Liana estava inquieta na cama, não conseguia dormir. Não sabia se era resultado da ansiedade ou a mente traiçoeira.
Amava a amiga e tinha adorado planejar cada detalhe do grande dia, mas isso mexia com pensamentos que Lily tentava enterrar no fundo da mente e, às vezes, vinham a tona com um pouco de álcool como naquele dia. Ela vestiu o robe e amarrou o cinto, indo até a sacada do quarto. Abraçou o próprio corpo, tentando se proteger da noite fria. A rua estava movimentada apesar do horário, era sempre assim naquela cidade, ela nunca parava. Buscou pelas estrelas, mas o excesso de luz não permitia vê-las. Nessas horas, Lily sentia faltam do interior, de quando observava o céu na casa dos avós tentando adivinhar as constelações. Isso a fazia lembrar de Sammy, ele sabia o nome de todas elas e histórias interessantes de cada uma. Um sorriso triste se formou no rosto dela com a recordação. Liana não podia negar que estava vivendo um sonho, se formou em economia na universidade que queria, fez um intercâmbio em um lugar legal e tinha um emprego concorrido. Ela devia estar totalmente feliz, mas às vezes se pegava pensando nos custos desse sonho. Sammy e Lily costumavam namorar há cerca de seis anos atrás, eles eram felizes. Sam foi criador apenas pela mãe que era garçonete numa lanchonete, ele começou a trabalhar cedo para ajudar em casa. Quando conheceu Liana no colégio, se apaixonaram e estavam sempre juntos. Ele passou a trabalhar ainda mais para poder dar a ela uma vida confortável. Lily foi criada pelos avós em um rancho, eram felizes no simples. Mas a escola a fez sonhar, ela queria fazer economia em Stanford. Estudou muito para conquistar uma bolsa integral e era apoiada por Sammy, que queria sua garota feliz. No entanto, quando passou, a distância pesou no relacionamento deles. Estavam longe, tinham pouco tempo juntos, e as coisas complicaram quando a mãe de Sam adoeceu. Ele simplesmente não tinha tempo algum, sumia por dias, semanas, se revezando entre o trabalho e o hospital. As mensagens e ligações ficaram escassas, sua vida se tornou uma bagunça e a relação já frágil, acabou. Ainda doía para Lily, eles tinham tantos sonhos. Sammy costumava dizer que ela era a sua garota e queria casar com ela. E mesmo depois de tantos anos, não conseguia abrir o coração de novo. A morena não costumava contar isso para ninguém, construiu praticamente uma nova vida. Quando os avós faleceram, vendeu o rancho e se mudou, aceitou uma proposta de trabalho bem longe na tentativa de recomecar. Estava feliz, ainda que um vazio a perturbasse. Nem mesmo com Julie, ela conversava sobre isso. Sobre Sammy, sobre os avós, sobre os sonhos que ficaram para trás. A melhor amiga pensava que seu último namorado foi da faculdade. O nome dele era Chris e durou quase um ano até que ela cansou de estar em um relacionamento sem sentimentos. Teve o Fred do trabalho que durou duas semanas, ele era um cara legal. Talvez o problema estivesse nela, Lily pensava isso às vezes. Talvez alguma tivesse quebrado. Olhando as pessoas na rua, percebeu o ônibus de festa parar na frente do hotel e os homens descerem se apoiando uns nos outros. Ela sorriu, conseguiu distinguir Franz entre eles que eram quem de fato conhecia. Eles pareciam ter se divertido também, isso era bom, só esperava que ninguém estivesse de ressaca no dia do casamento. Com um suspiro, Liana vou que era tarde. Era melhor conseguir dormir logo. Voltou para a cama e apagou todas as luzes. [...] Sean e Diego seguiram para Deus quartos ainda conversando, claramente, o moreno tinha passado um pouco da conta, ele se empolgou demais com as bebidas. "Primo, você sabe que eu te amo. Eu vou te conseguir uma garota incrível, vou fazer questão de fazer uma festa de casamento gigante para você" disse com a voz embolada pela bebida, o que fez Sean revirar os olhos com um sorriso. Ele e Diego se deram bem no momento em que se conheceram, ainda que o trabalho ultimamente não tivesse colaborado para os encontros dos primos, ainda se falavam com frequência. Na posição de presidente do Grupo Thronike, Sean foi construindo sua reputação silenciosamente, ele não posava para revistas ou dava muitas entrevistas, sabia que todas as colunas de economia queriam falar consigo, mas ele não se importava com fama. O nome Thronike de fato abria muitas portas, porém ele ainda não estava pronto para atravessá-las e sequer sabia se um dia iria querer isso. Seu pai foi um homem muito poderoso, listado entre um dos mais ricos da Europa, e queria fazer jus ao seu legado. Depositou o corpo pesado de Diego na cama e o deitou de lado para não correr o risco que sufocasse se vomitasse à noite. Saindo do quarto, caminhou para o seu calmo, as mãos no bolso e o olhar distante. Expandir o império da família para a América foi algo mais pessoal do que admitiria. Fazia muitos tempo que não posava naquele continente, mas no último ano inaugurou pelo menos três grandes hotéis no país e outros negócios do grupo. Ele queria a encontrar novamente, a mulher que tirava seu sono. Com um pouco de álcool, ela vinha facilmente a sua memória. Sean ainda se condenava por deixá-la ir. Suspirou e foi para o quarto dormir, o dia seguinte era o grande dia de Franz, precisava estar descansado. [...] Liana corria pelo salão ajustando os últimos detalhes da decoração, queria tudo perfeito. Quando a Sra. William apareceu ao seu lado e lhe disse para ir se arrumar com as outras damas de honra, pois arranjaria alguém para cuidar disso. Karla subiu para o andar em que os homens se arrumavam e encontrou seu filho vestindo o terno, ele estava lindo. Ela beijou o rosto de Franz emocionada e o segurou entre as mãos. "Meu filho vai se casar" disse sorridente. Franz estava igualmente emocionado com as palavras da mãe. Ele iria se casar com a mulher que amava, estava ansioso por isso. O soltando, Karla se virou para os padrinhos. Aaron já estava perfeitamente arrumado, assim como Diego, mas não viu Sean de imediato. "Cadê seu primo?" ela questionou confusa. "Com a esposa dele: o trabalho. Ligaram para que resolvesse algum problema da filial de Londres, ele está no telefone já tem meia hora" Diego respondeu, ajeitando a gravata no espelho. Só então os olhos de Karla avistaram a figura de Sean, ainda com o traje esportivo que usou para correr mais cedo, na sacada falando ao telefone. Ele andava de um lado para o outro, passava a mão pelo cabelo, enquanto falava. Ela fez uma careta, mas entendia. Com grandes poderes vinham grandes responsabilidades, e sua posição na família vinha com o dever de zelar por todo aquele império. Joseph era assim também. Quando se casou com ele, Karla precisou aprender a dividir o marido com a empresa, pois sempre tinha alguém ligando. Sean encerrou a chamada e voltou para o quarto, ainda precisava tomar um banho e se trocar. "Querido, precisa se arrumar" a tia disse. "Eu tenho que me apressar, ainda preciso resolver um problema no salão" ela ia saindo quando o loiro a chamou "Que problema, tia? Diego cuidou pessoalmente da equipe". Aquele era um dos hotéis recém-inaugurados pelo Grupo Thronike. Ele não queria problemas com um grande evento, ainda mais sendo um evento familiar. "Sim, usei a lista de fornecedores que Julie me passou e instrui a equipe" Diego reafirmou. Ele ainda estava se habituando as rotinas administrativas, mas lembrava de ter acompanhado os processos referentes ao casamento. "Bem, entendo, é que houve algum problema..." ela foi interrompida quando o sobrinho estendeu a mão. Sean suspirou e balançou a cabeça em negativa. Talvez fosse por isso que seu pai e os tios não haviam saído da Europa, administrar à distância era complicado, não conseguiram se fazer tão presentes. Eram muitas horas de vôo, e a maior parte dos funcionários não os conhecia. "Eu vou resolver isso, fique tranquila, tia". Karla franziu o cenho. "Mas e a cerimônia? Precisa se arrumar". "Preciso garantir que tenha festa. Estarei pronto para meu discurso de padrinho" respondeu, e passou por Franz dando dois tapinhas em seu ombro.