Sem dizer adeus - Livro 1
Sem dizer adeus - Livro 1
Por: Carol Moura
Prólogo

Eu nunca escrevi uma canção romântica

Que não terminasse em lágrimas

Talvez você reescreva minha canção romântica

Caso possa substituir meus medos

Preciso de sua paciência e direção

E todo seu amor e mais

Quando trovões circulam através de minha vida

Será que você está disposto a vencer essa tempestade?

Há muito que eu gostaria de lhe dar, baby

Se ao menos eu conseguisse

Há um inchaço de emoções

Que sinto, que devo proteger

Mas qual é o ponto dessa proteção?

Se mantém o amor longe também

Eu prefiro sangrar com cortes de amor

Ao invés de viver sem cicatrizes

Eu posso confiar?

Ou será que todas as coisas terminam?

Eu preciso ouvir que você morrerá por mim

De novo, e de novo e de novo

Então diga-me quando você olha em meus olhos

Você consegue compartilhar todas as dores e os momentos felizes?

Pois amarei você para o resto de minha vida

Essa é minha primeira canção romântica

Que não terminou em lágrimas

Acho que você rescreveu minha canção romântica

Para o resto de meus anos

Amarei você para o resto de minha vida

Love Song — Pink

— Tudo bem, Mary, eu vou. Satisfeita? — Bufei, brindando à minha derrota mais uma vez. Discutir com Mary Anne era praticamente como perder uma luta por W.O, era como se você não comparecesse para a discussão. Ela falava, você ouvia e, por fim, acatava. — Pode chamar meu irmão agora, querida?

— Obrigada! Amo você — exclamou minha cunhada do outro lado da linha.

Era como se eu tivesse nascido para ser pau mandado das mulheres da minha família. Eu não conseguia dizer não a nenhuma delas.

— Hey, pequeno Alex! — Joshua, meu irmão mais velho apenas no sentido temporal, deixemos claro, pois seu intelectual rivalizava com o de um Basset Hound, praticamente gritou do outro lado da linha.

— Joshua! — Apertei meus dentes, pelo meu tom de voz ele sabia que eu não estava satisfeito com a forma como havia manipulado tudo comigo, aliás, ele sempre fazia isso. Era um jogo velho e batido, mas ele nunca desistia. — Colocar Mary Anne na história é golpe baixo, já pedi milhões de vezes para você resolver suas coisas comigo, não colocar sua mulher tirana para me caçar e abater onde eu estiver.

Ele gargalhou... Como sempre! Ele poderia ser o irmão mais velho, mas eu certamente era o adulto aqui.

— Eu sei — suspirou. — Só queremos que você venha, Alexander. Divirta-se um pouco. É nossa primeira noite realmente sem Joselie em anos, Mary está radiante que finalmente vai sair para dançar e é seu aniversário, você deve fazer um esforço pela sua cunhada.

— Como a pequena está? — perguntei derrotado e mudando o assunto, não adiantaria discutir agora, eu disse que iria para Mary, e eu teria que ir.

— Linda e esperta. Perguntou se o tio Alex vai na festa com a mamãe e o papai e mandou muitos beijos.

Ainda não estava acreditando que ele me faria ir do Brooklyn até Manhattan para ver gente aglomerada, suada e bêbada dançando em um bar. Eram quarenta minutos de distância, vinte quilômetros, pelo amor de Cristo!

— Você não joga limpo, mas já aceitei ir, então pare de usar a sua família para me chantagear. — Ele sabia das minhas fraquezas. Joselie era a minha princesinha, eu era massa de modelar em suas pequenas mãozinhas. E Mary... melhor eu nem começar a explicar. Ela estava mais em meu coração do que meu próprio sangue. O fato de Josh ser um babaca também ajudava na disputa.

— Eu sei, me processe. — Sua voz estrondosa rompeu pelo fone de ouvido fazendo com que eu o arrancasse rapidamente. Esperei até que ele se acalmasse e voltei ao dispositivo.

— Hey, Mary convidou mais alguém? — a pergunta saiu um pouco estrangulada.

 Eu estava com um pouco de medo.  Quem não teria depois de se envolver com aquela perseguidora? Mary tinha que estar me odiando por algum motivo quando apresentou Phoebe para mim. Tenho certeza.

— Relaxe, Bro! Phoebe não vai! Ligou aqui em casa perguntando quando seria a comemoração e Mary apenas disse que não faria nada no seu aniversário além de um jantar em família.

— Hum... — minha desconfiança não foi disfarçada. A mulher era louca, porra! A última coisa que eu queria era encontrar a maluca naquele bar.

— Alexander, eu sei que Phoebe é meio psyco, mas você já pode relaxar, irmão. Parece que ela está saindo com outra pessoa, foi ela quem contou para Mary, disse que está totalmente em outra.

— Mesmo? Então por que ela me ligou dezoito vezes ontem à noite? — Minha voz aumentou algumas oitavas com a pergunta. Josh só achava que sabia da perseguidora.

 Ele gargalhou na linha fazendo com que eu afastasse novamente o fone. Simplesmente amava fazer isso. Rir da minha cara, da minha desgraça. Quem não riria, afinal de contas? Eu fui o único a me deixar enredar por aquele monstro de saltos agulha.

Você está tão, tão ferrado.

— Como se eu não soubesse. Você, como sempre, muito perspicaz. — Rolei meus olhos para a grande descoberta do século enquanto folheava um processo em minha mesa. — Tenho que desligar.

Não esqueça. Tay Tay às nove.

— Tudo bem — disse, abrindo um e-mail aleatório em minha caixa de entrada, apenas para não focar nas palavras inúteis do meu irmão.

E vá para casa, vista-se como um ser humano que participa de atividades sociais.

— Não estou nu, Josh — resmunguei, sem humor para as suas brincadeiras, eles sempre implicavam com minhas roupas. — Tenho roupas normais.

— Claro que tem.  — Bufou em sarcasmo. — Aposto que você dorme de terno também.

— Tudo bem, você já pode ir se foder.

Desliguei e arranquei o fone de ouvido jogando-o em cima da minha mesa. Olhei para os processos em minha frente com um suspiro longo e pesado. Eu sabia que trabalhava demais, mas, porra, eu tinha pijamas. Eu poderia ser um cara sociável se quisesse, eu só preferia canalizar minhas forças no que realmente importava.

Todos nós temos prioridades.

Joshua tinha as suas, ainda que ele parecesse um grande homem bobo, sua mulher e filha eram tudo para ele. Eu não tinha mulher ou filhos, me diverti durante a faculdade antes de ir para a Escola de Direito, quando ingressei, foquei nisso. Logo, minhas prioridades eram diferentes. Por que era tão difícil de entender?

**

Reservei o restante da tarde para ignorar o telefone e me concentrar nos últimos processos que eu tinha para organizar antes do meu descanso. Era sexta-feira, sete de dezembro e meu último dia de trabalho. Sábado seria meu primeiro dia de férias e visitaria meus pais em Jérsei, passaria um tempo lá e desfrutaria de algum tempo livre em meu velho quarto. Sorri ao pensar.

Desde que ingressei na faculdade sabia que iria para a Escola de Direito e escolhi a área Criminal para me especializar, desde então, raramente deixava Nova Iorque para visitar a minha cidade natal, Nova Jérsei. Eu gostava de Nova Iorque, um pouco, mais ou menos. Sentia-me constantemente sufocado.

Grande demais.

Populosa demais.

Louca demais.

As pessoas aqui eram estranhas. Eu não acho que algum dia conseguirei me sentir completamente à vontade nesta cidade.

Escolhi aqui porque era perto de Jérsei e ainda estaria próximo do meu irmão que já havia se instalado na cidade.

Bem, isso e o fato de ter conseguido uma bolsa na New York Law School assim que eu terminasse a faculdade.

Alguns contatos e estágios com meus mestres na universidade me levaram na direção que precisava até que consegui atingir o meu objetivo: ser um dos assistentes de promotoria de justiça. A dedicação conseguiu me transformar no que eu almejava, rapidamente. Quando percebi, eu já tinha um nome no meio judiciário, um pequeno e aconchegante apartamento no Brooklyn, e possuía um bom escritório na Promotoria Geral de Justiça do Distrito de Manhattan. Eu não sonhava em ser um promotor geral.  Este era um cargo político e era algo que eu realmente não almejava. Estava contente em cuidar de casos grandes do Distrito e não casos enormes do país que provavelmente me colocaria em uma cerca de seguranças e morando em uma espécie de fortaleza.

Aos trinta e dois, eu era um promotor assistente eficiente da Procuradoria Geral da República e, se eu fosse sincero comigo mesmo, era um promotor assistente eficiente sem uma vida social, com exceção de corridas no Central Park, depois que eu deixava o trabalho. Mas não acredito que minha família, ou qualquer outra pessoa, entenda “correr em um parque sozinho em um horário onde tudo está praticamente vazio e escutando música” como um ato de socialização.

Eu não tinha argumentos para ir contra eles.

Não que eu não gostasse da minha vida, mas estava realmente empolgado com a iminência de algum tempo livre, finalmente poderia focar em mim e minha família por um tempo. Sem processos, sem julgamentos, sem ser promotor por duas longas semanas, sem contas para pagar e, principalmente, sem Phoebe.

Aquela garota era maluca, uma pirada de primeira. Nunca pensei que namorar com ela pudesse ser uma desconstrução psicológica. Porra!

Compradora compulsiva, faladora compulsiva, puladora compulsiva, perseguidora compulsiva e manipuladora compulsivamente compulsiva. Sendo amiga de Mary Anne, minha cunhada e mais minha irmã do que Josh, fomos apresentados quando ela voltou da França depois de um período de férias.

Nos aproximamos, e ela parecia uma pessoa decente, tínhamos a mesma idade, gostávamos de correr no Central Park e comer sushi enquanto assistíamos filmes antigos, é claro, quando eu tinha tempo para isso.

Tudo maravilhosamente sincronizado.

Até ela provar que era completamente o oposto de tudo aquilo.

Uma pessoa não consegue fingir ser alguém diferente por muito tempo e em algum momento a máscara cai. Eu não era apaixonado por Phoebe e mesmo assim a minha decepção foi grande quando ela começou a se mostrar a vadia maldosa que era. Para mim, não deixava de ser uma forma de traição.

Falava mal de tudo, reclamava de qualquer coisa, e o pior... A pior coisa que podem fazer perto de mim, ela humilhava as pessoas.

Humilhou Melissa, minha assistente, quando percebeu que a moça tinha, hum... sentimentos por mim. Foi desagradável com a recepcionista do prédio, Victória, por ela ser homossexual e seu xeque-mate, o estopim que levou ao nosso término: Maltratou Josie. Minha sobrinha linda, o meu anjo, e bem na minha frente. Mary nunca ficou sabendo o motivo real, eu não contei. E Phoebe, sendo desprovida de qualquer caráter, também não disse uma palavra sobre o assunto e sequer se desculpou por maltratar uma criança. Avisei Josh que não queria aquela mulher perto do meu tesouro e fui sério sobre cada palavra, meu irmão sabia que algo estava acontecendo, mas optei também por não contar a ele e evitar que se magoasse com a situação por causa de um relacionamento que eu mantinha por manter. E depois que aquela mulher se revelou completamente diferente de quem dizia ser, apenas não queria ela perto de qualquer pessoa que eu amasse.

Eu podia não ser muito presente, mas minha sobrinha, cunhada e mãe eram estimadas e protegidas por mim. Eu as amava e paparicava da forma que podia. Minha mãe criou Josh e eu para o mundo, ela sempre dizia isso e agiu exatamente como suas palavras e acho que isso e a distância, depois que viemos para NI, conseguiu nos unir mais ainda. Mesmo que nos falássemos na maioria das vezes por telefone, nosso laço permanecia muito forte.

Mary fora minha amiga na adolescência, ela era como mais um menino na turma do colégio, fazíamos tudo juntos e quando conheceu Josh, no momento em que ele voltou para casa nas férias de primavera, foi amor à primeira vista, assim, ela passou de amiga para irmã rapidamente. Meus pais ficaram um pouco surpresos, sempre pensaram que Mary e eu seríamos aqueles a namorar, mas nós nunca nos vimos mais do que amigos. Tentamos, mas simplesmente era estranho.

Joselie veio logo após o sexto ano de casamento deles e foi a melhor coisa que aconteceu em nossa família. Desde que aquela pequena criatura fofa nasceu, tratei de encontrar tempo ao menos para ela. Foi natural, para ser honesto. Joselie era alguém que eu queria por perto, sua inocência e luz me puxava para ela desde que nascera. Eu tinha seus desenhos na parede de meu escritório, algumas bonecas também, assim, sempre que Mary a deixava comigo, nos divertíamos juntos.

 Era uma menina doce e inteligente, e eu não poderia imaginar uma pessoa dizendo a uma menina de três anos de idade para parar de fazer perguntas, pois só retardados agiam daquela forma. Bem, eu não poderia imaginar até presenciar Phoebe fazendo isso. Inclusive, dizendo que costuraria a boca de Josie com agulha e linha caso continuasse com perguntas estúpidas. Depois daquela atitude, mostrei o caminho da saída para ela. Eu não tinha necessidade de ter compromissos, eu vinha há um longo tempo tendo namoros esporádicos porque trabalhava muito e não me importava em ficar sozinho na maior parte do tempo, sendo assim, terminar com Phoebe foi mais um alívio do que um sofrimento.

Não, apague isso, eu estava sofrendo... para me livrar dela.

**

Analisei mais alguns papéis e despachei os processos que eu precisava com a ajuda da minha assistente e, enquanto desligava as luzes do meu escritório, analisava se tudo se encontrava em perfeito estado de limpeza e organização. Eu era um pouco exigente com aquilo.

Sentia o cansaço mental e físico. A ideia de férias me parecia muito mais atraente agora. Estava um pouco empolgado para ficar o mês de dezembro fora da Promotoria.

— Vejo você no ano que vem, Melissa. Feliz Natal e Feliz Ano Novo! — disse, dobrando meu blazer em meu braço.

— Igualmente.  Boas férias, Alex. — Ela parecia radiante e sonhadora mesmo com a sua voz contida e sua postura sempre polida. Talvez porque estivesse se livrando de mim pelos próximos dias. Ou talvez porque bem... ela gostava de mim.

— Para você também, Mel.

Ri ao sair para o corredor quando vi seu rubor. Ela sempre corava quando eu a chamava de Mel.

Melissa Dill tinha vinte e oito anos e queria ser uma promotora assistente assim como eu, por isso trabalhava comigo. Esperava uma boa carta de recomendação para ser minha colega e eu não tinha dúvidas de que ela seria excelente em seu trabalho. Melissa era inteligente, voraz e muito maliciosa no que tangia a nossa profissão. Era o meu braço direito. Passava por minha cabeça fazer uma proposta a ela e mantê-la como minha parceira na promotoria. No que dependesse de mim, ela conseguiria seu almejado cargo como promotora.

Mel também era uma bela mulher que, desde que foi trabalhar para mim, tinha esperança de que nosso relacionamento fosse mais do que apenas profissional. Embora ela fosse extremamente atraente, eu não misturava negócios com prazer, sempre foi desta maneira e mantive assim. Eu lhe envolvia nos processos, elogiava seu trabalho e escorregava dos seus flertes com educação. Com o tempo, ela pareceu entender e diminuiu sua inteiração fora do profissional, mas eu via que ela ainda carregava esperança. Entretanto, se continuasse não misturando as coisas e respeitando a minha distância, tudo estaria bem.

 Funcionaria pelo tempo em que Melissa quisesse ficar.

**

Desci até o térreo e saí do elevador rapidamente, acenando para Victória, a recepcionista do prédio. Correndo para fora já estiquei meu braço tentando pegar um táxi. Estava irritado que teria que ir para o Brooklyn e voltar para Manhattan só porque meu irmão não considerava terno e gravata um vestuário digno de um bar. Olhei em meu relógio e bufei ao saber que eu tinha apenas uma hora para chegar em casa e me arrumar para sair. Eu me atrasaria e Mary não ficaria satisfeita.

Bem, eu estaria mais insatisfeito do que ela. Afinal de contas, eu odiava atrasos. E odiava sair da minha rotina.

Mas também odiava dizer não para Mary Anne.

— Merda! — murmurei sozinho. — Tay Tay? Por que diabos não aprendi a dizer não para aquela tirana? Argh!

O Tay Tay era um grande, popular e sofisticado bar, o local ideal para relaxar se não fosse o fato de que eles também tinham uma pequena pista de dança e em sextas e sábados era intransitável, barulhento e cheio de gente e eu realmente só ia neste bar quando queria um encontro sexual rápido e sem amarras. Não era o caso nesta noite, porém. Mary estava comemorando seu aniversário e sua volta ao mercado de trabalho após ter Josie, e queria a minha presença e eu estava, mais uma vez, tão orgulhoso que não poderia negar seu pedido.

Mary era uma força da natureza. O tipo de mulher que parava o local em que chegava, sempre foi linda e cobiçada pelos meninos da nossa escola. Mas, ao contrário da maioria das garotas que optavam por ser cheerleaders, ela fazia aulas de mecânica e andava comigo porque andar com as meninas da escola era tedioso. Quando foi para a faculdade, escolheu engenharia mecânica também e logo conseguiu um bom emprego em uma montadora de automóveis conceituada. Ela trabalhou até engravidar de Joselie, por seis anos se dedicou à família, e então obteve uma nova proposta para voltar à mesma empresa. Ela estava radiante. Havia conquistado o seu espaço e colocado cada homem que duvidou da sua capacidade em seu devido lugar. Inclusive meu irmão.

Joshua se apaixonou por Mary irrevogavelmente desde que ele pôs os olhos nela, eram inseparáveis e se apoiavam de uma forma que nunca vi qualquer casal fazendo.

Meus pais ficaram radiantes com o casamento e a vinda da minha sobrinha. A cada quinze dias, Josh levava as meninas para visitá-los em Jérsei, eles passavam o final de semana com os meus pais, reunidos como uma grande família feliz. Isso fez com que a pressão para que eu também me casasse e constituísse família aumentar, além dos pedidos da minha mãe para os visitar mais. Sabia que falhava em estar mais com eles, mas deixava o trabalho me consumir e, para ser honesto, acho que preferia daquela forma. Gostava de trabalhar sem parar, não podia reclamar da minha vida, uma vez que eu busquei de todas as formas que fosse assim. Mas, mesmo tendo ciência desta escolha e me sentindo satisfeito com ela na maior parte do tempo, sentia falta da minha família.

Por isso, as férias. Foi uma insistência da família, mas também foi uma vontade minha. Eu sentia falta de estar com eles e precisava de um descanso.

Melissa era totalmente capaz de cuidar de tudo para mim no escritório. Eu confiava em seu trabalho e, para ser sincero, precisava de férias. Não sabia o que era isso desde antes de entrar para a faculdade.

**

Meu telefone tocou a viagem inteira até o Brooklyn e voltou a tocar novamente ao entrar em casa. Queria que não fosse Phoebe, mas sabia que era.

Assim que o celular parou de tocar o telefone de casa iniciou. Ela devia estar intercalando entre um e outro. Assim que minha mensagem de voz terminou o cumprimento a voz irritante de Phoebe soou pelo apartamento.

Você não pode me ignorar para sempre, Alexander Hartnett, precisamos conversar. Eu sou sua e você é meu.

— Vai sonhando, cadela. — Bufei, jogando meu telefone e carteira dentro do prato decorativo na mesa ao lado da porta e segui para meu quarto.

Eu não costumava ser rude com as pessoas, e muito menos falar dessa forma com as mulheres, mas como eu tinha uma grande desconfiança de que Phoebe não era nem uma coisa e nem outra, nem mulher e nem humana, então não me sentia culpado. Queria distância daquela maluca. Já havia proibido a entrada dela tanto no escritório quanto no prédio em que morava.

— Jesus! Estou atrasado — falei para as paredes, algo que eu costumava fazer muito e corri para o banheiro para um banho rápido.

Juro que procurei algo mais despojado para usar, mas eu só tinha ternos, cacete. Passava freneticamente um e outro cabide tentando encontrar algo que não fosse tão formal para vestir e que não fosse tão velho também.

— Quando foi a última vez que comprei roupas para mim? — resmunguei, garimpando meu guarda-roupas. Eu podia ouvir meu irmão rindo de mim.

Nota mental: Comprar roupa de ser humano.

Acabei optando por um jeans velho e escuro, combinei ele com uma camisa social branca e sapatos mais despojados. Optei pelo meu relógio favorito para complementar e após um pouco de perfume, estava pronto. Ponderei refazer a barba assim que me olhei no espelho e percebi que a sombra escura já aparecia em meu rosto, mas então me lembrei que estava de férias, então um pouco de barba não faria mal.

Analisei minha imagem no espelho e assenti brevemente gostando do que estava vendo. Tinha cabelos lisos, em um corte social que meu irmão chamava de “mauricinho antiquado”, eram finos e não ficavam parados a menos que uma quantidade grande de gel fosse dispensada, meus olhos tinham a mesma cor escura. O conjunto da obra era bom. Facilitava quando queria sair com alguma mulher. Eu sou alto, cerca de 1,90m e embora a minha vida fosse apenas trabalho, a genética me permitia um corpo decente sem precisar de academia e com apenas as corridas no Central Park para poder relaxar sempre que podia. Meu porte era grande por natureza e seria mentira se eu dissesse que isso não chamava a atenção. Especialmente com um terno. As mulheres pareciam especialmente receptivas quando me viam em roupas de trabalho. Eu era um homem que chamava atenção e conseguia encontros, mas relacionamentos eram mais complicados.

As pessoas tendiam a me achar um pouco... tenso?

Bem, ao menos foi o que Mary me disse. Suas amigas geralmente me achavam atraente, mas minhas tendências um tanto obsessivas por datas, horários, limpeza e arrumação traziam sempre um pouco de desconforto nas relações.  

Eu estava começando a pensar que eu não era muito bom em namorar.

E dado ao fato de que minha última conquista foi Phoebe, provavelmente esse pensamento estava correto. Um mês que eu estava fugindo daquela maluca.

Jesus! Eu preciso transar.

Pensei quando me dei conta de quanto tempo fazia que eu realmente não sabia o que era uma boa foda.

Devia ser o motivo de eu estar tão mal-humorado ultimamente.

Mais uma olhada no espelho e eu estava pronto. Verifiquei a hora e resmunguei, vendo que chegaria atrasado. Merda! Eu odiava atrasos. Odiava qualquer coisa que saísse dos planos. Como a porra da comemoração de Mary Anne, por exemplo.

Correndo para porta, peguei meu telefone e carteira e saí rumo a Manhattan novamente.

**

— E aí? — O segurança enorme cumprimentou de forma nada profissional no momento em que passei pela porta

— Boa noite. Er... Hartnett. — Dei meu nome assim que passei pelo segurança superprofissional e cheguei em frente à hostess para que ela procurasse na lista e não demorou a me dar o "ok" para que eu entrasse. Mary havia feito reserva de uma mesa para nós, então a garota me mostrou a direção antes de me dar um belo sorriso simpático e me desejar uma boa noite.

As luzes do bar me irritavam.

O tumultuo de gente à minha volta me irritava.

O cheiro de suor e a atmosfera abafada me irritavam...

Eu sei, eu sei!

Cara chato!

Mas era uma questão de estilo de vida, pessoas se divertiam de formas diferentes. Josie se divertia com bonecas e dragões roxos. Joshua... Bem, Josh se divertia com Mary, e podemos pular essa parte. Phoebe se divertia sendo cruel com as pessoas. Melissa se divertia sonhando com o dia em que a convidaria para sair. E eu me divertia fazendo maratonas Star Trek sozinho no final de semana quando não estava trabalhando, sem ninguém para me importunar. Isso e colocar minha coleção de CDs e DVDs em ordem alfabética, talvez.

Só para constar: Há dois anos eu não fazia uma maratona Star Trek.

Eu era um fodido workholic!

Andei até a mesa que foi reservada para os convidados de minha cunhada e logo avistei Angelina, um antigo affair que insistia em casar comigo sempre que entrava na segunda dose de Club soda com vodca. Era sempre o ponto alto das festas. Angie era inofensiva e sempre me divertia.

— Alexander Hartnett, meu noivo! — Aparentemente ela havia passado da segunda dose há muito tempo.

— Hey, Angie... — eu disse desanimado. Ela tentou me roubar um beijo naquele joguinho primário de virar bem na hora que você vai beijar o rosto, mas estava bêbada demais para conseguir êxito. E bem, eu nunca caía naquela brincadeira.

Nunca! Não depois das cinco primeiras vezes que ela me pegou, de qualquer forma.

— Olha quem veio! — Minha cunhada praticamente se atirou nos meus braços. Eu sorri e lhe apertei. Abraçar Mary era como voltar à adolescência. Eu a amava como se fosse minha irmã, estar perto dela era estar perto de casa.

— Como se eu tivesse escolha.  — A abracei mais apertado. — Feliz aniversário e parabéns pela volta ao trabalho, querida. Recebeu as flores?

— Obrigada, velhote. Fico feliz que tenha vindo. E também pela caixa de Baby Ruth, você sabe que eu amo aquela porcaria de chocolate — disse, me dando um último aperto antes de nos soltarmos.

— Qualquer coisa por você. — Belisquei sua barriga levemente fazendo-a se esquivar. Nos aproximamos mais da mesa e logo comecei a cumprimentar todos, conhecidos e não conhecidos.

— Pequeno Alex! — A voz de meu irmão era tão estrondosa que conseguia se erguer por cima da música barulhenta. Ele me abraçou com fortes tapas em minhas costas e fiz o mesmo com ele. — Conseguiu uma roupa de civil. Parabéns.

— Foda-se, Josh! — resmunguei me afastando dele.

— Você fala demais isso, vai te colocar em apuros com Joselie. Ela está arrecadando muito dinheiro, e “a palavra com F” é mais cara.

Sorri com a menção de minha sobrinha e passei os próximos minutos tentando falar sobre ela com o meu irmão, mas a música estava alta demais e Mary parecia impaciente para que eu começasse a noite e parasse de falar.

Ela me levou até uma poltrona ao lado da mesa onde uma linda mulher, estonteante eu diria, estava sentada. Ela tinha os cabelos e olhos castanhos escuros, pelo que pude decifrar na fraca luz do ambiente, lábios finos e maquiagem forte. Parecia perfeita para mim, e eu sabia que minha cunhada estava me levando até ela justamente por isso.

— Alex, essa é Diane... Di, conheça meu irmão, Alexander — informou enquanto eu esticava a mão para cumprimentar a garota.

A mulher me analisou com olhos felinos por um momento, me olhando com cautela. Quando pareceu aprovar a minha aparência, esticou sua mão delicadamente e me cumprimentou com um sorriso sedutor nos lábios.

Nós conversamos pela próxima hora, e poderia dizer que estava interessado nela. Era inteligente, engenheira química, bem-humorada e muito cheirosa. Eu só não ri das suas piadas, mas ela era esforçada. Só que seu comportamento mudou quando um cara chegou a cumprimentando como se a conhecesse. Fingi não perceber e tentei continuar a nossa conversa, mas tive quase certeza que a tinha perdido para o cara.

— Hey! Cadê a Carter? — Uma outra convidada de Mary, que eu não tinha ideia de quem era, perguntou à Diane que na mesma hora apontou para baixo. A pequena pista de dança que recebia geralmente as pessoas mais bêbadas do bar.

— Bem no meio da pista, tem um garçom passando ao lado dela nesse momento. — Segui suas coordenadas e avistei uma garota dançando. Completamente insana. Eu ri com a forma que ela se movia. Eu podia ver que ela era baixa, tinha um corpo atlético e cabelos curtos, bem próximos ao queixo dela.

— Alguém precisa chamá-la, meu bolo está chegando em breve. — Mary entrou na conversa, avisando Di enquanto batia palmas animada.

— Eu vou, eu vou — Di respondeu, levantando-se ansiosamente.

— Alex acompanha você, Di. — Mary jogou.

Eu dei de ombros e a segui em direção à pista mais afastada. Quando chegamos perto da garota, Di a cutucou e nos apresentou, ela sorriu, mas não parou de dançar. Eu somente acenei timidamente e dei um breve sorriso para não parecer antipático. Já estava ficando farto daquele lugar, as luzes começavam a me deixar tonto, para ser sincero.

Tay Tay sempre foi mais um bar do que boate, no entanto, estava parecendo justamente o contrário desde a última vez em que estive ali.

— Argh! Preciso ir ao banheiro antes de voltarmos para os parabéns. Vocês esperam? — Diane berrou a sua pergunta já se afastando.

Eu e a garota, que mais parecia uma boneca de pano dançando, assentimos. Fiquei parado no meio da pista enquanto ela continuou agindo como se estivesse possuída por algum demônio. Por que ela dançava de forma tão maluca?

Foi então que ela virou para mim e esticou seus braços. Puta que pariu! Ela está me convidando para dançar?

Olhei para ela com os olhos arregalados de medo e tentei me afastar, um hip hop barulhento começou a tocar e era tarde demais, ela me laçou em seus braços e nos fez balançar juntos até que eu desistisse de lutar e dançasse com ela ao som de algum rapper multimilionário fumador de maconha que eu sequer sabia o nome e nunca teria um CD na minha coleção separada por ordem alfabética.

Depois disso, a noite passou como um grande borrão.

Só me lembro de acordar com ela na minha cama na manhã seguinte.

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