Um grito me tirou da inconsciência.
— Katherine! Katherine!
Era a voz do Derek, cheia de pânico.
Abri os olhos lentamente e percebi que estava deitada em uma cama de hospital.
O cheiro de desinfetante preenchia o ar, e o teto branco começou a entrar em foco diante de mim.
Derek estava sentado ao lado da cama, com o rosto exausto, os olhos vermelhos de tanto chorar. Suas roupas estavam amarrotadas, o cabelo bagunçado, parecia que não dormia havia uma noite inteira.
— Você finalmente acordou! — Ele segurou minha mão com força, a voz trêmula. — O médico disse que você desmaiou com febre alta... ainda bem que o motorista te encontrou a tempo, senão...
A voz dele falhou, os olhos se encheram de lágrimas.
— Me desculpa, foi tudo culpa minha. Eu não devia ter deixado você voltar pra casa sozinha, não devia ter deixado você se molhar na chuva...
Uma enfermeira entrou no quarto, interrompendo.
— A temperatura já voltou ao normal, senhor Derek. Sua esposa está se recuperando muito bem.
Ela se virou para mim com um sorriso.
— O senhor Derek ficou aqui com você o tempo todo, nem teve tempo de tomar água. Só saiu agora há pouco pra atender uma ligação importante.
Assenti com a cabeça, a voz rouca:
— Obrigada.
Ela mediu minha temperatura novamente, deu algumas orientações e saiu do quarto.
Alguns minutos depois, ouvi a voz do Derek do lado de fora.
Ele estava ao telefone, mas o tom agora era completamente diferente... animado, alegre, em contraste total com o ar preocupado de antes.
— Sério? Que ótimo! Essa é a melhor notícia! — A voz dele transbordava entusiasmo. — Eu vou agora mesmo!
Com o corpo ainda fraco, me arrastei até a janela.
Vi Derek caminhando apressado em direção ao outro prédio do hospital, o Centro de Fertilidade.
Seus passos eram leves, e o rosto estava tomado por um sorriso que ele nem tentava esconder.
Tirei a roupa do hospital, me vesti rapidamente e o segui.
Na recepção do térreo, vi Derek saindo com Sheila do consultório. Ele a segurava com todo cuidado.
Ela usava um vestido branco, parecia pura e impecável, com um brilho de felicidade radiante no rosto.
Foi nesse momento que Derek me viu parada a poucos metros de distância.
O sorriso dele congelou no mesmo instante. O rosto perdeu toda a cor, e ele largou Sheila como se tivesse levado um choque, dando um passo para trás, apressado e nervoso.
— Katherine? O que você... — A voz dele tremeu. — Você não deveria estar no quarto descansando?
— Vim buscar um remédio. — respondi com calma. — O médico pediu que eu pegasse um suplemento.
Gotas de suor surgiram na testa de Derek. Ele engoliu em seco e tentou parecer natural:
— É-é mesmo? Que coincidência. Eu só estava passando por aqui, aí encontrei a Sheila... Ela disse que estava se sentindo mal, então resolvi acompanhá-la no exame.
A voz dele tremia, tropeçando nas próprias palavras. Era óbvio que estava mentindo.
Sheila me viu e o rosto dela logo se iluminou com um sorriso triunfante e provocador.
Ela acariciou, de propósito, a barriga ainda completamente reta e falou com uma doçura nojenta:
— Oh, Luna! Que coincidência maravilhosa!
— Acabei de sair da consulta. O médico disse que posso estar grávida.
O rosto de Derek empalideceu ainda mais. Ele tentou impedir:
— Sheila, não...
— Eu só pedi a ajuda dele porque ele estava por perto. — Sheila ignorou completamente a tentativa de Derek e continuou com a voz melosa. — Afinal, se estou grávida, e o Derek é meu chefe, é natural que ele me ajude, não é?
Ela então olhou diretamente para mim com aquele sorriso venenoso:
— Luna, por favor, não me entenda mal, tá bom?
Derek já estava suando em bicas, desesperado:
— Katherine, me escuta, deixa eu explicar...
— Boa sorte pra você. — Respondi, ainda calma, sem nenhuma emoção na voz. — Vou sair agora.
Virei as costas e saí andando.
Derek tentou vir atrás:
— Katherine, espera—
— Estou cansada. Quero ir pra casa descansar. — Falei sem olhar pra trás. — Cuide dos seus assuntos.
Interrompi qualquer outra explicação antes que ele pudesse continuar.
Ao chegar em casa, Derek alegou que havia uma emergência na empresa e imediatamente se trancou no escritório.
Ouvi ele falando ao telefone lá dentro. A voz estava abafada, mas não o suficiente para esconder o nervosismo. Algumas palavras vazavam entre as pausas, tensas e ansiosas:
— Como você pôde dizer aquilo na frente dela?!
— E agora?
— Isso precisa ser mantido em segredo. A Katherine não pode saber de jeito nenhum...
Eu estava sentada na sala de estar quando meu celular vibrou de repente.
Era uma mensagem da Sheila, com uma foto anexada... um relatório de exame de gravidez.
Logo em seguida, mais mensagens começaram a chegar, uma após a outra, como uma enxurrada.
Todas enviadas por Sheila. Todas explícitas. Todas provocativas.
Ela descrevia com detalhes nojentos como ela e Derek haviam feito sexo na nossa cama de casal, no escritório dele e até mesmo no trono Alfa de Derek.
Cada mensagem vinha acompanhada de fotos sugestivas — a camisa do Derek jogada no chão do nosso quarto, o salto alto dela largado debaixo da mesa de trabalho dele.
A última mensagem dizia:
— Querida Luna, obrigada por ter me entregado o Derek. Ele disse que eu sei muito melhor como agradar um Alfa do que você. Em breve, vou ocupar o seu lugar.
Li tudo com o rosto inexpressivo, deslizando os dedos lentamente pela tela.
Cada foto. Cada palavra. Cada linha parecia uma lâmina cortando meu peito.
Mas não havia raiva. Não havia lágrimas. Só um vazio gélido, profundo, cruel.
Por fim, apertei o botão e desliguei a tela do celular.
Foi nesse momento que Derek se aproximou por trás, em silêncio.
Ele me abraçou pelas costas, encostando o rosto suavemente no meu pescoço, com a voz macia como uma brisa de primavera:
— Meu amor. Em que você está pensando tão concentrada?