Capítulo-2

Quando entro, me deparo com um homem que não consigo visualizar o rosto direito. Sua atenção está toda voltada para seu computador. Fico parada sem jeito, até que pigarreio, para informar minha presença. Me olhando debaixo para cima ele para de teclar, com uma expressão indecifrável em sua face, mas um olhar frio.

— Sente-se, Senhorita Silva. Não espere que eu puxe a cadeira para você.

Bom começo Maia, bom começo! Travo minha língua segurando minha raiva ao me sentar à sua frente.

É mais importante que eu consiga esse emprego do que problemas. Poucos metros um do outro, espero que ele prossiga com a entrevista, mas o mesmo não abre a boca para dizer uma palavra.

O que me faz ficar constrangida, já que me encara sem ao menos disfarçar. Talvez seja a minha roupa. Acho que não me arrumei adequadamente. Isso explicaria a forma como me abordou ao entrar.

Percebendo que estou envergonhada o suficiente, ele desvia o foco para meu currículo em sua mesa pegando-o em seguida. Ao lê-lo em silêncio e com a expressão neutra, fica difícil decifrar o que está por vir. Espero que não tenha saído nada sobre o que houve, eles me prometeram, era o acordo.

Limpariam minha ficha se eu assumisse a culpa pelo filho deles. Espero que o tenham feito. Aceitar guardar segredo sobre aquele dia mudou minha vida completamente. Nem mesmo meus pais sabem da verdade. Por que com isso, perdi a chance de me defender. Todos me veem como uma pessoa ruim agora. Apenas minha mãe, ficou do meu lado o tempo todo. Mesmo eu mentindo para ela, coisa de que não me orgulho.

— Hum… não, não... não.

— Há algum problema Senhor Miller?

— Está contratada. Pode começar imediatamente.

— Não estou entendendo. Você não me fez nenhuma pergunta.

— Não é para você entender. Procure Amanda ao sair do escritório, ela passará algumas instruções sobre o serviço e te mostrará seu quarto.

— Quarto? Mas eu pensei que fosse uma vaga para diarista!

— De fato seria, mas julgo que será bem mais fácil para você dessa forma, até se acostumar com o tamanho da mansão.

— Senhor Miller, eu não posso ficar. Não tenho nada aqui, eu teria que buscar meus pertences do outro lado da cidade.

— Não se preocupe com isso, mando alguém ir buscar.

— Mas... são coisas minhas, acho muito pessoal. Só de imaginar alguém transportando algo meu, faz me sentir estranha.

Depois de me ouvir, Miller pondera por uns segundos até que me responde.

— Entendo. Então mandarei alguém te levar no fim do expediente.

— Mas...

— Você quer a vaga ou não?

— Sim, Senhor.

— Nesse caso, seja bem-vinda a residência dos Miller, Senhorita Silva.

Minutos depois, estou em outro cômodo da mansão recebendo o que parece ser um castigo em forma de lista.

— Esse é seu quarto. Se arrume para o trabalho, aqui está seu uniforme.

Amanda o entrega em minhas mãos, após me dar algumas instruções sobre o trabalho.

— Só mais uma coisa... fique fora de vista quando a Senhora Miller estiver no mesmo recinto que você. Ela sofre de Alzheimer, será difícil entender o que está acontecendo. Tenha paciência com ela.

Com dor em sua voz, noto a preocupação de Amanda ao me alertar sobre a Senhora Miller. Fico triste por ela. Apesar de não a conhecer ainda, sinto que sua alma está ferida. Deve doer tanto para ela como para sua família.

— Pode ficar tranquila. Eu entendo como ela se sente. Não farei nada que a prejudique.

— Obrigada, Maia. Seja bem-vinda, a gente se vê no fim do dia. E... me desculpe pelo meu comportamento mais cedo, estou tendo um dia ruim. Pensei que fosse mais uma caça fortunas. As mulheres da entrevista se jogaram para cima do Senhor Miller como cães desesperados abanando o rabinho. Foi difícil contê-las. Nem o canil daria conta... é sério! Ele expulsou cada uma antes mesmo de poderem se sentar.

— Fico feliz que não tenha acontecido comigo então.

— Eu também. Vou deixá-la se aprontar. Até mais tarde Maia.

— Até.

Após ficar sozinha, pego meu celular, apressada, ligando logo após para a mamãe.

— Sim, meu amor?

Não aguentando meu entusiasmo conto de uma vez para ela:

— EU CONSEGUI MAMÃE! — Falo animada.

— Eu sempre acreditei em você meu amor. Meus parabéns! Agora venha para casa, fiz um bolo de comemoração e quero comer com você.

De repente, eu lembro que terei que ficar aqui, e meu coração se despedaça ao ter que contá-la. Não sei como minha mãe vai reagir a isso. Quando voltei, ela esperava que ficássemos juntas.

— Mamãe? Tenho algo para te contar.

— O que houve Maia?

— Senhor Miller me pediu para ficar aqui, morar por um tempo. Até eu me acostumar com o tamanho da mansão. Ele quer que eu comece imediatamente. Eu não quero te deixar sozinha mamãe. Caso não concorde eu anulo. Ainda não assinei nada. Você é mais importante para mim do que qualquer coisa.

— Maia, não. Eu estou acostumada a ficar sozinha, sei me virar muito bem. Não anule nada, eu quero que fique.

— Mas mamãe?

— Ponto final mocinha.

— Você é maravilhosa sabia?

— Sim... eu sei! Foi com meus encantos que conquistei seu pai.

Acho melhor trocar o assunto antes que mamãe me pergunte outra vez o que de fato aconteceu.

— Mamãe, eu tenho uma lista de afazeres mas não sei nem por onde começar. Me ajuda?

— Bom, comece limpando os banheiros. Para isso você vai precisar ir até à dispensa para pegar os produtos.

Passo o resto da chamada ouvindo as dicas da mamãe com atenção. Eu preciso tomar cuidado com o que faço. Após anotar tudo em um pedaço de papel na escrivaninha do meu quarto, me arrumo e prendo meu cabelo. Pronta para iniciar essa nova etapa da minha vida.

— Caramba! E que Deus me ajude a não quebrar nada.

Peguei quase todos os itens que preciso para limpar a mansão, na dispensa. Agora com o último em mãos, coloco no balde junto com os outros. Nunca pensei que um balde fosse pesar tanto.

Quando chego no primeiro quarto, começo a arrumar a cama, alinhando os travesseiros em seguida. Não há muita bagunça por aqui, pelo o que vejo o dono desse quarto é muito organizado, não tenho muito o que fazer.

Então decido pegar o aspirador de pó para limpar o carpete. Assim vou para o banheiro em seguida e logo acabo.

— E você com medo da faxina Maia! É tão fácil como desenhar um sol.

Digo para mim mesma com um sorriso bobo no rosto ao colocar o fio na tomada.

— Oh...Ou.

Sem perceber como liguei o aspirador, acabei jogando toda a poeira que havia dentro dele pelo quarto. Resultando em uma queda pelo impulso que tomei no processo. Ainda no chão resmungo brava por esse deslize.

— Falei cedo demais, que droga!

— Olha, já vi mulheres se jogarem na minha cama, mas no meu carpete... é a primeira vez! — Diz Senhor Miller ao aparecer na porta.

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