Olhei pela janela para os fogos de artifício deslumbrantes que Derek preparou para comemorar a boa notícia da Sheila. Uma náusea subiu pelo meu peito.
Sussurrei baixinho:
— Que bonito...
— E aí? Gostou? — Derek me abraçou pela cintura. — Da próxima vez, vou preparar algo ainda maior só pra você.
— Derek — Murmurei suavemente. — Eu não gosto de coisas que já foram usadas por outra pessoa.
Ele ficou parado por um instante:
— Como assim?
Não respondi. Apenas continuei olhando calmamente os fogos lá fora que iam aos poucos se apagando no céu.
Foi nesse momento que o celular dele tocou. Provavelmente outra mensagem da Sheila.
Derek deu uma olhada rápida, e o rosto ficou levemente corado:
— É que... tem umas coisas da empresa que eu preciso resolver. Depois vou preparar uma surpresa ainda maior pra você.
— Vá.
Ele me beijou na testa:
— Quando eu voltar, vou te dar toda a atenção do mundo.
O som da porta se fechando foi leve — mas, para mim, soou como se algo dentro de mim tivesse se partido de vez.
Na manhã seguinte, enquanto eu arrumava minha mala, ouvi passos apressados vindo do andar de baixo.
Derek entrou no quarto de supetão, com o rosto cheio de pânico.
As roupas estavam amarrotadas. O cabelo, bagunçado. E ainda havia no corpo dele o perfume de rosas da Sheila.
Ele apontou para o próprio peito, onde antes havia uma marca prateada em forma de meia-lua. O símbolo do nosso laço de companheiros.
— Katherine, o que está acontecendo? — a voz dele tremia. — Por que a nossa marca está ficando fraca?
— Talvez seja porque você anda muito cansado — Respondi, sem qualquer emoção na voz. — Descanse bem e vai melhorar.
Derek ficou me olhando por um bom tempo, os olhos cheios de inquietação:
— Katherine, você está muito estranha hoje.
— Não é nada — Falei, casual.
Ele abriu a boca para dizer algo, mas o som de um motor do lado de fora o interrompeu.
Ela foi direto até o portão e tocou a campainha.
Derek olhou pela janela e desceu às pressas. Eu, do monitor de vigilância, o observei caminhando até a entrada.
Um carro esportivo vermelho estava parado na frente.
Sheila saiu do carro.
Sheila o viu aparecer e correu na direção dele na mesma hora.
— Derek! Eu senti tanto a sua falta.
Ele a afastou, o rosto tomado por uma irritação silenciosa.
— Você enlouqueceu? — A voz dele saiu baixa, dura. — O que veio fazer aqui? Eu não te disse pra não aparecer?
— Mas Derek, eu estou grávida do seu filho. — Sheila passou a mão pela própria barriga. — Ele também sente saudade de você.
Derek ficou em silêncio por alguns segundos, depois agarrou o braço dela e a conduziu para o fundo do jardim, longe do alcance das câmeras.
Acionei o sistema do circuito alternativo e consegui acessar outro ângulo. A imagem mostrava os dois discutindo com violência.
No começo, Derek realmente a rejeitava, empurrando-a, apontando o dedo enquanto falava alguma coisa com raiva.
Mas Sheila continuava se aproximando, esfregando o corpo no dele, sussurrando algo com voz manhosa, tentando seduzir.
Então, no meio da discussão, ela simplesmente se colocou na ponta dos pés e o beijou.
Derek hesitou por um instante, dividido entre razão e desejo, e, no final, envolveu a cintura dela e retribuiu o beijo profundamente.
Desliguei a tela. Fiquei apenas esperando, tranquila.
Uma hora depois, Derek entrou em casa de novo, o rosto cheio de culpa.
— Katherine, houve uma emergência na empresa. Eu preciso viajar por alguns dias.
— Tudo bem — Respondi, com um aceno leve. — Se cuida na estrada.
Ele me olhou, surpreso.
— Você não vai perguntar pra onde eu vou?
— Assuntos da empresa, eu não entendo disso.
Derek hesitou, então se aproximou e tocou meus lábios com um beijo rápido na testa.
— Quando eu voltar, nós vamos conversar direito. Acho que tem algo errado entre nós.
— Hum.
Ele pegou a pasta de trabalho, olhou pra mim mais uma vez.
— Katherine, aconteça o que acontecer, eu amo você.
A porta se fechou de novo.
Me levantei e fui até o quintal.
Parei diante do jardim banhado pela luz da Lua. As flores brancas balançavam com o vento da noite, soltando um perfume suave.
Cada pétala carregava uma lembrança bonita do passado, que agora não passava de uma testemunha irônica do que restou.
Eu lembrava das palavras dele quando plantou a primeira muda de flor:
— Katherine, essas flores vão te acompanhar por toda a vida, assim como eu.
Rispei o isqueiro, e a chama iluminou meu rosto num tom avermelhado.
— Desculpa, Derek — Murmurei, baixinho. — Tem promessas que, depois de quebradas, nunca mais voltam.
O fogo se ergueu, vivo, devorando todo o jardim enquanto a luz alaranjada pintava o céu noturno.
Virei as costas e voltei pra casa. Do meu esconderijo, puxei a mala que já estava pronta fazia tempo.
Fui até a penteadeira, peguei todas as fotos nossas e comecei a rasgar, uma por uma, jogando no lixo. A cada papel partido, o coração ardia como se alguém me passasse uma lâmina no peito. Mas eu não parei.
Por fim, peguei o celular e digitei uma única mensagem:
[Se passaram as duas semanas. O presente de aniversário que deixei pra você... pode abrir.]
Assim que enviei, joguei o celular e o chip no lixo sem hesitar.
O pingente no meu colo brilhava com uma luz fria, cortando por completo o vínculo de companheiros entre mim e Derek.
Olhei pela última vez para aquela casa que um dia foi cheia de amor. Depois puxei a mala e caminhei até a porta.
No caminho para o aeroporto, não olhei pra trás. Não chorei. Só senti alívio.
"Adeus, Derek. Desta vez, é um adeus de verdade.
E a partir de agora...
Não importa onde for, ou quem procure.
Ninguém mais vai encontrar Katherine."