficou conversando com Heitor na sua sala de estar enquanto tomavam whisky. Maia foi se deitar deixando-os a sós. Na sala de estar.... — Eu o agradeço novamente, por ter trago ela. Minha mãe sofre de Alzheimer, e cada dia fica difícil saber lidar com essa doença. — Eu percebi quando ela mencionou os dados de seu casamento, pois já passamos de setembro. Eu tenho pacientes como sua mãe. Sei que é difícil e muitas vezes você daria tudo para que voltasse a se lembrar dos pequenos detalhes da vida. Kevin fica em silêncio ao começar a mexer o seu copo com o dedo, por um instante seus pensamentos o levam a interpretar que não está cuidando de sua mãe, fazendo uma tristeza profunda em seu peito pelo que aconteceu hoje. — Olha, Kevin.... não se martirize pelo que aconteceu. Somos falhos, e os erros fazem parte do crescimento. Digo de coração está fazendo a coisa certa mantendo-a em casa e não em um hospital. Isso é amor. Cuidar de quem cuidou de você antes mesmo do mais singelo suspi
A poucos passos do meu quarto paro abruptamente no corredor, ao lembrar de algo que possa me ajudar a conseguir o dinheiro da fisioterapia de Bruno. Resolvo então ir para o jardim, tirando o telefone do meu bolso ao clicar na foto de minha mãe nos contatos. Assim que piso no gramado, o cheiro das flores ao meu redor invade meu nariz me deixando tranquila. Me sento no banco de madeira, perto de tulipas que aparentam ter florido há pouco tempo. Eu não sei por que, mas este lugar me deixa relaxada, conectada comigo mesma. Depois de olhar ao meu redor, enfim ouço chamar, e logo em seguida, ela atende com sua voz angelical. — Oi meu amor. — Diz ela sorridente do outro lado da linha. — Oi mamãe, como você está? Tudo bem por aí? — Está sim, minha querida. Não se preocupe comigo, mas sim com você. Fez sua refeição no horário certo, Maia? Correndo o risco, eu minto para ela. — Sim, mamãe. Estava uma delícia. — Eu te conheço Maia.... e sei quando está mentindo. Não esqueça de cuidar de s
Já são quase 23:00 horas quando enfim acabo o meu trabalho. Assim que chego no meu quarto, tiro os meus sapatos e desabo na minha cama, olhando para o teto sozinha com meus pensamentos. Tudo que eu quero agora, é uma boa ducha quente. Assim que recupero meu ânimo, me levanto, e vou em direção ao banheiro. Fiquei tão cercada pelas coisas que estão acontecendo na minha vida, que nem tive tempo de prestar atenção no tamanho desse banheiro, eu diria que daria para morar dentro dele. Desprendo meu cabelo e tiro minhas roupas assim que água começa cair pela banheira. Logo em seguida, eu entro dentro dela e sinto meu corpo se recompondo. Estou tão exausta, que o barulho que se faz pela torneira ainda enchendo o espaço vago, me acalma, me fazendo fechar os olhos. Em poucos segundos meu cansaço some e algo quente sobe pelas minhas pernas. E adivinha? Não é a temperatura da água. Sinto mãos sobre o meu quadril, que sobem delicadamente até minha coxa, apertando-a com vontade. Adiante, lábios